FASCISMO BOLSONARISTA

Advogado de Bolsonaro apresentará tese de defesa que contraria a própria declaração

Além de Bolsonaro, devem apresentar a defesa Anderson Torres, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira, Mário Fernandes, Alexandre Ramagem, Mauro Cid, entre outros membros da organização criminosa golpista

Jair Bolsonaro e os apoiadores extremistas no 8 de Janeiro.Créditos: Sobreposição de fotos / Tânia Rego e Joedson Alves Agência Brasil
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Contratado em janeiro deste ano para encorpar a defesa de Jair Bolsonaro (PL), o advogado criminalista Celso Vilardi deve contrariar uma declaração que deu meses antes de assumir o caso para sustentar a tese e tentar livrar o ex-presidente de uma condenação.

Nesta quinta-feira (6) se encerra o prazo de 15 dias dado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para que os advogados de Bolsonaro, dos ex-ministros Anderson Torres (Justiça), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Paulo Sérgio Nogueira (Defesa), além do general "kid preto" Mário Fernandes, do ex-diretor-geral da Polícia Federal Alexandre Ramagem e de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, apresentem suas defesas.

Eles foram denunciados pelo Procurador-Geral da República (PGR) como membros da organização criminosa comandada pelo ex-presidente que tentou um golpe de Estado entre 2022 e 8 de janeiro de 2023.

Mesmo em rota de colisão com Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que tenta uma jogada com Donald Trump e parlamentares da ultradireita dos EUA para livrar o pai da cadeia, Vilardi não deve negar a articulação golpista, mas vai sustentar que Bolsonaro “não participou e não deu aval”, como sustentou em entrevista à CNN no final de fevereiro.

"[Bolsonaro] não participou e não deu aval [a um plano de golpe]. Isso está evidenciado. Se pegar a delação do Cid, que é suspeita, para dizer o mínimo e usar uma expressão elegante, nem ele diz isso. O problema é que há uma tendência em separar alguns trechos retirando-os do contexto”, disse o advogado.

No entanto, o próprio Vilardi declarou na mesma CNN em novembro de 2024, que havia "indícios suficientes" que apontavam para o fato de que Bolsonaro planejou o golpe ao ser ouvido como especialista por William Waack.

"Na sua experiência de criminalista. Quando a polícia diz: 'Bolsonaro atuou, planejou, teve domínio de forma direta e efetiva do golpe. Isso é uma coisa, a denúncia pode ser outra e o julgamento outro ainda. Porém, na sua experiência de criminalista, aquilo que o relatório traz à tona, sustenta uma afirmação como essa?", questionou William Waack na entrevista em questão. 

Celso Vilardi, então, foi categórico ao afirmar que, até o momento, sim, os indícios indicavam que Bolsonaro planejou um golpe de Estado. 

"Não há como negar nessa altura do campeonato que existam indícios absolutamente claros a respeito de uma tentativa de golpe de Estado, eu não tenho duvida a respeito disso. Temos depoimentos consistentes. O trabalho da PF é um trabalho bem feito. Tem um general confirmando de certa forma a existência do golpe. Tem mensagens, execução, monitoramento de um ministro do STF, um plano que estava no Palácio do Planalto", disparou à época. 

Na entrevista mais recente, após assumir a defesa de Bolsonaro, Vilardi disse que está "convencido de que ele não praticou crime algum e estou disposto a defendê-lo depois de analisar milhares de páginas do inquérito e concluir que o trabalho da Polícia federal foi enviesado”.

“Tive um posicionamento muito firme em relação ao 8 de janeiro. Não sou radical de direita. Assinei manifestos pela democracia. Não achei que 8 de janeiro foi um domingo no parque. Mas entendi que devo pegar o caso justamente porque não vi nenhuma participação de responsabilidade do ex-presidente”, afirmou.

Surreal

Já Eduardo Kuntz, que faz a defesa do coronel da reserva Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro, vai apresentar uma justificativa surreal para defender o militar.

Câmara, segundo Cid, foi incumbido por Walter Braga Netto e a facção homicida da orcrim de monitorar os passos de Alexandre de Moraes, então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). 

O plano, chamado Punhal Verde e Amarelo, previa o assassinato de Moraes, de Lula e do vice-presidente Geraldo Alckmin.

O advogado alegará que não é ilegal o monitoramento de um ministro do Supremo e vai repetir a ladainha de que Moraes está sendo parcial em suas decisões, mesmo diante da robustez de provas apresentadas pela PF.

Ligado a Michel Temer (MDB) e Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), o advogado Eduardo Kuntz e o pai, Christiano Kuntz, fazem a defesa do do ex-chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED) - órgão subordinado à presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) - Eduardo Tagliaferro.

Foi do celular de Tagliaferro, que vazaram informações que virou uma série de reportagens da Folha de S.Paulo em parceria com Glenn Greenwald que serviu para incitar aliados de Bolsonaro para promover um novo ato golpista pedindo o impeachment do ministro do STF.

Kuntz também atuou na defesa de outros bolsonaristas acusados de atuar na Organização Criminosa de Bolsonaro, como Tércio Arnaud, que comandou o Gabinete do Ódio, e Fabio Wajngarten, que se afastou do corpo de advogados do ex-presidente ao ser indiciado na quadrilha de furto de joias.

Segundo Malu Gaspar, em sua coluna no jornal O Globo no dia 18 de maio de 2024, a decisão de Moraes de soltar Câmara – braço direito do tenente-coronel Mauro Cid – se deu após Tarcísio, Temer e o comandante do Exército, Tomás Paiva, procurarem o ministro dizendo que ele "precisava começar a 'calibrar' suas decisões para diminuir os ataques a ele mesmo e ao Supremo por parte da extrema direita".

A reunião para pressionar Moraes teria sido articulada justamente pelo advogado Eduardo Kuntz, que atua na defesa de Tagliaferro e Câmara.

"Toda a pressão funcionou, e Moraes executou um recuo tático – que, além de operar uma guinada radical na posição do relator do caso Seif, também levou à soltura do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, no último dia 3 [de abril de 2024]", diz a jornalista d'O Globo.

Ainda segundo Malu Gaspar, "a soltura de Câmara também entrou no 'pacote' que envolve a absolvição do senador Jorge Seif (PL-SC) no processo que julga a sua cassação no TSE.

"Em troca, o governador descartou nomear um desafeto de Moraes para comandar a Procuradoria-Geral do Estado e colocou no posto um procurador aprovado pelo ministro", segue a jornalista, em referência à nomeação de Paulo Sergio Oliveira e Costa, ex-diretor da Escola Superior do MP-SP, para a Procuradoria-Geral do Estado. Terceiro na lista tríplice, o novo PGE teria forte ligação e foi indicado a Tarcísio por Moraes.

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