A manifestação bolsonarista realizada em Copacabana, no Rio de Janeiro, neste domingo (16), "mostrou ao mundo um Bolsonaro cada vez mais fraco e isolado".
A opinião é do advogado Marco Aurélio Carvalho, coordenador do Grupo Prerrogativas, que chama atenção para o papel desempenhado pelo governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas, no ato.
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"Tarcísio , ao lado de outros governadores, já disputa o legado do seu chefe, mas, em uma aposta arriscada, revelou ser uma face da mesma moeda. Um candidato de uma extrema direita raivosa e sectária, sem um projeto que atenda aos reais interesses do país", disse Marco Aurélio à Fórum.
Em seu discurso no protesto bolsonarista, Tarcísio, que é um dos nomes mais cotados da extrema direita para concorrer à presidência em 2026, visto que Bolsonaro está inelegível e prestes a se tornar réu por tentativa de golpe de Estado, criticou a inelegibilidade do ex-mandatário e lançou ataques ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
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"Ninguém aguenta mais arroz caro, gasolina cara, o ovo caro. Prometeram picanha e não tem nem ovo. E, se está tudo caro, volta Bolsonaro (...) Qual a razão de afastar Jair Bolsonaro das urnas? É medo de perder a eleição, e eles sabem que vão perder?", disparou o governador.
Bolsonaro, por sua vez, insistiu nos pedidos de anistia aos golpistas do 8 de janeiro, que em última instância, se aprovada, pode beneficiá-lo, disse que seria "um problema" para seus opositores "vivo ou morto" e, ainda que tenha afirmado que será candidato em 2026, já admitiu que há pessoas capazes de substituí-lo.
Segundo Marco Aurélio Carvalho, a manifestação, que contou com um número muito menor de pessoas do que o esperado por Bolsonaro (o ex-presidente esperava 1 milhão, mas o ato reuniu 18,3 mil pessoas em seu ápice, segundo estudo), foi "um verdadeiro cortejo fúnebre", com Tarcísio já "disputando o legado do defunto".
"As manifestações foram um verdadeiro cortejo fúnebre. Bolsonaro foi velado à luz do dia. E o guela, como se diz no Nordeste, é o Tarcísio, que já disputa, em frente ao caixão, o legado do defunto", analisa o advogado.
Ato flopado
O maior medo de Jair Bolsonaro, antes de uma provável condenação à prisão, se tornou realidade neste domingo (16) em Copacabana, no Rio de Janeiro.
Antes do ato pela "anistia", Bolsonaro confessou a aliados próximos que seu maior receio era não conseguir uma foto que mostrasse apoio popular à narrativa de que é perseguido pela "ditadura do judiciário".
Pelos cálculos do ex-presidente, segundo esses aliados, seria necessário aglomerar 400 mil apoiadores na orla de Copacabana para se obter a imagem, que seria propagada ao mundo para provar a narrativa do clã.
No entanto, ao subir no trio elétrico ao lado de Malafaia, Bolsonaro viu que seus planos foram por água abaixo.
O público flopado no ato foi confirmado pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital, de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), que estimaram em 18,3 mil pessoas os presentes no ápice da manifestação, o menor público já registrado em eventos da ultradireita bolsonarista.
O ato interditou o trecho da Avenida Atlântica entre as ruas Barão de Ipanema e Xavier da Silveira. No entanto, imagens aéreas mostram que a concentração se deu em torno do caminhão, não se estendendo a uma quadra do local onde o veículo foi parado.
Em termos comparativos, na manifestação de 7 de Setembro de 2022, realizada também em Copacabana, o monitor estimou um público de 64,6 mil.
Para estimar o público, os pesquisadores tiraram 66 fotos aéreas de Copacabana em quatro horários: 10h, 10h40, 11h30 e 12h. Dessas, 6 fotos foram tiradas às 12h, momento de pico da manifestação.
Para o cálculo, os pesquisadores utilizaram a metodologia Point to Point Network (P2PNet), que identifica cabeças e estima a quantidade de pessoas em uma imagem.
O método tem precisão de 72,9% e acurácia de 69,5% na identificação de cada indivíduo. Na contagem de público, o erro percentual absoluto médio é de 12% para mais ou para menos para imagens aéreas com mais de 500 pessoas.