A jornada de trabalho imposta por escalas como a 6x1, onde o trabalhador cumpre seis dias seguidos de atividade e tem apenas um dia para descansar, é um reflexo das condições desumanas ainda enfrentadas por milhões de pessoas no Brasil. Mas, quando esse ritmo exaustivo é combinado com os estudos universitários, o cenário se torna ainda mais desafiador. Muitos se veem forçados a fazer uma escolha impossível: estudar ou sobreviver.
O Movimento Vida Além do Trabalho (VAT) fez um alerta nas redes sociais sobre a questão que implica a rotina de diversos estudantes universitários: a dedicação aos estudos, o cumprimento das obrigações da faculdade e o trabalho, além de desconstruir o discurso meritocrático. “Evasão não é falta de força de vontade, mas cansaço”, escreveu no Instagram. O movimento organiza um protesto nacional para o dia 1º de maio, Dia Internacional do Trabalhador, através da mobilização de diferentes setores.
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De acordo com o Mapa do Ensino Superior no Brasil, divulgado pelo Instituto dos Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp) em 2024, 57,2% dos estudantes deixam a faculdade antes da conclusão do curso. O levantamento abrange redes públicas, privadas e modalidades presencial e a distância (EaD). A taxa de evasão no ensino superior é mais elevada na rede privada, que abriga 88% das 2.595 instituições do país.
Enquanto nas universidades públicas a desistência fica abaixo de 40%, nas privadas chega a quase 61%. O ensino a distância (EaD) apresenta os maiores índices de abandono, sendo responsável por 56,3% das graduações, com taxa de evasão de 64%, contra 52,6% nos cursos presenciais.
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O principal motivo é a dificuldade de conciliar o trabalho com o estudo. “Trabalhar pelo menos 8 horas + estudar 6 horas diárias = 14 horas de dedicação. Isso porque nem estamos considerando: o alto tempo gasto com deslocamento, geralmente em veículos em condições precárias e as jornadas duplas ou triplas de mulheres e mães que trabalham estudam”, informa o VAT. Pelo menos 45% dos jovens matriculados em universidades do Brasil tambpem trabalham.
Para enfrentar a evasão escolar, o governo tem implementado o Pé-de-Meia, um programa que oferece incentivo financeiro a estudantes do ensino médio regular e da EJA na rede pública, e busca garantir a permanência dos alunos na escola, proporcionando um suporte financeiro que facilite o ingresso na vida universitária. Os pagamentos tiveram início em 25 de fevereiro deste ano. Leia mais nesta matéria da Fórum.
Afastamento do trabalho por ansiedade também aumentou em uma década
Em 2024, o Brasil também bateu recorde no número de afastamentos do trabalho devido a quadros de ansiedade e depressão. No ano passado, foram 470 mil pessoas afastadas em razão de transtornos mentais e comportamentais, o que representou aumento de 67% na série histórica de dez anos.
Entre as principais causas dos afastamentos, estão ansiedade (141.414), episódios depressivos (113.604) e transtorno depressivo recorrente (52.627). Em seguida, aparecem transtorno afetivo bipolar (51.314), transtornos mentais e comportamentais decorrentes do uso de drogas e outras substâncias psicoativas (21.498) e reações ao estresse grave e transtornos de adaptação (20.873).
Entre as principais causas para os transtornos mentais estão a crise no emprego, gerada pela digitalização da vida, po cansaço e pelas novas relações de trabalho mais autoritárias e as novas tecnologias e pelas mudanças sociais após a pandemia de Covid-19.
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A proposta pelo fim da escala 6x1, que nasceu com o movimento Vida Além do Trabalho (VAT), fundado por Rick Azevedo, que hoje ocupa o cargo de vereador no Rio de Janeiro, lança luz ao debate sobre escalas de trabalho massivas e a saúde do trabalhador brasileiro. A proposta visa reduzir a jornada de trabalho para um máximo de 36 horas, dividindo a semana em 4 dias de trabalho formal e 3 de descanso, sem redução salarial.
Agora tramitando na Câmara dos Deputados através de uma PEC da deputada Erika Hilton (PSOL-SP), a proposta pede a redução da jornada de trabalho de 6x1, onde o trabalhador trabalha 6 dias e folga somente 1, para 4x3. O projeto prevê que, desse modo, o trabalhador terá mais tempo não só de lazer, mas também para tratar da sua saúde.
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