REFORMA MINISTERIAL

Governo Lula: Padilha busca "marca" para Saúde e Gleisi vai para cima de narrativas

Criador do Mais Médicos, Padilha toma posse na Saúde para dar visibilidade às políticas da pasta. Nas Relações Institucionais, Gleisi vai enfrentar narrativas e costurar acordos no Congresso Nacional

Gleisi com deputadas progressistas na Câmara e Padilha com o cubano Juan Delgado, hostilizado no Mais Médicos.Créditos: Bruno Spada Câmara / Roberto Stucker PR
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Em cerimônia no Palácio do Planalto às 15h desta segunda-feira (10) Lula dará posse a Alexandre Padilha, na Saúde, e Gleisi Hoffmann, que assume o lugar do colega na Secretaria de Relações Institucionais.

A posse dos dois novos ministros, de estrita confiança do presidente, marca uma reviravolta no governo Lula 3, que busca contentar a frente ampla que o elegeu diante da queda de braço entre Centrão, que ameaça deixar o ministério, e setores mais à esquerda, historicamente ligados ao ex-sindicalista, que defendem uma guinada mais progressista antes do início da disputa presidencial de 2026.

Padilha, que enfrentou uma missão árdua de domar Arthur Lira (PP-AL) à frente das Relações Institucionais, volta à Saúde para buscar uma "marca" forte para Lula, assim como cunhou o Mais Médicos no governo Dilma Rousseff (PT), em 2013.

O programa, que trouxe um Exército de médicos - especialmente de Cuba - para atuar em rincões onde profissionais brasileiros se recusavam a ir, foi um dos principais pontos de embate com a incipiente ultradireita, que destilavam preconceitos contra cubanos.

Dessas hostes se criaram alguns adeptos do bolsonarismo, como a médica Mayra Pinheiro (PL-CE), que ficou conhecida por hostilizar um colega cubano e hoje é suplente na Câmara Federal, chegando a assumir a cadeira de André Fernandes (PL-CE) durante as eleições municipais no ano passado.

Em publicação nas redes neste domingo (9), Padilha voltou a vestir o colete do Mais Médicos, sinalizando que vai voltar a colocar o programa no foco.

"Ser médico é, antes de tudo, compromisso com o cuidado e com quem mais precisa. Foi isso que aprendi com a minha mãe, dra. Leia, e o que guiou o meu trabalho no Núcleo de Medicina Tropical da USP, em Santarém, no Pará. Anos depois, construimos o Mais Médicos, levando atendimento para quem mais precisava. E amanhã, volto a assumir o desafio de ser ministro da Saúde do Brasil. Cuidar das pessoas sempre foi a minha missão. E continuará sendo. Vamos juntos", escreveu o ministro.

Além do Mais Médicos, Padilha recebeu como missão de Lula dar visibilidade ao Programa Mais Acesso a Especialistas (PMAE), considerado pelo presidente como uma das bandeiras do ministério, mas que teve pouca divulgação com Nísia Trindade à frente da pasta.

Antes de dar posse aos ministros, Lula se reuniu pela manhã com Sidônio Palmeira, ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, que, juntamente com Padilha, deve pensar um novo nome para o PMAE e a marca do programa.

Enfrentamento

Já Gleisi, que como presidenta do PT se incumbiu de fazer o debate com a oposição e a mídia liberal desde os tempos do lawfare da Lava Jato, vai endurecer a relação do governo com a oposição no Congresso, além de fazer o enfrentamento das narrativas.

Como deputada e presidenta do PT - cargo que passará para as mãos do senador Humberto Costa -, Gleisi não deixou sem resposta a artilharia de fake news e ataques o governo e ao campo progressista.

O principal trunfo de Gleisi nesse embate, especialmente com o Centrão, é a confiabilidade que passa no cumprimento de acordos.

Foi assim quando se colocou como principal fiadora da adesão à candidatura de Hugo Motta (Republicanos-PB) para eleição à sucessão de Lira na Câmara.

Apesar das críticas, que partiram de setores do governo e da própria bancada, Gleisi bancou o apoio e garantiu os votos.

Motta, por sua vez, tem dívida com a futura ministra e agora terá a fatura cobrada em algumas delas - como não pautar a anistia a Jair Bolsonaro (PL).

Com perfil diferente de Padilha, com quem tinha divergências nos bastidores, a deputada paranaense se comprometeu com Lula de fazer a articulação de forma transparente e dar publicidade às negociações do governo, o que pode inibir achaques - comuns na era Lira.

Esse é o principal ponto que motivou críticas da ala mais bolsonarista do Centrão, como do ex-Casa Civil Ciro Nogueira (PP-PI), que busca ampliar os tentáculos do partido no governo e agora ameaça retirar o único ministro, André Fufuca (PP-MA), da sigla.
 

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