Acontecimentos recentes evidenciaram a importância da doação de órgãos. Seja o caso do apresentador Fausto Silva, com seu transplante de coração, ou do ex-BBB Marcos Hartes, à espera de uma cirurgia de transplante renal. Ambos os casos mostram como é importante a participação dos doadores.
Dados do Ministério da Saúde apontam que o transplante de rim é um dos mais requisitados no país, representando cerca de 70% dos órgãos transplantados, sendo que 90% são financiados integralmente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em números absolutos, o Brasil ocupa a terceira posição mundial entre os maiores transplantadores de rim.
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O médico urologista Heleno Diegues Paes explica que as maiores causas de falência renal no Brasil e no mundo são a hipertensão arterial e o diabetes mellitus, doenças crônicas altamente prevalentes.
“O estilo de vida e a alimentação, associados a uma predisposição individual, são fatores determinantes para a hipertensão arterial e o diabetes mellitus. Existem outras causas, mas pode considerar estas como as principais”, relata o médico.
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“Eu diria que o transplante renal é um tratamento complexo, multidisciplinar, realizado em pacientes graves, ou seja, tem tudo para dar errado, não é? Mas, ainda assim, é melhor do que a hemodiálise. Os pacientes transplantados têm maior sobrevida, melhor qualidade de vida e geram um menor custo de tratamento. A sobrevida de um rim de doador falecido é em média 10 anos, enquanto o de um doador vivo pode chegar até 20 anos”, conta o urologista.
Quando se fala em doação de órgãos surge logo a pergunta: Quem precisa de um novo órgão? Paes responde: “Toda pessoa que entra em um programa de diálise pode ser candidata a transplante renal. É necessário ter boa condição de saúde para suportar a cirurgia, não ter infecções ativas e possuir vasos sanguíneos e bexiga em boas condições para receber o novo órgão”, esclarece.
Já o processo de seleção do doador possui algumas etapas. O doador vivo precisa ter boa saúde, ter os dois rins normais e não apresentar doenças que possam comprometer futuramente o rim. Além de ter imunocompatibilidade com o receptor. Os candidatos à doação são apresentados ao médico nefrologista, que fará uma avaliação clínica e solicitará os exames necessários.
“Já o doador falecido, precisa estar comprovadamente em morte encefálica. A família precisará autorizar a doação dos órgãos. Então, o paciente é levado ao centro cirúrgico para a extração dos órgãos e condicionamento em solução de preservação. São realizados os testes de compatibilidade, e verificado qual o candidato da fila de espera será beneficiado com o transplante”, relata o médico.
Segundo o especialista, no caso do transplante intervivos, o processo é mais tranquilo, pois será uma cirurgia eletiva, com horário agendado. Já no caso do doador falecido, será uma cirurgia de urgência, não programada, onde o receptor é pego de surpresa. O paciente receptor é acionado para uma avaliação médica inicial, onde são realizados exames pré-operatórios. Tudo isso ocorre em poucas horas, buscando iniciar a cirurgia o quanto antes.
Depois da operação, o paciente ficará internado por cerca de sete dias ou mais, quando é iniciada a imunossupressão que será mantida por toda vida útil do novo órgão.
“A pessoa deverá evitar esforços por pelo menos três meses para impedir complicações da ferida operatória. Manter higiene e bons hábitos de cuidados pessoais ajudarão a minimizar o risco de infecções oportunistas”, orienta Paes.
O fato é que um transplante de rim requer muitos cuidados. Como em qualquer cirurgia, há o risco de complicações. Dentre as precoces, segundo o urologista, fístula ou vazamento urinário, sangramento, hérnias e problemas vasculares. As tardias são aquelas relacionadas à imunossupressão, como infecções, surgimento de tumores e rejeição crônica.
A pessoa transplantada terá de se enquadrar a uma rotina de consultas, nas quais serão realizados exames de sangue, controle de efeitos indesejados da imunossupressão e controle de doenças crônicas.
“É importante que este paciente tenha cuidado redobrado com a saúde, mantenha seu peso corporal ideal, pratique atividades físicas, faça uma dieta equilibrada e uma boa hidratação”, aconselha o médico.
Rim é o órgão sólido mais transplantado do país
Heleno Diegues Paes faz uma lista com cinco fatores que fazem com que o rim seja o órgão sólido mais transplantado do país. Além disso, faz uma observação a respeito das estatísticas.
1-Existe uma terapia capaz de manter as pessoas que precisam do órgão vivas por muito tempo, até que seja possível a realização do transplante: é a hemodiálise. Há centros de hemodiálise em quase todos os municípios de médio e grande porte do Brasil. Isto permite que haja um número crescente de pessoas na fila. Na falência de outros órgãos a pessoa acaba falecendo em pouco tempo.
2-O rim é um órgão que suporta um tempo maior de isquemia fria (tempo que fica resfriado no gelo até ser transplantado), permitindo a realização do transplante até 48 horas após sua captação. Isto permite o deslocamento do órgão por longas distâncias, o acionamento do receptor e algum preparo pré-operatório que se faça necessário. Os demais órgãos requerem transplante quase imediato após a captação, fazendo com que o receptor já esteja sendo preparado ao mesmo tempo que está sendo realizada a captação.
3-Tecnicamente, o transplante renal tem execução mais fácil e é realizado sistematicamente há mais tempo, fazendo com que existam mais equipes treinadas para esta cirurgia.
4-Existem poucos centros capazes de manter um candidato a transplante cardíaco, pulmonar ou hepático vivos até realização de um transplante, por exemplo. Esses pacientes precisam ser removidos para um centro de transplantes onde ficariam internados até receber o órgão.
5-Está estatística desconsidera o transplante de córnea, que é o mais realizado no Brasil. Como é um tecido que pode ser captado até 6 horas após a parada cardíaca e implantado no receptor em até 4 dias, a oferta de córnea acaba sendo muito ampla. Além de ser uma cirurgia tecnicamente mais rápida e de menor risco.
Atualmente, Heleno Paes atua como médico assistente em Uro-oncologia e Transplante Renal do Hospital Santa Marcelina, onde é preceptor do internato médico e da residência médica, além de ser professor. Também tem consultório em Santos, no litoral paulista.