Os líderes do governo Lula (PT) foram surpreendidos pelo presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), que, às 23h de terça-feira (24), usou as redes sociais para informar que pautaria o PDL que susta o decreto que aumenta o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Diante dessa situação, parlamentares ligados ao governo federal acusam Hugo Motta de quebrar uma série de acordos estabelecidos durante um jantar realizado há uma semana. Especificamente sobre a pauta do PDL, afirmam que havia sido combinado um prazo de duas semanas, o que também não foi cumprido por Motta.
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Ao tomar conhecimento de mais uma traição de Hugo Motta, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a defender o aumento do imposto sobre o IOF e afirmou que ele traz "justiça".
"O decreto do IOF corrige uma injustiça: combate a evasão de impostos dos mais ricos para equilibrar as contas públicas e garantir os direitos sociais dos trabalhadores", disparou Fernando Haddad.
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"Provocação infantil": Lindbergh reage ao conchavo de Motta e bolsonaristas sobre IOF
O governo Lula e o líder do PT na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias (PT-RJ), reagiram ao conchavo entre o presidente da casa legislativa, Hugo Motta (Republicanos-PB) e bancada comandada por Jair Bolsonaro (PL), que tenta derrubar a proposta de mudança nas alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
ENTENDA:
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Nas redes sociais, a ministra Gleisi Hoffmann, de Relações Institucionais, lembrou o diálogo do governo com o parlamento sobre o tema, que "traz ajustes necessários para a execução do Orçamento de acordo com o arcabouço fiscal aprovado pelo Congresso".
"Quando falam em aumento de imposto, é preciso lembrar que o IOF para cartões internacionais era de 6,38% em 2022 e está sendo fixado em 3,5% pelo decreto, depois de duas quedas consecutivas na alíquota. No diálogo com o Congresso, o governo retirou ajustes que incidiriam sobre outras operações. A derrubada dessa medida exigiria novos bloqueios e contingenciamentos no Orçamento, prejudicando programas sociais e investimentos importantes para o país, afetando inclusive a execução das emendas parlamentares", afirmou, focando no principal foco de chantagem dos deputados com o governo: a liberação das emendas parlamentares.
Já o líder do PT deu uma entrevista coletiva em que classifica como "provocação infantil" o acordo feito com o líder do Pl, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) - braço político de Silas Malafaia -, de colocar o bolsonarista Coronel Chrisóstomo (PL-RO) como relator do Projeto de Lei para sustar a mudança no IOF, que foi colocado por Motta na pauta de votação da Câmara nesta quarta-feira (25).
"Colocar o coronel Crisóstomo como relator parece uma provocação infantil", disse Lindbergh. "Eu falei de provocação infantil a nomeação do coronel Crisóstomo, significa dizer que não há negociação, que não há nenhum tipo de intermediação. Nós vamos votar o mérito já de forma muito clara, ele com a posição que todo mundo sabe aqui, que é pela derrubada integral do mérito", emendou mais adiante.
O líder do PT revelou ainda que a reunião para pautar o projeto aconteceu às 23h35 desta terça-feira (24) e o tema será votado em sessão virtual, sem o debate em plenário.
"Eu acho que é uma temeridade do presidente Hugo Mota pautar um tema de tamanha importância sem deputados aqui em Brasília", afirmou.
Lindbergh ainda falou que o conchavo entre Centrão e bolsonaristas para pressionar por mais cortes em projetos sociais é uma "marcação de posição contra o governo" e antecipa 2026.
"Essa marcação de posição contra o governo nesse momento, dessa forma, eu acho muito ruim. Como eu acho ruim a gente antecipar o debate de 2026. 2026 tem que ser tratado em 2026. Eu vejo que há alguns setores tentando atrapalhar, inviabilizar o governo do presidente Lula, porque os cortes vão ser grandes, em programas importantes", disse.
"Você acha que o presidente Lula fica feliz em cortar o Minha Casa Minha Vida, de cortar recursos da educação, da saúde num momento como esse? Então eu acho o seguinte, que não é correto tentar antecipar o calendário eleitoral, como impondo uma derrota ao governo e prejudicando todo o país, nós não vamos aceitar que tentem paralisar o governo do presidente Lula", emendou.
"Sangrar" Lula
Os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), deram início ao projeto do Centrão, aliado à chamada Terceira Via - que une ainda Faria Lima e mídia liberal -, para iniciar o "sangramento" de Lula para favorecer Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) na disputa presidencial em 2026.
A antecipação da disputa presidencial com pautas-bomba no Congresso é articulado pelo ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro (PL), o senador Ciro Nogueira, presidente nacional do PP, e por Antônio Rueda, que comanda o União Brasil.
As duas siglas se uniram em abril em uma federação em abril, que hoje conta com a maior bancada na Câmara, com 104 deputados, além de 14 senadores.
Nogueira e Rueda iniciaram um levante para cooptar quadros do centrão e a direita para antecipar as eleições e implodir a base do governo, que conta com partidos de centro, a partir do segundo semestre de 2026, antecipando em mais de um ano a disputa eleitoral.
Nesta terça-feira (24), os dois se reuniram com os presidentes do Republicanos, Marcos Pereira, e do MDB, Baleia Rossi, para articular a adesão das duas siglas, que têm cargos no governo Lula - o PP também comanda uma pasta, de Esportes, com André Fufuca (PP-MA).
“Em primeiro lugar, queremos alinhar os palanques estaduais para as eleições do próximo ano; em segundo, ter uma atuação conjunta no Congresso. Isso é importante para fazer uma frente desses quatro partidos", disse Nogueira à jornalista Vera Rosa, do Estadão, confirmando a articulação com o Congresso.
“O governador Tarcísio só vai ser candidato à sucessão de Lula se tiver o apoio do presidente Bolsonaro lá na frente. Agora, eu defendo que os nossos partidos escolham o mesmo nome para podermos estar juntos na campanha”, emendou Nogueira, ciente que Bolsonaro já desistiu da disputa em razão da inelegibilidade e iminente prisão.
Bolsonaro já tem procurado postulantes da direita como o próprio Tarcísio e Ronaldo Caiado (União-GO) para trocar o apoio da bancada e de sua base de votos pelo indulto a quem vença Lula e chegue ao Planalto. O ex-presidente também tem interesse em montar uma base forte no Senado para levar adiante o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) considerados inimigos pelo clã, como Alexandre de Moraes, Flávio Dino e Gilmar Mendes.
Pautas-bomba
Após a reunião, já no fim da noite, às 23h35, Hugo Motta foi às redes anunciar a pauta-bomba da sessão da Câmara nesta quarta-feira (25), que dá início ao "sangramento" de Lula.
Motta surpreendeu até deputados oposicionistas ao pautar, entre outros, o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que enterra definitivamente a proposta do governo de elevar o Imposto de Operações Financeiras, o IOF, para fazer o ajuste das contas públicas - como ele próprio e a terceira-via cobram na frente das câmeras.
A pauta ainda inclui o PL 2692/25, que isenta do Imposto de Renda quem ganha até dois salários mínimos - na prática adiando a proposta do governo de isentar àqueles que ganham até R$ 5 mil, que está sendo relatada por Arthur Lira (PP-AL) em Comissão Especial.
Além disso, Motta sinaliza à indústria do petróleo com a "MP 1291 que autoriza uso de até R$ 15 bi/ano do Fundo Social para habitação popular e permite ao governo leiloar óleo e gás excedente, com potencial de arrecadar até R$ 20 bi" e a Faria Lima, com a "MP 1292 que permite a contratação de crédito consignado por trabalhadores do setor privado".
O início da pressão sobre o governo Lula foi comemorado pelo Líder do PP na Câmara, sinalizando o conchavo do Centrão. "O Presidente da Câmara dos Deputados Hugo Motta tem a prerrogativa de estabelecer a pauta da Câmara e o Plenário soberano e democrático de votar as matérias conforme o sentimento da população Brasileira. Vamos ao voto", publicou no X já na madrugada desta quarta-feira, às 1h05.