O governo Lula e o líder do PT na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias (PT-RJ), reagiram ao conchavo entre o presidente da casa legislativa, Hugo Motta (Republicanos-PB) e bancada comandada por Jair Bolsonaro (PL), que tenta derrubar a proposta de mudança nas alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
ENTENDA:
Motta e Alcolumbre pautam Congresso para dar início ao "sangramento" de Lula em prol de Tarcísio
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Nas redes sociais, a ministra Gleisi Hoffmann, de Relações Institucionais, lembrou o diálogo do governo com o parlamento sobre o tema, que "traz ajustes necessários para a execução do Orçamento de acordo com o arcabouço fiscal aprovado pelo Congresso".
"Quando falam em aumento de imposto, é preciso lembrar que o IOF para cartões internacionais era de 6,38% em 2022 e está sendo fixado em 3,5% pelo decreto, depois de duas quedas consecutivas na alíquota. No diálogo com o Congresso, o governo retirou ajustes que incidiriam sobre outras operações. A derrubada dessa medida exigiria novos bloqueios e contingenciamentos no Orçamento, prejudicando programas sociais e investimentos importantes para o país, afetando inclusive a execução das emendas parlamentares", afirmou, focando no principal foco de chantagem dos deputados com o governo: a liberação das emendas parlamentares.
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Já o líder do PT deu uma entrevista coletiva em que classifica como "provocação infantil" o acordo feito com o líder do Pl, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) - braço político de Silas Malafaia -, de colocar o bolsonarista Coronel Chrisóstomo (PL-RO) como relator do Projeto de Lei para sustar a mudança no IOF, que foi colocado por Motta na pauta de votação da Câmara nesta quarta-feira (25).
"Colocar o coronel Crisóstomo como relator parece uma provocação infantil", disse Lindbergh. "Eu falei de provocação infantil a nomeação do coronel Crisóstomo, significa dizer que não há negociação, que não há nenhum tipo de intermediação. Nós vamos votar o mérito já de forma muito clara, ele com a posição que todo mundo sabe aqui, que é pela derrubada integral do mérito", emendou mais adiante.
O líder do PT revelou ainda que a reunião para pautar o projeto aconteceu às 23h35 desta terça-feira (24) e o tema será votado em sessão virtual, sem o debate em plenário.
"Eu acho que é uma temeridade do presidente Hugo Mota pautar um tema de tamanha importância sem deputados aqui em Brasília", afirmou.
Lindbergh ainda falou que o conchavo entre Centrão e bolsonaristas para pressionar por mais cortes em projetos sociais é uma "marcação de posição contra o governo" e antecipa 2026.
"Essa marcação de posição contra o governo nesse momento, dessa forma, eu acho muito ruim. Como eu acho ruim a gente antecipar o debate de 2026. 2026 tem que ser tratado em 2026. Eu vejo que há alguns setores tentando atrapalhar, inviabilizar o governo do presidente Lula, porque os cortes vão ser grandes, em programas importantes", disse.
"Você acha que o presidente Lula fica feliz em cortar o Minha Casa Minha Vida, de cortar recursos da educação, da saúde num momento como esse? Então eu acho o seguinte, que não é correto tentar antecipar o calendário eleitoral, como impondo uma derrota ao governo e prejudicando todo o país, nós não vamos aceitar que tentem paralisar o governo do presidente Lula", emendou.
"Sangrar" Lula
Os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), deram início ao projeto do Centrão, aliado à chamada Terceira Via - que une ainda Faria Lima e mídia liberal -, para iniciar o "sangramento" de Lula para favorecer Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) na disputa presidencial em 2026.
A antecipação da disputa presidencial com pautas-bomba no Congresso é articulado pelo ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro (PL), o senador Ciro Nogueira, presidente nacional do PP, e por Antônio Rueda, que comanda o União Brasil.
As duas siglas se uniram em abril em uma federação em abril, que hoje conta com a maior bancada na Câmara, com 104 deputados, além de 14 senadores.
Nogueira e Rueda iniciaram um levante para cooptar quadros do centrão e a direita para antecipar as eleições e implodir a base do governo, que conta com partidos de centro, a partir do segundo semestre de 2026, antecipando em mais de um ano a disputa eleitoral.
Nesta terça-feira (24), os dois se reuniram com os presidentes do Republicanos, Marcos Pereira, e do MDB, Baleia Rossi, para articular a adesão das duas siglas, que têm cargos no governo Lula - o PP também comanda uma pasta, de Esportes, com André Fufuca (PP-MA).
“Em primeiro lugar, queremos alinhar os palanques estaduais para as eleições do próximo ano; em segundo, ter uma atuação conjunta no Congresso. Isso é importante para fazer uma frente desses quatro partidos", disse Nogueira à jornalista Vera Rosa, do Estadão, confirmando a articulação com o Congresso.
“O governador Tarcísio só vai ser candidato à sucessão de Lula se tiver o apoio do presidente Bolsonaro lá na frente. Agora, eu defendo que os nossos partidos escolham o mesmo nome para podermos estar juntos na campanha”, emendou Nogueira, ciente que Bolsonaro já desistiu da disputa em razão da inelegibilidade e iminente prisão.
Bolsonaro já tem procurado postulantes da direita como o próprio Tarcísio e Ronaldo Caiado (União-GO) para trocar o apoio da bancada e de sua base de votos pelo indulto a quem vença Lula e chegue ao Planalto. O ex-presidente também tem interesse em montar uma base forte no Senado para levar adiante o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) considerados inimigos pelo clã, como Alexandre de Moraes, Flávio Dino e Gilmar Mendes.
Pautas-bomba
Após a reunião, já no fim da noite, às 23h35, Hugo Motta foi às redes anunciar a pauta-bomba da sessão da Câmara nesta quarta-feira (25), que dá início ao "sangramento" de Lula.
Motta surpreendeu até deputados oposicionistas ao pautar, entre outros, o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que enterra definitivamente a proposta do governo de elevar o Imposto de Operações Financeiras, o IOF, para fazer o ajuste das contas públicas - como ele próprio e a terceira-via cobram na frente das câmeras.
A pauta ainda inclui o PL 2692/25, que isenta do Imposto de Renda quem ganha até dois salários mínimos - na prática adiando a proposta do governo de isentar àqueles que ganham até R$ 5 mil, que está sendo relatada por Arthur Lira (PP-AL) em Comissão Especial.
Além disso, Motta sinaliza à indústria do petróleo com a "MP 1291 que autoriza uso de até R$ 15 bi/ano do Fundo Social para habitação popular e permite ao governo leiloar óleo e gás excedente, com potencial de arrecadar até R$ 20 bi" e a Faria Lima, com a "MP 1292 que permite a contratação de crédito consignado por trabalhadores do setor privado".
O início da pressão sobre o governo Lula foi comemorado pelo Líder do PP na Câmara, sinalizando o conchavo do Centrão. "O Presidente da Câmara dos Deputados Hugo Motta tem a prerrogativa de estabelecer a pauta da Câmara e o Plenário soberano e democrático de votar as matérias conforme o sentimento da população Brasileira. Vamos ao voto", publicou no X já na madrugada desta quarta-feira, às 1h05.