Em entrevista ao Fórum Onze e Meia desta quarta-feira (26), o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) falou sobre a máquina de fake news da extrema direita e a necessidade da esquerda não só aprender como usar as redes sociais e o algoritmo a seu favor, mas também de se unir nesse ambiente digital como faz a oposição.
Durante sua fala, Boulos afirmou que a extrema direita evoluiu muito em saber como dominar as redes sociais indo além do método de uma linguagem simples e direta. O deputado citou a sua campanha para a Prefeitura de São Paulo no ano passado, quando teve que enfrentar uma máquina de fake news do candidato Pablo Marçal (PRTB). Ele afirma que apesar de ter uma equipe de monitoramento de resposta a fake news, Marçal conseguiu construir uma inovação de capacidade de engajamento.
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Através do Discord, uma plataforma de comunicação originalmente criada por gamers e pessoas jovens, Marçal criou campeonatos em que quem conseguisse viralizar mais e gerar mais engajamento para trechos de vídeos dele, seria pago em dinheiro.
"Esse sistema, inclusive, chegou a ter mais engajamento que o gabinete do ódio durante a eleição de 2022. O nosso monitoramento mostrou isso. O Marçal em agosto e setembro, que foram os meses mais fortes da campanha, teve engajamento que chegou a ser duas vezes superior ao do Bolsonaro na eleição presidencial. E é por isso que ele foi o primeiro a ameaçar a hegemonia do Bolsonaro na extrema direita. Eles se confrontaram. Porque ele [Marçal] tinha essa máquina", afirma Boulos.
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O deputado acrescenta que diante desse cenário, ele pôde perceber que há questões além da linguagem da extrema direita nas redes. "Ali eu percebi que tem um buraco mais embaixo que é a gente entender de uma vez por todas o funcionamento do algoritmo. A extrema direita soube manejar o algoritmo mais rapidamente que nós", avalia.
Boulos ressalta que é preciso, obviamente, considerar que as big techs são comandadas por milionários de extrema direita, que inclusive estiveram na posse do presidente Donald Trump, e que vão programar o algoritmo para priorizar postagens extremistas. "Mas tem um outro elemento: o algoritmo é uma inteligência artificial. O algoritmo, no fim do dia, o que ele quer é deixar aquele usuário mais tempo na plataforma", diz o deputado.
"É uma lógica econômica, que quanto mais tempo a pessoa está na plataforma, mais a plataforma ganha com anúncio, com publicidade. E a extrema direita entendeu isso rápido e foi eficiente em instrumentalizar. Nós ainda ficamos batendo cabeça. E eu vi com a eleição aqui em São Paulo, com a máquina do Marçal, o quanto isso é brutal", afirma Boulos.
O deputado acrescenta que, no fim, quem derrotou sua candidatura à prefeitura foi a "máquina de mentiras" de Pablo Marçal.
"Nós perdemos a eleição em São Paulo não foi para o Ricardo Nunes, quem nos derrotou, no final do dia, foi a máquina de mentiras do Marçal, porque a atuação dele no primeiro turno levou o sentimento da eleição para a direita, naturalizou o Ricardo Nunes, que perto do Marçal ele era até um bom moço, quase um padre, e em terceiro levou nossa rejeição para o alto com as acusações mentirosas", ressalta Boulos. "O jogo é bruto", desabafa.
"Eu acho que para além desse método de fazer o básico, vamos fazer nossa lição de casa. Nós temos que ter uma atuação mais profissional no manejo do algoritmo, porque eu fico imaginando, inclusive com a evolução de deep fake, o que que vai ser a eleição do ano que vem", finaliza o deputado.
Confira a entrevista completa do deputado federal Guilherme Boulos ao Fórum Onze e Meia abaixo:
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