O Fórum Onze e Meia desta sexta-feira (21) recebeu Gleisi Hoffmann (PT) para sua primeira entrevista no cargo de ministra da Secretaria de Relações Institucionais do governo. Dentre os assuntos pautados por ela, a ex-presidenta do PT comentou sobre as taxas de juros do Banco Central e reafirmou sua posição contrária à política do órgão.
Mesmo ocupando o cargo de ministra, Gleisi defendeu que continua achando, assim como quando era deputada federal, a política monetária do BC "errada". Ela pontuou, porém, que o aumento da taxa de juros anunciado nesta quarta-feira (19) já estava previsto desde dezembro.
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No entanto, a ministra declarou que espera que a partir de agora, "o Banco Central possa efetivar uma política monetária de acordo com a realidade da economia do país". "Claro, sempre visando controlar a inflação, mas que seja uma política monetária que leve em consideração a realidade econômica do Brasil", disse a ministra.
"Hoje, a gente tem um país que está crescendo mais de 3%, um país que está gerando emprego, um país que tem renda, um país em que você tem uma inflação razoavelmente controlada, não está disparada, e você tem contas públicas em ordem. Então, eu acho que é um conjunto de indicadores que dá sim condições à autoridade monetária rever essa política contracionista", afirmou Gleisi.
A ministra também comentou sobre a proposta do governo de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e reforçou que esse era um compromisso de campanha de Lula. Gleisi explicou que a proposta foi construída durante os últimos dois anos, pois precisava ser uma "medida com neutralidade fiscal", e elogiou que foi uma "engenharia muito boa" do Ministério da Fazenda.
"O Ministério da Fazenda foi muito feliz nessa proposta, porque você vai, na realidade, cobrar imposto dos ricos, dos super-ricos, daqueles que ganham mais de R$ 600 mil por ano e ainda assim numa escadinha. Essas pessoas que não pagam ou pagam um pouco, vão passar a pagar sobre o total da sua renda de 2,5 a 10% e é isso que vai dar sustentação à isenção de R$ 5 mil", explicou Gleisi.
"Hoje, a alíquota do imposto de renda para uma pessoa que ganha R$ 5 mil é de 27,5%. Uma professora que ganha esse montante paga 27,5%. Não tem justiça nisso. E não é injusto alguém com uma renda alta pagar de 2,5 a 10%. É sobre isso que nós estamos falando. Então, eu acho que o debate vai ser muito bom, porque vai ficar claro para a sociedade quem defende os ricos e quem defende os trabalhadores", avaliou a ministra.
Ela ainda acrescentou que espera que o Congresso Nacional entenda que a proposta é sobre "justiça social e fiscal no país".
Aprovação do orçamento e emendas
Gleisi também esclareceu sobre a reserva de R$ 500 bilhões feita pelos deputados para destinação a emendas parlamentares durante aprovação do orçamento para 2025. Um dos pontos de destaque foi que o governo estaria prevendo mais R$ 8 bilhões em cima dos R$ 500 bilhões. A ministra, porém, afirmou que houve uma confusão nessa interpretação.
"O que tem de emendas no orçamento de 2025 são R$ 50 bilhões no total, que é mais ou menos o que prevê a Lei Complementar 210, que foi aprovada dando limite de emendas depois de toda a discussão que teve no STF e as decisões do ministro Flávio Dino. Então, é isso que tem de emenda. Ponto", afirmou Gleisi.
"O que aconteceu é que o Congresso fez remanejamentos, mudou rubricas, colocou de uma para outra, o que é normal fazer, sempre foi feito, tanto em despesas obrigatórias, como em despesas discricionárias. Então, mais ou menos esses remanejamentos giram em torno de R$ 8 bilhões, mas isso são despesas do governo, que o executivo vai executar, não tem nada a ver com emenda", esclareceu a ministra.
Ataque machista de Gustavo Gayer
A ministra também fez declarações sobre as postagens misóginas do deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) contra ela após a fala de Lula afirmando que ela era "muito bonita". Para Gleisi, os ataques de Gayer deveriam indignar mais as pessoas do que a fala do presidente.
"Ele [Gayer] foi misógino, machista, desrespeitoso, agressivo comigo, mas também com outras figuras, com parlamentares, com presidente do Senado. Quer dizer, como é que um deputado se comporta desse jeito? Isso é muito ruim, isso não é debate político", afirmou Gleisi.
"Então, eu espero, realmente, que ele responda por isso. Isso é típico dessa gente ligada ao bolsonarismo", acrescentou.
Em relação à fala de Lula, a ministra reforçou seu posicionamento de que "gestos valem mais que palavras", e destacou ações do presidente em relação às mulheres.
"O Lula tem um histórico de compromisso com a luta das mulheres que é muito importante. Ele foi um dos incentivadores da primeira mulher a ser presidenta da República, de ter a primeira presidenta de seu partido, foi ele que mais nomeou ministras no executivo e também para cargos do judiciário. Então, isso mostra o compromisso que o presidente Lula tem", disse Gleisi.
Ela ainda fez comparações sobre as reações em relação à fala de Lula e declarações machistas de Bolsonaro.
"É muito engraçado porque as pessoas criticaram muito a fala dele [Lula], levando para um lado que seria um lado errado, mas eu não vi esse nível de críticas às falas do Bolsonaro, quando chamou as petistas de feia e fez outras derivações... Então, eu acho que a gente também tem que saber o que nós estamos lidando e como é essa luta de empoderamento das mulheres", analisou.
Gleisi destacou que tem uma trajetória de luta política, de militância, e sabe da dificuldade em relação ao machismo nesse meio, mas considera que é preciso "medir muito para quem e com quem a gente faz o enfrentamento".
Projeto de anistia para os golpistas de 8 de Janeiro
Gleisi também falou sobre o projeto que pede anistia para os golpistas de 8 de janeiro, que avança na Câmara com pressão de bolsonaristas. Para a ministra, o cenário é de perda de apoio, principalmente após o ato esvaziado de Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro. Ela pontuou que os apoiadores do ex-presidente continuarão fazendo obstrução para que o texto avance, mas que somente o PL não conseguirá votar a proposta.
A ministra destacou, ainda, que o projeto visa, na realidade, por trás da discussão para anistia aos presos pelo 8 de janeiro, livrar Bolsonaro de prisão para que ele seja candidato à presidência em 2026. "Por isso que a gente não pode aprovar esse projeto", reforçou.
Ela também defendeu que a narrativa dos bolsonaristas - quem está preso são vítimas de penas muito elevadas, são pessoas idosas - não encontra respaldo. "Quase 570 pessoas foram liberadas porque fizeram um acordo. Deixaram as redes sociais, assistiram a um curso sobre democracia e pagaram multa", disse Gleisi.
Ela acrescentou que, porém, cerca de 400 outras pessoas não aceitaram esse acordo, o que reforça a culpabilidade desses golpistas. A ministra afirmou que há muita desinformação para convencer de que essas pessoas presas são vítimas.
"Essas pessoas cometeram um crime. Essas pessoas quebraram o patrimônio público, invadiram e estavam ali sabendo que tinha, sim, uma ação golpista no país. Ninguém faz aquilo achando que não vai ter um resultado. Então, nós somos contra a anistia", declarou Gleisi. Ela enfatizou que o governo irá encarar esse debate.
"A tentativa de golpe foi muito séria, não foi uma brincadeira. Culminou com o 8 de janeiro, mas vamos lembrar que eles tinham, inclusive, plano para matar o Lula, matar o Alckmin, matar o Alexandre de Moraes, e só não conseguiram ir em frente porque não tiveram o apoio do Exército e da Aeronáutica. Então, foi muito grave o que aconteceu, eles têm que responder e o Bolsonaro tem que responder por seus crimes", concluiu Gleisi.
Confira a entrevista completa da ministra Gleisi Hoffmann ao Fórum Onze e Meia
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