MÍDIA E FASCISMO

Eduardo Bolsonaro vira novo "Caçador de Marajás" na capa da Veja: "protagonista de um novo ciclo"

Fundada em 1968 com dinheiro da propaganda dos EUA para dar suporte à Ditadura, Veja lança Eduardo Bolsonaro como anti-Lula em uma reedição de capas memoráveis com Collor, José Serra, Aécio Neves e Sergio Moro.

Eduardo Bolsonaro e a coleção de capa de presidenciáveis da Veja.Créditos: Reprodução
Escrito en POLÍTICA el

Fundada em 1968, com financiamento do grupo Time Life - que custeava a máquina de propagada dos EUA na Guerra Fria -, para dar suporte à Ditadura Militar, a revista Veja quer transformar Eduardo Bolsonaro (PL-SP) em seu novo "Caçador de Marajás".

O termo foi usado na capa da edição da publicação em março de 1988 em campanha explícita pra Fernando Collor de Mello (Sem partido), condenado e preso por corrupção, na disputa que contou ainda com a Globo, em uma edição canalha do debate no Jornal Nacional às vésperas da eleição, para derrotar Lula.

Depois de Collor, Veja já fez campanha com capas destacando José Serra (PSDB), Aécio Neves (PSDB) e, mais recentemente, Sergio Moro (União-PR), em disputas contra os "comunistas" da esquerda, termo que ajudou a distorcer e propagar durante a Guerra Fria.

Nesta sexta-feira (30) foi a vez da publicação alçar ao posto o filho "03" de Jair Bolsonaro (PL) como "protagonista de um novo ciclo", em um texto recheado de expressões eleitoreiras e, obviamente, com a defesa explícita da espoliação do país pela economia neoliberal - razão da Veja ainda existir.

"A entrevista também revelou um Eduardo mais calculista. Mesmo mantendo o tom confrontador, o deputado parece mirar num papel maior do que o de provocador de redes. Em vários momentos, buscou mostrar-se como uma figura preparada para liderar, não apenas para polemizar. O deputado pretende ser protagonista de um novo ciclo. Um ciclo em que, segundo ele próprio, será necessário para 'resgatar o espírito de 2018, sem cometer os erros de 2022'”, diz a Veja, em apresentação desavergonhada do deputado, que abandonou o mandato para conspirar contra o país nos EUA menos de três anos após o pai tentar um golpe de Estado no Brasil.

A entrevista "exclusiva" foi feita em um escritório de advocacia em Dallas onde, segundo a Veja, Eduardo "tem vivido os últimos meses — longe do Congresso Nacional, mas no centro de articulações políticas e diplomáticas que acendem alertas em Brasília".

Em jogadas ensaiadas com o entrevistador - Maurício Lima -, Eduardo se coloca de forma polida, muito distante do estilo truculento e desbocado ecoado de seu pai nas redes sociais, mira especialmente em Alexandre de Moraes, considerado o algoz no clã no Supremo Tribunal Federal (STF), e se coloca, ao mesmo tempo, como vítima do "regime de exceção" e "feliz" por figurar entre as escolhas do pai para a "missão" do pai de sucedê-lo em 2026.

"Obviamente, se for uma missão dada pelo meu pai, vou cumprir. Inclusive meu nome já figurou em algumas pesquisas, né? Fiquei feliz", respondeu, delicadamente, ao ser indagado se "pensa em ser candidato a presidente da República".

Na sequência, a Veja então levanta a bola para Eduardo adular os neoliberais ao ser perguntado sobre "sua visão econômica sobre o Brasil".

"Seria muito daquilo do que foi praticado por Bolsonaro e Paulo Guedes. Eu sou um fã do discurso do Paulo Guedes, quando ele fala em mais Brasil, menos Brasília", diz, sobre o "super" ministro da Economia escalado pela mídia liberal e o sistema financeiro para colocar rédeas e dar aval Bolsonaro - um ignorante confesso em economia - nas eleições de 2018.

"Significa menos poder concentrado na elite burocrática de Brasília e mais poder e dinheiro no bolso do trabalhador. Menos impostos, menos burocracias. Também buscaria investimentos internacionais, criando um ambiente de segurança jurídica, onde o investidor realmente possa vir ao Brasil e aplicar o seu dinheiro. O governo precisa trabalhar para deixar mais confortável a vida de quem quer empreender e de quem quer trabalhar. É copiar o modelo de sucesso americano", emenda, em fala recheada de chavões, para adular o sistema financeiro - justamente onde se concentra a "elite burocrática" do Brasil.

Indagado sobre "quem seria seu ministro da Economia", Eduardo aproveitou para alfinetar Fernando Haddad, atual titular da Fazenda, e acenar novamente aos banqueiros. 

"Certamente não seria alguém da linha do Fernando Had­dad. A gente já viu que, quanto maior o Estado, mais margem há para a corrupção, mais ineficiência. Escolheria alguém da linha de pensamento mais liberal".

Indagado sobre Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro e principal aposta da terceira via e do movimento da "direita sem Bolsonaro", Eduardo desdenhou e mandou o recado ao governador paulista.

"O Tarcísio é um excelente gestor. Mas ele tem dito que o objetivo dele é a reeleição ao governo de São Paulo. Foi um excelente ministro da Infraestrutura. Mas eu não sou dono da vontade de Jair Bolsonaro. Quem vai dizer o candidato hoje é ele", disse repetindo o palpite sobre outra solução caseira, a madrasta Michelle Bolsonaro.

"A Michelle tem uma rejeição muito baixa, um discurso muito próximo das pessoas evangélicas e da pauta das mulheres. Mas é o Jair Bolsonaro, na verdade, quem vai decidir".

Alinhamento da campanha

Eduardo ainda é convidado a explorar outros temas que causam impacto no eleitorado, especialmente na burguesia e na hora de radicais, como a segurança pública, prometendo uma "bukelização" do país, em relação à política de encarceramenteo em massa no regime de El Salvador, submisso aos desejos de Donald Trump.

"O presidente Nayib Bukele enfrentou o problema principal, que era o desencarceramento. A atuação dele ao prender os criminosos foi sensacional. É por isso que não tem mais crime por lá. É por isso que a sociedade colocou Bukele com cerca de 90% de aprovação. E é isso daí que eu acho que seria o ideal da gente fazer no Brasil", afirmou, ressaltando que "pode haver algum inocente que seja preso", pois "não existe sistema perfeito".

Em seguida, em tom mais brando, Eduardo voltou a atacar o sistema eleitoral, dizendo "ter dúvidas" sobre o resultado em 2022, que deu a vitória a Lula sobre Bolsonaro.

"Tenho dúvidas. Muito foi propagandeado que o sistema é inviolável, mas o próprio TSE reconhece que houve uma invasão em 2018. Por mais que o Alexandre de Moraes tenha transformado esse inquérito em sigiloso, a PF abriu o inquérito a mando da (então) presidente Rosa Weber do TSE. Em virtude disso tudo, o cidadão é merecedor de ter uma transparência maior. O voto impresso nunca foi uma pauta da direita ou da esquerda", afirmou, repetindo de forma branda os argumentos que levaram o pai a se tornar inelegível.

Sobre a pauta antivacina, levado a cabo pelo pai durante a pandemia da Covid que matou mais de 700 mil brasileiros, Eduardo disse que se "arrependeu" de ter tomado o medicamento, dando a entender que teria provocado a doença.

"Tomei [vacina] e me arrependi. Duas, três semanas depois, peguei a covid", afirmou ao ser indagado sobre o tema, desviando o assunto para os "acertos" do pai no governo, como "levar água ao Nordeste", plano centenário do Estado brasileiro, e o "Auxílio Brasil", que foi imposto pelo Congresso Nacional.

Eduardo ainda conta como "se descobriu de direita" em uma defesa da "meritocracia", sendo que seu único trabalho em empresa privada foi como chapeiro de uma rede de fast-food dos EUA. Depois disso, atuou pouco tempo como escrivão da PF e seguiu o caminho da política eleitoral do pai.

"Foi quando eu saí da Universidade Federal do Rio de Janeiro e comecei a ter relação com o mundo real. Quando eu comecei a trabalhar, pagar minhas próprias contas, aí você percebe que no mundo, na verdade, você é que tem que correr atrás do seu próprio sucesso. Ninguém vai fazer por você. Eu sou de direita porque eu quero que o pobre tenha emprego e renda, porque esse é o melhor programa social", alegou o deputado, que se sustenta nos EUA com a ajuda do dinheiro público recebido pelo pai e por verbas que recebeu - ou ainda recebe - do Congresso Nacional.

A Veja ainda levanta a bola ao final da entrevista para Eduardo se explicar sobre "um cabo e um soldado para fechar o STF" e proferir ataques a Alexandre de Moraes ao ser perguntado se acha que "seu pai vai ser preso".

"Eu acho que a gente vai conseguir reverter a tempo esse julgamento de cartas marcadas. A gente vai conseguir segurar o ímpeto do Alexandre de Moraes. Mas, se ele optar por esse caminho radical de prender uma pessoa inocente, uma pessoa que não roubou o dinheiro público, uma pessoa que continua tendo a sua vida nos mesmos padrões de sempre, então, a gente aqui nos Estados Unidos vai fazer de tudo possível para acionar as alavancas do governo para que as autoridades americanas, se assim entenderem, sancionem ao máximo o Moraes e as pessoas financeiramente ligadas a ele", respondeu, em nova ameaça aos brasileiros.
 

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar