ELEIÇÕES 2026

Centrão ameaça tirar ministros do governo Lula após queda na popularidade

PP, de Ciro Nogueira, PSD, de Gilberto Kassab, e Republicanos, de Marcos Pereira, se articulam para tirar ministros das siglas do governo e embarcar na oposição frontal a Lula com vistas a 2026

Kassab e Marcos Pereira com Tarcísio de Freitas e Ciro Nogueira com Bolsonaro.Créditos: Divulgação Republicanos e PP
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A queda na aprovação de Lula registrada em recentes pesquisas, de Datafolha à CNT, traz a reboque um outro problema que pode agravar a situação de governabilidade no terceiro mandato do presidente.

Partidos do Centrão, que foram ceivados com o orçamento secreto para se aliarem ao ex-governo Jair Bolsonaro (PL), ameaçam uma debandada da gestão Lula, tirando seus afiliados do ministério, construído justamente para dar capacidade para o presidente administrar o país e, principalmente, lidar com um Congresso totalmente desfavorável.

Comandante do PP, que assumiu a Casa Civil e transformou-se em presidente de fato durante o governo Bolsonaro, Ciro Nogueira (PI) afirmou que vai pressionar André Fufuca a deixar o ministério dos Esportes e fez ameaças ao governo

Indagado se já falou com Fufuca sobre a saída do governo, Nogueira diz que "já, eu disse que estou sendo pressionado".

Em seguida, ele ameaçou influenciar outros partidos do Centrão a deixarem o cargo.

"Se eu desembarco hoje, o União Brasil pode vir junto, o Marcos Pereira [presidente do Republicanos] é difícil ficar sozinho lá dentro. E eu não sei se o [Gilberto] Kassab [presidente do PSD] fica", disse em longa entrevista à Folha.

A estratégia desenhada pelo ex-ministro de Bolsonaro, no entanto, passa por "sangrar" Lula. O ex-presidente já reprimiu a ala mais radical da horda, capitaneada por Nikolas Ferreira (PL-MG) e Carla Zambelli (PL-SP), a não levantar a bandeira do impeachment de Lula.

"Acho que o governo tem um piso de aprovação. Porque uma coisa é tirar a Dilma [Rousseff] como a gente tirou. A Dilma tinha 7%. Lula nunca vai chegar a 7%. Então, acho que o ideal é dar governabilidade ao país para a gente fazer uma transição. Se eu fosse o presidente Lula, o mais rapidamente possível, eu anunciava que não era candidato e virava essa página", emendou Nogueira.

Após afirmar que o PP vai apoiar Bolsonaro ou "quem ele indicar em 2026" e debochar do governo e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad - "o povo tendo que declarar ovo no Imposto de Renda" -, Nogueira apontou a comunicação do governo e a exposição de Lula como principal problema atualmente.

"Quem está acabando com o Lula é o Sidônio [Palmeira, da Secom], a exposição dele. O cara fala 20 minutos, aí uma derrapada é o que mais vai para a internet", afirmou.

"Na época da campanha, Bolsonaro falando muito na TV era ruim. Quando botava o Lula falando, era bom para o Lula. Sidônio veio com essa imagem e é isso que está acabando com o Lula. Aí bota um monte de gente aplaudindo qualquer coisa que ele faz e ele fala aquelas besteiras. As pessoas enjoaram dessa forma de se comunicar. Eu aprendi uma coisa: quando o governo está mal, quanto mais você fala, pior. Porque as pessoas criam mais resistência. Eles acham que o Lula, por ser um grande líder, tem capacidade de convencer as pessoas. Estão expondo demais e isso está sendo o suicídio dele", concluiu.

Desembarque do PSD

Um dia antes da declaração de Nogueira à Folha, o ministro da Agricultura Carlos Fávaro, do PSD de Gilberto Kassab, vazou à CNN que avisou Lula que pode deixar o governo.

Favaro alegou, como álibi, que "não aceita fazer parte de um governo que taxa exportações do agro".

A declaração se deu pela pressão de uma parcela do governo e da bancada governista de taxar as exportações feitas por ruralistas, que formam uma das principais bases de apoio do bolsonarismo.

A taxação tem razão. O governo não cobra impostos das exportações para tornar o agro mais competitivo no cenário internacional. 

Na prática, no entanto, isso contribui para a desigualdade social. Em 2019, no governo Bolsonaro, as exportações brasileiras do agronegócio somaram US$ 96 bilhões. Os impostos pagos no período, em contrapartida, somaram parcos R$ 16,3 mil - isso mesmo, dezesseis mil reais. Os dados foram divulgados no relatório de 2020 da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos.

Na realidade, a ameaça de Carlos Favaro de deixar o governo está relacionada justamente à disputa presidencial de 2026.

Em janeiro, Gilberto Kassab disparou ataques a Lula - dizendo que ele perderia a eleição - e a Haddad, considerado sucessor natural do presidente.

Assessor pessoal de Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) no governo paulista, o cacique do PSD armou, segundo fontes palacianas, um "cavalo de Troia" no Planalto para desgastar o governo, especialmente na pauta econômica.

Kassab é o principal articulador da "frente ampla" que reúne mídia liberal, sistema financeiro e Centrão no apoio à candidatura Tarcísio como a terceira via anti-Lula em 2026.

Republicanos e evangélicos

Presidente do Republicanos, sigla que é o braço político da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) de Edir Macedo, Marcos Pereira também já sinalizou em entrevista ao jornal O Globo que deve desembarcar do governo antes de 2026.

"A tendência do partido é caminhar com alguém de centro-direita nas eleições presidenciais, mas não podemos cravar agora", disse em 30 de janeiro.

No dia seguinte, ao Metrópoles, Pereira dobrou a aposta e citou uma pesquisa do "mercado" para abandonar Lula em 2026.

"Eu vi uma pesquisa recente, feita pelo mercado, que mostra 79% de voto dos evangélicos em Lula na eleição de 2002. Essa desconexão do presidente Lula e da esquerda com o setor evangélico é causada pelas pautas progressistas. Quando o eleitor evangélico votou em Lula, não se sabia, penso eu, que esse partido e a esquerda teriam uma postura ativista nas pautas de costumes”, disse.

O bispo licenciado da Universal ainda sinalizou que trabalha para que Tarcísio, que vem sendo cortejado pelo PL, saia candidato à presidente pelo seu partido.

“Eu acho que esse campo [candidato da direita em 2026] está aberto. Só espero, e seria muito bom, que todo ele tivesse unido em torno de um só nome. Se houver divisão, acho que fica mais difícil uma eleição neste campo contra uma reeleição de Lula”.

Atualmente, o Republicanos ocupa o Ministério dos Portos e Aeroportos, comandado por Silvio Costa Filho, que chegou a ser cotado para assumir a Articulação Institucional no lugar de Alexandre Padilha, que assumirá o Ministério da Saúde.

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