O Fórum Onze e Meia desta sexta-feira (16) recebeu o ex-prefeito de Araraquara (SP) e candidato à presidência nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), Edinho Silva. Ele falou sobre a sua candidatura e os principais desafios do partido para os próximos anos. Em sua visão, os focos do PT devem ser a reeleição de Lula em 2026 assim como uma organização sólida do partido para a era pós-Lula, a derrota do fascismo e a reinvenção do partido para estabelecer novos diálogos e formas de mobilização.
"O Partido dos Trabalhadores que vai sair desse processo de eleição direta é um partido que tem a missão de derrotar o fascismo, de garantir como medida para a derrota do fascismo a reeleição do presidente Lula e o mais importante: é o partido que vai ter que se organizar pro pós-Lula, quando o presidente Lula não estiver mais nas urnas disputando as eleições", defendeu Edinho.
Para ele, esse último desafio vai exigir que o PT seja um partido "mais organizado do que ele é hoje, que ele seja mais estruturado do que ele é hoje, que as nossas instâncias partidárias funcionem mais do que funcionam hoje e mais: que tenha uma agenda que dialogue com a sociedade do século XXI", afirma. Edinho destaca que o partido deve entender que hoje é preciso enfrentar uma "quadra histórica" que coloca a derrota do fascismo no Brasil como um desafio.
Em relação à reeleição de Lula em 2026, Edinho diz que isso significa "a manutenção do nosso projeto de desenvolvimento econômico e social para o Brasil que nós retomamos de 2023 para cá com muitas dificuldades".
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"O presidente Lula pegou um país literalmente quebrado e as políticas públicas totalmente desorganizadas. E o governo presidente Lula tem reorganizado as instâncias de governo para que a gente possa retomar a nossa iniciativa governamental, que a gente possa melhorar a nossa capacidade de entrega de políticas públicas para a sociedade brasileira", afirma Edinho. "Reeleger o presidente Lula significa nós darmos continuidade a essa reorganização das políticas públicas de construção de um projeto pro país que seja um projeto de crescimento econômico, sim, mas com justiça social, com construção de igualdade de oportunidades, um país mais justo e mais humano", acrescenta.
O desafio de derrotar o fascismo
Um dos pontos destacados por Edinho como principais na disputa política do país é a derrota do fascismo. Ele diz que se a democracia representativa vive uma crise maior do que nunca, é preciso fortalecer o próprio conceito de democracia. "Na minha avaliação, o grande confronto do próximo período histórico é o confronto entre fascismo e democracia. Então, nós temos que identificar para a sociedade a importância da democracia, o peso da democracia", avalia Edinho.
Para ele, diante disso, o orçamento participativo se torna "fundamental". Ele é fundamental para que a gente materialize, no dia a dia das nossas comunidades, a importância da democracia. Ou seja, se a população vota, escolhe uma prioridade e se essa prioridade é cumprida pelo orçamento, isso é construção da democracia. A participação nos conselhos populares, a a fiscalização das políticas públicas por meio dos conselhos populares, isso também é democracia", afirma.
"Assim será meu mandato", garante. "Muito presente nos estados, muito presente nas comunidades para que a gente possa ouvir, entender a complexidade que é o Brasil, a nossa diversidade regional e fazer o PT estar cotidianamente dialogando com essas realidades. E no ato de ouvir construir propostas coletivas para que a gente possa fazer o Brasil um país mais justo, mais humano, mas que nesse momento da nossa quadra histórica, um partido que tenha capacidade de diálogo, capacidade de junção de forças para que a gente possa derrotar o crescimento do fascismo no nosso país", declara Edinho.
Candidatura à presidência do PT
Edinho também falou sobre a sua candidatura à presidência nacional do PT e afirmou que ela é uma "construção de lideranças estimulada e apoiada por vários militantes".
"Eu tenho dito que eu não sou candidato contra ninguém. Eu não sou candidato para me opor a ninguém. Ao contrário, eu tenho muito reconhecimento por tudo que foi feito no PT no último período. Para mim, a Gleisi é a maior presidenta da história do PT, porque ela dirigiu o nosso partido no pior momento da nossa história", comenta.
Edinho afirma que a cada momento histórico, os desafios do partido se alteram. "O partido é um instrumento de intervenção na sociedade", diz. "Se a conjuntura cultural se altera, se o processo histórico se altera - porque ele não é estático - o partido também tem que entender e fazer as leituras corretas e se preparar para essas intervenções", complementa.
Desse modo, Edinho diz que o foco do PT terá que ser "investir muito da sua energia no trabalho de base". "Eu tenho defendido, sem nenhuma nostalgia - também tenho dito que ser nostálgico não é ruim - eu tenho defendido que o PT volte a investir em nucleação, que a gente volte a ter organização de base por local de moradia, por local de trabalho, por espaço de estudos", defende.
"E não é porque isso se justifica por uma querência minha, é que o partido está encontrando muitas dificuldades em dialogar com a nova classe trabalhadora que se forma a partir da intensificação do processo de modernização produtivo, da transição do século XX para o século XXI", acrescenta.
Para Edinho, também devem ser foco do PT os debates sobre transição energética, uma vez que o Brasil é o país com o maior potencial para a produção de energia limpa, e a discussão sobre Segurança Pública. Ele defende, por exemplo, que as forças de segurança devem seguir um modelo que pressupõe a utilização de inteligência e que não siga os moldes do fascimo.
Desafios para mobilização
Edinho resume, portanto, que no próximo período terá embates conjunturais como a eleição presidencial de 2026, a luta pela derrota do fascismo e a construção de políticas públicas que dialoguem com a realidade. Nesse sentido, ele citou alguns fatores que dificultam uma maior mobilização social.
"Eu tenho entendido muito que a economia solidária seja um eixo central de organização das nossas ações. Muitas vezes, as novas profissões, os trabalhadores dessa nova classe trabalhadora que se forma, muitas vezes, eles não querem o vínculo com o sindicato - até porque tem muito debate preconceituoso, tem muita desinformação - mas ele topa se organizar numa cooperativa", avalia Edinho.
Ele diz que o mesmo acontece com motoristas e entregadores de aplicativos, além de jovens que trabalham com criação de conteúdo na internet. Edinha diz que muitos deles não se sentem trabalhadores e, inclusive, se reivindicam como empreendedores. Para Edinho, porém, o que acontece é que eles estão submetidos ao controle do trabalho e do tempo, sem perceber. "Mas esse debate, se nós não tivermos proximidade, ele não vai acontecer. Se nós não tivermos juntos, esse debate também não vai acontecer", diz.
Edinho também defende que a esquerda precisa entender a realidade do século XXI em relação ao diálogo com as comunidades evangélicas. "Temos capacidade de estarmos mais perto dialogando com as comunidades evangélicas, mostrando que na vida real não há tanta contradição daquilo que a gente defende como direito do trabalhador e da trabalhadora daquilo que muitas vezes as concepções cristãs também defendem", afirma.
"Agora, ninguém muda nada pelo lado de fora, a gente só muda pelo lado de dentro. Se a gente não tiver presença nas periferias, dialogando com a juventude nas periferias, com a nova classe trabalhadora, dialogando também com as comunidades religiosas, evidente que nós vamos perder espaço na política, como infelizmente nós perdemos", finaliza Edinho.
Eleição para o Senado
Por fim, Edinho comentou sobre o cenário para as eleições no Senado Federal no próximo ano. Ele afirma que é preciso "olhar com muito cuidado as eleições ao Senado" mesmo se Lula se reeleger "bem". "Se nós tivermos um crescimento das forças políticas fascistas no Senado Federal, isso vai gerar uma instabilidade política imensa para o país", alerta.
"O país não vai conseguir fazer sua economia andar, sua economia se deslocar", diz Edinho. Ele afirma que o campo progressista não vai conseguir pôr em prática programas para melhorar a vida do povo brasileiro pois o país vai estar inserido numa disputa no Senado que aprovar impeachment de ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF).
"Enfim, eu penso que tão importante como nós estamos construindo ou pensando, mesmo de forma tardia, a tática eleitoral estado por estado, nós temos que ter a mesma dedicação em relação às chapas de senadores, porque, repito, senão nós vamos jogar o Brasil numa instabilidade que a gente nunca viu igual", destaca Edinho.
Ele também comentou sobre a possibilidade do campo progressista lançar candidaturas de celebridades. Edinha afirma que não é contra, e que existem muitas celebridades com posição política que vai de encontro aos ideais progressistas e que chegaram até a participar da campanha de Lula em 2022.
"Eu acho que a pessoa ser uma celebridade, ser reconhecida ou ser alguém ligado ao movimento sindical, uma liderança comunitária, eu acho que se ela tiver compromisso com o projeto que nós defendemos, se ela quiser nos ajudar a construir um Brasil democrático, mais justo e mais humano, sem problema nenhum", afirma Edinho.
"O que eu penso é que a gente tem que olhar estado por estado e enfrentar o desafio das chapas para governos estaduais, o Senado. Nós precisamos ter chapa de deputados federais, chapa de deputados estaduais, porque evidente que se nós não formamos chapas fortes, nós não não elegeremos parlamentares", complementa Edinho.
"E se nós não elegermos parlamentares, nós enfraqueceremos a nossa disputa no cotidiano na sociedade. Então,nós vamos ter um desafio muito grande a partir de agosto, quando nós superarmos essa fase da eleição interna, para viajarmos estado por estado e construirmos tática eleitoral estado por estado", finaliza.
Confira a entrevista completa de Edinho Silva ao Fórum Onze e Meia abaixo: