SAÚDE

Estresse e vontade de comer comida trash: o que a ciência diz

Pesquisa australiana revela como a combinação entre dieta calórica e estresse afeta o controle do apetite

Sistema de recompensa do cérebro é responsável pela intensa saciez.Créditos: Leonardo Luz/Pexels/Pexels
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Um comportamento muito comum é sentir vontade de comer quando se está bastante estressado. Para saciar essa vontade, entram, na maioria das vezes, as chamadas comidas calóricas, como doces, chocolates, salgadinhos, hambúrgueres, batatas fritas, entre outras. 

O fato de comer estar intimamente ligado ao estado emocional e à busca por conforto é amplamente aceito, porém vale lembrar que essa pode não ser a única explicação para a ligação entre o estresse e a vontade de ingerir comidas trash.

Cientistas da divisão de Neurociências do Instituto de Pesquisa Médica Garvan, na Austrália, descobriram um novo mecanismo cerebral que impede a sensação de satisfação completa quando se está sob estresse e seguindo uma dieta muito calórica.

De acordo com o professor Herbert Herzog, autor sênior do estudo e cientista do Instituto Garvan, as descobertas “revelam que o estresse pode anular uma resposta natural do cérebro responsável por diminuir o prazer obtido ao comer, o que significa que o cérebro é continuamente recompensado para comer”.

A pesquisa

Os pesquisadores investigaram como o cérebro de camundongos respondia ao estresse crônico quando submetidos a diferentes dietas. Eles descobriram que, ao alimentar animais estressados com alimentos calóricos, ocorriam alterações na habenula lateral, uma região do cérebro.

A região inibe a resposta de recompensa do cérebro aos estímulos, protegendo o indivíduo contra a ingestão excessiva de alimentos. Logo, assim que é ativada, a comida não induz mais tanto prazer e justifica por que a pessoa perde a vontade de continuar comendo.

O também autor do estudo e pesquisador do Instituto Garvan, Kenny Chi Kin Ip, esclarece que “no entanto, quando os camundongos estavam sob estresse crônico, essa parte do cérebro permanecia inativa, permitindo que os sinais de recompensa continuassem ativos e estimulassem a alimentação por prazer, sem responder aos sinais reguladores de saciedade”.

Visto que não se sentiam mais saciados, os animais continuavam a comer mais e mais. Produzida naturalmente pelo cérebro em resposta ao estresse, a molécula NPY estava no centro desse mecanismo. 

Os cientistas impediram o caminho que faz a NPY interferir nas células da habenula lateral, e assim, os camundongos estressados com uma dieta gordurosa passaram a consumir uma menor quantidade de alimentos.

Isso explica que a combinação do estresse com alimentos de teor calórico gera o silenciamento da habenula lateral e a consequente saciedade sem fim. Por isso, os pesquisadores ressaltam a importância das comidas saudáveis no processo, nos momentos de situações adversas.

"Essa pesquisa reforça o quanto o estresse pode comprometer o metabolismo energético saudável. É um lembrete para evitar um estilo de vida estressante e, especialmente, se você está lidando com estresse a longo prazo, tente manter uma dieta saudável e guardar os alimentos não saudáveis”

Herzog reafirma a importância do estudo para se atentar ao estilo de vida não saudável. "Essa pesquisa reforça o quanto o estresse pode comprometer o metabolismo energético saudável. É um lembrete para evitar um estilo de vida estressante e, especialmente, se você está lidando com estresse a longo prazo, tente manter uma dieta saudável e guardar os alimentos não saudáveis”, diz.

Com informações de O Globo