Um recorte capcioso da fala de Demóstenes Torres, advogado de defesa do almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha e suspeito de conspiração golpista, entre outros crimes, na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), circula nas redes sociais.
Torres optou por substituir a palavra "golpe" pelo francês "coup" em sua sustentação oral. A internet não perdoou.
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Durante sua argumentação, Demóstenes afirmou que a denúncia contra seu cliente era "inepta", pois não especificava claramente as acusações.
Ele pediu que o caso fosse remetido ao plenário do STF, dada sua relevância. Também contestou as provas apresentadas pela Polícia Federal, classificando-as como falsas e alegando que Garnier não participou das reuniões citadas na investigação.
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A capivara de Demóstenes: da moralidade à cassação
Demóstenes Torres entrou para a história como o primeiro senador cassado por corrupção desde a redemocratização do Brasil. Com a perda do mandato, ele se tornou inelegível até 2027.
Ex-procurador da República, foi eleito senador por Goiás em 2002, pelo então PFL (atual União Brasil), destacando-se como um dos parlamentares mais estridentes no combate à corrupção.
No Senado, presidiu a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e chegou a ser cotado para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).
Sua carreira desmoronou em 2012, quando veio à tona sua relação com o empresário Carlinhos Cachoeira, acusado de comandar um esquema de jogos ilegais. A Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, revelou gravações telefônicas em que Demóstenes intermediava interesses do contraventor no Congresso.
Sem apoio político, foi expulso do DEM e teve seu mandato cassado pelo Senado em 11 de julho de 2012, com 56 votos a favor, 19 contra e 5 abstenções.
Nas trincheiras do bolsonarismo
Após sua cassação, Demóstenes tentou retornar à política em 2018, mas sua candidatura ao Senado foi barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) devido à Lei da Ficha Limpa.
Sem perspectivas eleitorais, retomou sua carreira como advogado e passou a atuar em casos de grande repercussão. A defesa de Almir Garnier no STF marcou sua volta ao noticiário, agora como representante de um dos acusados de envolvimento na tentativa de golpe de Estado associada ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Brasil de 2012: o cenário da cassação de Demóstenes Torres
A cassação de Demóstenes Torres ocorreu em 11 de julho de 2012, em um Brasil marcado por escândalos de corrupção e instabilidade política. Alguns fatores que moldavam o cenário da época:
Julgamento do Mensalão
O STF iniciava o julgamento de um dos maiores esquemas de corrupção da história do país. A pressão popular por punições severas a políticos corruptos era intensa.
Operação Monte Carlo
Deflagrada pela Polícia Federal em fevereiro de 2012, revelou um esquema de jogos ilegais comandado por Carlinhos Cachoeira. O envolvimento de Demóstenes Torres foi um dos pontos mais explosivos do caso.
Governo Dilma Rousseff e a "faxina ética"
A presidenta Dilma Rousseff (PT) tentava consolidar sua imagem como gestora técnica e intolerante com a corrupção, afastando ministros suspeitos de irregularidades.
Crise de credibilidade do Senado
A cassação de Demóstenes Torres foi utilizada pelo Congresso para tentar resgatar sua imagem diante da sociedade, pois foi a primeira vez que um senador perdeu o mandato por corrupção desde a redemocratização.