A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro se tornou uma das figuras mais estratégicas do Partido Liberal (PL) desde que assumiu, em março de 2023, a presidência do PL Mulher. Indicada diretamente pelo presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, ela recebeu um orçamento robusto de R$ 860 mil por mês, valor que tem gerado desconforto e críticas dentro da própria legenda.
Segundo reportagem da Folha publicada nesta sexta-feira (20), o investimento pesado na ex-primeira-dama contrasta com o tratamento dado a outros nomes do partido, incluindo o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que, segundo relatos internos, não contou com o mesmo nível de apoio financeiro da direção nacional.
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Crescimento e projeto de poder
Com essa estrutura, o PL Mulher apresentou crescimento expressivo. Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que o número de filiadas aumentou 14% entre 2023 e 2024, chegando a 995 mandatárias — mulheres que ocupam cargos eletivos.
Nos bastidores, a avaliação é que Valdemar Costa Neto viu em Michelle uma figura carismática, de apelo popular, mas considerada politicamente inexperiente e, portanto, mais facilmente controlável. A estratégia seria fortalecer seu nome como um dos principais ativos eleitorais do PL, especialmente no cenário em que Jair Bolsonaro está inelegível.
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Potencial eleitoral e resistência interna
Pesquisas recentes do Datafolha colocam Michelle como a principal adversária de Luiz Inácio Lula da Silva em uma eventual disputa presidencial. Ela aparece com 26% das intenções de voto, enquanto Lula lidera com 37%. No cenário de segundo turno, ela perderia por uma margem apertada — 46% a 42%.
Apesar desse desempenho, Michelle enfrenta resistência dentro do próprio bolsonarismo. Uma troca de mensagens divulgada em maio pelo UOL revelou críticas do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e do assessor Fabio Wajngarten. Cid chegou a ironizar que preferiria votar em Lula, enquanto Wajngarten declarou não apoiar Michelle, reforçando que nem os filhos de Bolsonaro estariam alinhados ao seu projeto.
Perfil discreto, mas com influência crescente
Durante o período como primeira-dama, Michelle se destacou por ações voltadas às pessoas com deficiência, lançando programas como Projeto Sinais e LibrasGov, além de fazer pronunciamentos em língua de sinais. Evangélica e com forte ligação com lideranças religiosas, ela sempre evitou exposição à imprensa, mantendo um perfil discreto.
Inexperiência e dificuldades internas
Apesar do crescimento na popularidade, aliados descrevem Michelle como alguém de temperamento difícil e pouco disposta a ser contrariada, o que, segundo integrantes do PL, é incompatível com a dinâmica da vida pública e com as negociações políticas. Para parte da base, o alto investimento financeiro no PL Mulher e na construção de sua imagem política está diretamente relacionado ao desejo de Valdemar de moldar uma candidatura que lhe garanta influência e controle dentro do partido.
Até o momento, Michelle não comentou publicamente as críticas nem os planos eleitorais para 2026.
Com informações da Folha