O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, foi citado no depoimento de um empresário sobre desvio de recursos de obras no interior da Paraíba. O homem, condenado pela Justiça Federal do estado paraibano junto com outras duas pessoas, afirma que Hugo Motta teria recebido 10% do valor da propina. A informação foi divulgada pelo colunista Fabio Serapião, do Metrópoles, nesta quinta-feira (20).
A condenação da Justiça foi determinada no dia 27 de fevereiro e tinha como alvos o empresário do ramo de construção José Aloysio Machado da Costa Neto, o ex-prefeito de Malta (PB) Manoel Benedito de Lucena Filho, conhecido como “Nael”, e seu filho Naedy Bastos Lucena. A ação se refere a desvios de recursos públicos em um contrato para recapeamento de ruas da cidade em 2014.
Te podría interesar
“Seria 10% que o deputado tinha cobrado”, afirmou José Aloysio sobre Hugo Motta em depoimento prestado em 2017. Na época, o empresário representava a empresa Sóconstrói, que ganhou a obra custeada, em partes, pelas emendas destinadas pelo ex-deputado e atual presidente da Câmara.
Hugo Motta, então, teria recebido R$ 78 mil, 10% do contrato de cerca de R$ 780 mil. O empresário chega a afirmar que o ex-prefeito teria ficado descontente com a cobrança.
Te podría interesar
“Correto, ele até ficou chateado, o Nael [prefeito]. Porque ele disse que era uma obra que já estava com o preço meio apertado já, esse recurso vinha pela Caixa Econômica. Ele disse: rapaz, eu ajudei tanto esse deputado e ainda ele vir me cobrar um percentual para mandar um dinheiro para o município, meu município tem sofrido. Isso foi o que o prefeito me confidenciou, ele chateado pela situação”, disse Aloysio.
O depoimento do empresário foi feito através de acordo de delação premiada e anexado à sentença enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF). Porém, nunca foi homologado.
“José Aloysio Machado da Costa Neto, durante as investigações, chegou a afirmar que, antes da licitação em comento, foi chamado pelo deputado estadual Nabor Wanderley e apresentado ao então prefeito de Malta, que lhe informaram que este executaria a obra e haveria uma comissão ao deputado federal Hugo Motta, de 10% (dez por cento), por ser o autor da emenda parlamentar”, diz um trecho do documento.
De acordo com o processo, a empresa de Aloysio atuaria apenas como fachada para que terceiros executassem as obras. Além disso, Manoel Lucena também fez acordos para que os empresários também recebessem 10% do valor.
De Eduardo Cunha a Lira: a trajetória de Hugo Motta
Vendido por Arthur Lira (PP-AL) como o sucessor que manterá a "paz" na Câmara à frente da presidência da Casa Legislativa, o deputado paraibano Hugo Motta (Republicanos-PB), de 35 anos, é um antigo aliado do Centrão e da burguesia brasileira na guerra contra a democracia no país.
Nascido em João Pessoa, Motta é herdeiro de uma dinastia que comanda há décadas a prefeitura de Patos, município de pouco mais de 100 mil habitantes conhecido como "a capital do sertão da Paraíba".
Condenado em primeira instância por improbidade administrativa em um esquema de perfuração de poços de água e denunciado pelo Ministério Público por suposto recebimento de propina na construção de unidades básicas de saúde na capital do sertão da Paraíba, o pai de Hugo Motta, Nabor Wanderley (Republicanos) foi reeleito prefeito de Patos em 6 de outubro com 73,76% dos votos válidos.
A cidade paraibana, no entanto, está sob domínio do clã desde 1956, quando o avô paterno do deputado, Nabor Wanderley da Nóbrega, assumiu a prefeitura. A avó materna, Francisca Motta, que foi deputada federal, também administrou o município em 2012. E o avô materno, Edivaldo Fernandes Motta foi eleito deputado estadual por cinco vezes e por duas vezes deputado federal, além de ter sido vereador em Patos durante a Ditadura Militar.
Pupilo de Eduardo Cunha
Hugo Motta está seu quarto mandato na Câmara Federal. Em 2010, aos 21 anos, ele foi o deputado mais jovem da história do país ao se eleger, então pelo MDB, partido onde permaneceu até 2018.
Na casa legislativa, rapidamente tornou-se pupilo de Eduardo Cunha (MDB), um dos maiores caciques do MDB à época - atrás apenas do então vice-presidente Michel Temer.
Com a habilidade adquirida no clã, Motta se aproximou da ala fluminense do então PMDB e foi alçado em 2015 presidente da CPI da Petrobras instalada em 2009, ainda no segundo mandato de Lula no Planalto, para comandar achaques do Centrão ao governo federal.
Motta foi alçado à presidência da comissão por indicação do então líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani (MDB), filho do pecuarista Jorge Picciani (MDB), ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), que foi preso em 2017 por envolvimento no megaesquema de corrupção montado por Sergio Cabral (MDB) no governo fluminense - Picciani morreu em março de 2021 durante tratamento de câncer na bexiga.
LEIA MAIS: Hugo Motta: o passado golpista do "sucessor" de Lira, que cooptou do PL ao PT