Em entrevista ao Fórum Onze e Meia desta segunda-feira (10) o professor e cientista político Daniel Cara comentou sobre a indicação da deputada federal e ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann, para a Secretaria de Relações Institucionais. Para ele, Lula acerta ao colocar a parlamentar na articulação política do governo.
Daniel argumenta que Gleisi é uma pessoa "extremamente capacitada" por ter enfrentado, no Congresso Nacional, diversas "bombas-relógio" construídas pela extrema direita. O professor acrescenta que as dificuldades de desempenho da deputada na Casa Legislativa era justamente devido à função de "desarmar" os parlamentares de extrema direita.
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"Ela tinha dificuldades porque estava, na prática, enfrentando o Congresso Nacional, que é de ampla maioria de extrema direita. Mesmo centrão, não sendo de extrema direita, pensa como extrema direita, e a Gleisi tinha que desarmar uma bomba-relógio, que é a bomba-relógio do utilitarismo da relação política, do paroquismo, das emendas parlamentares, a bomba que foi construída pelo Temer e pelo Bolsonaro. E ela enfrentou esse sistema", afirma Cara.
O professor acrescenta que, por isso, Lula tomou a decisão correta. "Eu acredito que o presidente Lula acerta ao colocar Gleisi no seguinte sentido: ele está colocando uma pessoa de confiança que tenta desarmar o grande problema da articulação política do Executivo com o Congresso Nacional, que foi a aliança que se construiu de controle orçamentário por parte do Congresso Nacional, pelo Eliseu Padilha pelo Michel Temer, durante o processo de impeachment".
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Daniel relembra que, durante o processo de afastamento da ex-presidenta Dilma Rousseff, ela entregou a articulação política a Eliseu Padilha, que se apropriou dela junto com Michel Temer. "O fato é que eles construíram a ideia do orçamento secreto que foi aperfeiçoada pelo Bolsonaro, que no começo enfrentou e sofreu dificuldades no Congresso", explica o cientista político. Ele acrescenta que, posteriormente, durante a pandemia de Covid-19, Bolsonaro teve dificuldade com as emendas no Congresso, mas que depois ele conseguiu ganhar todas.
"A gente avalia na ciência política a força de um presidente da República sobre emendas à Constituição. Quanto mais emendar a Constituição, mais forte ele é, porque ele está transformando uma política de governo em política de Estado, uma política em Constituição, que é o Estado brasileiro", analisa.
O professor, então, destaca que a tarefa de Gleisi dentro da articulação política é justamente essa de fazer com que o governo consiga aprovar suas emendas. Ele diz, ainda, que acha a parlamentar "extremamente capacitada" para isso.
Daniel também comentou sobre o papel que Gleisi pode assumir em relação a enfrentar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e sua base de aliados. Para o professor, a parlamentar deve ser "muito ouvida" no governo, principalmente porque ela tem a "vantagem" de estar numa secretaria "extremamente sensível, que é fundamental para o jogo do poder em Brasília".
"Ela vai ter que lidar, se for para ela ir para cima, com o Congresso Nacional que é bolsonarista. Isso é uma questão que as pessoas têm que ter muita clareza", afirma o cientista político. Ele avalia que, talvez, Gleisi não tenha tanto espaço para fazer "esse tipo de manobra" em reuniões com parlamentares do Centrão, por exemplo. No entanto, o professor destaca que a deputada tem uma personalidade já estabelecida e é uma "grande mulher".
Prisão de Bolsonaro será ainda este ano, afirma o professor
O professor também falou sobre as expectativas para a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado. Para Daniel Cara, a prisão do ex-presidente deve ocorrer ainda este ano.
"Não existe alternativa", afirma o professor. Ele argumenta que qualquer decisão contrária à prisão de Bolsonaro seria "muito desmoralizante para o sistema de Justiça brasileiro diante das fartas provas".
"As provas são mais do que evidentes. O contexto era de conhecimento geral da população. Bolsonaro não articulou tentativa de golpe só nos bastidores, ele fez isso de maneira pública", diz.
O professor ainda acrescenta que, além da tentativa de golpe, Bolsonaro cometeu e continua cometendo o crime de lesa-pátria. "Ele reiteradamente vai contra as posições brasileiras. Quer dizer, uma pessoa que não tem nenhum compromisso. Então, eu de fato acredito que o sistema de Justiça, cumprido com todo o rito e toda a liturgia, não vai deixar passar essa injustiça", defende Daniel.
"Se o Lula, sem nenhuma prova consistente, sem nada que desabonasse a postura e a conduta do presidente, foi injustamente preso, eu acho que é mais do que evidente que nesse momento é preciso ter a consciência de que o Bolsonaro só tem um caminho diante de tudo o que está exposto, que é o caminho da prisão. Eu falo como cidadão. Eu não vejo outra saída", ressalta o cientista.
Daniel também defende que é preciso ter mobilizações de rua bem articuladas para cobrar a devida punição a Bolsonaro. Ele também argumenta que os formadores de opinião devem somar nessa mobilização.
O professor avalia que a prisão de Bolsonaro se tornou uma questão de "sobrevivência estratégica". "Hoje, os Bolsonaro são praticamente agentes do governo dos Estados Unidos, liderado pelo Donald Trump. O Eduardo Bolsonaro faz a defesa do Trump assustadoramente contra o Brasil. É asquerosa a postura dele nas redes sociais", declara.
Diante disso, Daniel entende que é preciso, inclusive por uma questão estratégica, que a Justiça faça com que a família Bolsonaro pague pelos crimes que cometeu via o próprio ex-presidente.
Confira a entrevista completa do professor Daniel Cara ao Fórum Onze e Meia
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