Vendido por Arthur Lira (PP-AL) como o sucessor que manterá a "paz" na Câmara à frente da presidência da Casa Legislativa, o deputado paraibano Hugo Motta (Republicanos-PB), de 35 anos, é um antigo aliado do Centrão e da burguesia brasileira na guerra contra a democracia no país.
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Nascido em João Pessoa, Motta é herdeiro de uma dinastia que comanda há décadas a prefeitura de Patos, município de pouco mais de 100 mil habitantes conhecido como "a capital do sertão da Paraíba".
Condenado em primeira instância por improbidade administrativa em um esquema de perfuração de poços de água e denunciado pelo Ministério Público por suposto recebimento de propina na construção de unidades básicas de saúde na capital do sertão da Paraíba, o pai de Hugo Motta, Nabor Wanderley (Republicanos) foi reeleito prefeito de Patos em 6 de outubro com 73,76% dos votos válidos.
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A cidade paraibana, no entanto, está sob domínio do clã desde 1956, quando o avô paterno do deputado, Nabor Wanderley da Nóbrega, assumiu a prefeitura. A avó materna, Francisca Motta, que foi deputada federal, também administrou o município em 2012. E o avô materno, Edivaldo Fernandes Motta foi eleito deputado estadual por cinco vezes e por duas vezes deputado federal, além de ter sido vereador em Patos durante a Ditadura Militar.
Pupilo de Eduardo Cunha
Hugo Motta está seu quarto mandato na Câmara Federal. Em 2010, aos 21 anos, ele foi o deputado mais jovem da história do país ao se eleger, então pelo MDB, partido onde permaneceu até 2018.
Na casa legislativa, rapidamente tornou-se pupilo de Eduardo Cunha (MDB), um dos maiores caciques do MDB à época - atrás apenas do então vice-presidente Michel Temer.
Com a habilidade adquirida no clã, Motta se aproximou da ala fluminense do então PMDB e foi alçado em 2015 presidente da CPI da Petrobras instalada em 2009, ainda no segundo mandato de Lula no Planalto, para comandar achaques do Centrão ao governo federal.
Motta foi alçado à presidência da comissão por indicação do então líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani (MDB), filho do pecuarista Jorge Picciani (MDB), ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), que foi preso em 2017 por envolvimento no megaesquema de corrupção montado por Sergio Cabral (MDB) no governo fluminense - Picciani morreu em março de 2021 durante tratamento de câncer na bexiga.
Caso Kroll
Na presidência da CPI, Motta foi protagonista do lendário caso Kroll, consultoria contratada por R$ 1,1 milhão pela cúpula da comissão para identificar contas suspeitas e repasses ilegais ao exterior investigados na Operação Lava Jato.
No entanto, a Kroll virou alvo de denúncia à Procuradoria-Geral da República (PGR) por ter entregue apenas um relatório com "recortes de jornais", que teve apenas menção em duas páginas do relatório final dos trabalhos da comissão.
À frente da CPI, que durou cerca de 8 meses em 2015 e terminou sem indiciamento de políticos, Motta ainda articulou com Eduardo Cunha uma pauta para desgastar o governo Dilma Rousseff (PT) e nutrir a mídia liberal e os atos nas ruas pelo "impeachment" da presidenta.
A CPI da Petrobras é considerada atualmente o elo de ligação entre a Lava Jato e a facção golpista comandada por Cunha e Temer, que resultou no golpe contra Dilma, consolidado em agosto do ano seguinte.
Mancomunado com o então presidente da Câmara, Motta votou pelo impeachment de Dilma e, após o golpe contra a presidenta, contra a abertura de investigação contra Temer, de quem fez parte da base de governo.
A amizade com Cunha foi tamanha, que Motta chegou a empregar em seu gabinete como assessora de marketing a filha dele, Dani Cunha, atualmente deputada federal pelo União-RJ.
Tropa de Bolsonaro
Com Cunha caindo em desgraça, Motta - já no Republicanos, após negociação fracassada para entrar no PP, de Lira - orbitou na esfera de Ciro Nogueira, presidente do PP, que foi alçado à Casa Civil de Jair Bolsonaro (PL) nas negociatas para cooptação do Centrão.
Com a articulação de Nogueira, Motta foi o relator da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do “Orçamento de Guerra”, que turbinou gastos "emergenciais" de Bolsonaro na pandemia e foi usada em uma jogada eleitoreira pelo ex-presidente em uma tentativa desesperada de reverter a derrota iminente para Lula, apontada pelas pesquisas.
Motta também participou ativamente da farra do chamado orçamento secreto e destinou R$ 22 milhões de emendas do relator e R$ 6,1 milhões em "emendas Pix" à prefeitura de Patos, para ajudar na eleição do pai, entre 2020 e 2021.