DESESPERO

VÍDEO: Eduardo Bolsonaro reage com chilique após matéria sobre sua atuação nos EUA

O deputado federal, atualmente licenciado do cargo, se revoltou com uma reportagem que debochou de sua atuação nos Estados Unidos

VÍDEO: Eduardo Bolsonaro reage com chilique após matéria sobre sua atuação nos EUA.Créditos: Reprodução redes sociais
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O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está licenciado e vivendo nos EUA, deu um chilique nas redes após tomar conhecimento de uma análise da jornalista Ana Flor, da GloboNews, sobre sua atuação em território estadunidense — atuação que, inclusive, se tornou alvo de uma ação da Procuradoria-Geral da República (PGR), que o acusa de atentar contra a soberania do Brasil.

Ao comentar a acusação da PGR, Ana Flor ironizou a relevância do deputado: "Isso [a acusação] dá uma importância para o Eduardo Bolsonaro que ele não tem. Ele saiu do Brasil, ele é um deputado licenciado e vai para os Estados Unidos para tentar se promover."

Em resposta, Eduardo Bolsonaro distorceu o contexto da análise da jornalista e tentou se atribuir uma importância que, como ela mesma pontuou, ele não tem. Para isso, partiu novamente para o ataque à imprensa — uma prática já recorrente.

"[...] Apenas te alertar para o seguinte: jornalismo se faz com boas fontes. Então, o que você deve fazer, ou não sei se isso vem da sua própria consciência, e aí vale uma auto-reflexão", declarou Eduardo Bolsonaro, em uma tentativa desesperada de justificar sua permanência nos EUA. 

Eduardo Bolsonaro recua e diz não ter como cumprir ameaças
 

Em vídeo divulgado nas redes sociais na noite desta terça-feira (27), após admitir que a instauração do inquérito sobre conspiração pode levar o pai, Jair Bolsonaro (PL) à prisão preventiva, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) recuou e disse que não tem como cumprir as próprias ameaças, que prevê uma série de sanções do governo Donald Trump a autoridades brasileiras.

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No vídeo, Eduardo compara seu caso ao de "um bandido chega e toca na porta do teu carro e fala, ó, passa o carro senão eu vou dar um tiro e mostra uma arma". "Ele tá mostrando que ele pode cumprir aquela ameaça dele".

Em seguida, o deputado licenciado recua sobre as ameaças reiteradas por ele sobre a articulação para sancionar o ministro Alexandre de Moraes, além de outros ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), familiares, juízes auxiliares e até mesmo o Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, e o delegado da Polícia Federal, Fábio Shor, responsável pelo inquérito da intentona golpista.

"Como é que eu vou cumprir uma ameaça se eu não sou o dono da caneta? Se não sou eu que sanciono? Eu não tenho instrumento para cumprir ameaça absolutamente nenhuma, até porque eu não estou ameaçando nada", diz, contrariando a série de publicações nas redes, que será anexada à investigação.

O vídeo gerou reação dos seguidores, que questionaram a covardia de Eduardo diante da investigação. "Tá com medo agora? Vc não era o machão? Agora aguenta", comentou um internauta.

Medidas sem efeito

Entre aliados próximos do clã Bolsonaro no Congresso Nacional, a avaliação é que mesmo que as ameaças de Eduardo sejam concretizados e o governo Trump imponha sanções a Moraes, o cenário deve permanecer inalterado.

Moraes já teria mostrado que não se intimidou com uma possível sanção e, segundo esses aliados do clã, na prática a punição não teria qualquer efeito prático.

"Suspender o visto de Alexandre de Moraes e seus cartões de crédito consistem num pequeno arranhão num gigante. Essas medidas não terão qualquer efeito sobre a atuação do ministro", disse, sem se identificar, "um aliado de primeira hora da família Bolsonaro" à Bela Megale, no jornal O Globo.

Os aliados têm dúvidas até mesmo se o governo Trump levará a cabo as sanções, visto que pode criar uma crise diplomática sem precedentes entre as duas nações.

As possíveis sanções também não devem alterar a inelegibilidade e até mesmo acelerar uma possível prisão de Jair Bolsonaro, que já fala em soluções caseiras para substitui-lo em 2026.

O ex-presidente chegou a citar a esposa, Michelle Bolsonaro, e o filho, Eduardo, e deu início a um novo embate dentro da família. 

Bens bloqueados

Bolsonaro pode não apenas ser preso, como também ter seus bens bloqueados, em decorrência direta do suposto financiamento da estadia de seu filho Eduardo nos EUA. 

O deputado licenciado é investigado por conspirar com autoridades norte-americanas contra ministros do Supremo e o ex-presidente já admitiu publicamente que é ele quem banca as despesas do filho no exterior.

Essa ligação direta levou a Procuradoria-Geral da República (PGR) a pedir a oitiva de Bolsonaro à Polícia Federal (PF), apontando também a possibilidade de medidas cautelares – como o bloqueio de bens. A abertura do inquérito contra Eduardo foi autorizada por Alexandre de Moraes na última segunda-feira (26).

Em entrevistas e declarações públicas, o ex-presidente afirmou que Eduardo Bolsonaro está “sem salário” e que sua estadia nos EUA está sendo custeada com os R$ 17,2 milhões que arrecadou com doações via Pix feitas por apoiadores em 2023. Segundo Bolsonaro, “se não fosse o Pix, eu não teria como bancar essa despesa, ele está fazendo o seu trabalho de interlocução com autoridades no exterior”.

A “interlocução” citada tem como alvo o STF, a PGR, a Polícia Federal e qualquer outro agente, autoridade ou instituição que denuncie a trama golpista. De acordo com a decisão de Moraes e com o pedido da PGR, Eduardo Bolsonaro busca pressionar o governo dos Estados Unidos para impor sanções contra autoridades brasileiras — como cassação de vistos, bloqueio de bens e restrições comerciais – em retaliação às investigações que atingem seu pai e seus aliados.

Na prática, Bolsonaro estaria financiando uma operação internacional com o objetivo de obstruir a Justiça e ameaçar instituições brasileiras. Isso levanta a possibilidade de que o próprio ex-presidente possa responder por coautoria ou participação nos crimes atribuídos ao filho.

Gonet aponta possível bloqueio de bens

No pedido enviado ao STF, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, menciona explicitamente que Jair Bolsonaro declarou ser o financiador da estadia de Eduardo. Gonet destaca que o ex-presidente é “diretamente beneficiado pela conduta descrita” e que sua oitiva é necessária. Mais adiante, o procurador deixa em aberto a adoção de novas medidas, afirmando:

“Sem embargo de outras, até de índole cautelar, que o desenvolvimento dos acontecimentos possa recomendar.”

Nos bastidores do Supremo, essa expressão é interpretada como uma indicação clara de que medidas como o bloqueio de bens do ex-presidente podem ser decretadas caso se confirme que os recursos doados a ele via Pix estão sendo usados para financiar ações golpistas.

Bolsonaro pode ser preso no depoimento?

Bolsonaro foi intimado por Alexandre de Moraes a prestar depoimento à PF no prazo de 10 dias, que começou a contar nesta terça-feira (27). A forma como ele responderá às perguntas – ou mesmo se comparecerá – pode ser decisiva para determinar os próximos passos do Supremo.

Ainda que, neste momento, ele esteja sendo ouvido apenas como declarante, as hipóteses legais para a decretação de prisão preventiva já são discutidas por ministros e juristas. Especialmente se Bolsonaro usar o depoimento para mentir, omitir fatos relevantes ou demonstrar que participou ativamente da tentativa de interferência internacional.

A seguir, os principais cenários que podem justificar uma ordem de prisão preventiva:

  • Obstrução de Justiça: se o depoimento ou outras provas indicarem que Bolsonaro participou de forma ativa, ou mesmo indiretamente, na articulação de Eduardo Bolsonaro para pressionar autoridades do STF e da PF, ele pode ser enquadrado por obstrução. Isso está previsto no art. 312 do Código de Processo Penal.
  • Mentira ou omissão relevante no depoimento: como investigado, Bolsonaro pode optar pelo silêncio. No entanto, se mentir de forma deliberada e os dados forem confrontados com outras provas, isso pode ser interpretado como tentativa de atrapalhar a investigação.
  • Incitação ou tolerância a ameaças: as falas recentes de Eduardo Bolsonaro, que ameaçou agentes da PF dizendo que “entrarão na mira dos norte-americanos”, podem ser imputadas ao pai caso se prove que houve conivência ou incentivo velado. A tolerância com esse tipo de discurso pode justificar uma medida de prisão.
  • Reiteração de conduta antidemocrática: Bolsonaro já é réu por tentativa de golpe de Estado no Supremo. Se a nova investigação for considerada uma continuação de sua ofensiva contra o Estado democrático, o risco de reincidência se soma à justificativa para medidas preventivas.
  • Desrespeito à ordem judicial: caso Bolsonaro se recuse a comparecer à PF ou desrespeite os prazos impostos, isso pode motivar uma ordem de prisão com base na necessidade de assegurar a aplicação da lei.

Cerco se fecha

As revelações sobre o financiamento a Eduardo Bolsonaro no exterior, aliadas ao agravamento das tensões institucionais, colocam Jair Bolsonaro em uma posição jurídica cada vez mais delicada. O ex-presidente está no centro de uma nova crise institucional, apontado como patrocinador de uma tentativa internacional de coação contra autoridades brasileiras.

Se confirmadas as suspeitas de que os recursos arrecadados por meio de Pix estão sendo usados para alimentar ataques à democracia, Bolsonaro poderá enfrentar não apenas o avanço de novos inquéritos, mas também sanções diretas: o congelamento de seus bens e, em último caso, a prisão preventiva. O depoimento que prestará à Polícia Federal nos próximos dias será determinante para definir o rumo desse processo.

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