GOVERNO LULA

Governo precisa de um freio de arrumação, defende Boulos

Em entrevista ao Fórum Onze e Meia, deputado debateu questão do preço dos alimentos e desafios para 2026 do governo Lula

Deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP).Créditos: Mário Agra/Câmara dos Deputados
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O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) esteve no Fórum Onze e Meia desta quarta-feira (26) para comentar sobre as mudanças necessárias no governo Lula diante dos resultados negativos das pesquisas de aprovação. Para o parlamentar, é "nítido" que o governo precisa de um "freio de arrumação"

Boulos defende que o governo precisa "comprar mais brigas", principalmente em relação ao preço dos alimentos, que é o principal fator de interferência nas altas taxas de desaprovação do governo Lula. "Eu acho que o governo precisa, em primeiro lugar, comprar mais brigas. Pega o tema do preço dos alimentos. Se a gente olhar a pesquisa segmentada de hoje da Quest, onde Lula está caindo? Caiu de forma significativa no Nordeste, classes C e D, na base lulista", afirma Boulos. 

O deputado conta que tem ida para as periferias de São Paulo conversar com a população e percebe que as pessoas entendem que o governo "está cercado", que "não está fácil pro Lula", mas reivindicam que o governo precisa "dar mais a cara tapa" pela população mais pobre. "Essa é a percepção que as pessoas colocam. Isso significa, por exemplo, que essa coisa do preço dos alimentos tem que entrar de uma maneira mais firme", diz Boulos.

"O governo precisa ser mais firme, mais ousado para enfrentar esse tema, porque na minha leitura, uma das coisas principais que está corroendo e gerando esse efeito nas pesquisas é o preço dos alimentos. E nós precisamos então atuar de uma maneira decidida", acrescenta o deputado.

Boulos avalia que há uma grande diferença entre perder no Sul e no Sudeste na classe média, que seria uma questão "mais política", e perder nos setores populares que gastam boa parte da sua renda com alimentos. "É lógico que nós estamos falando de política também, tem uma leitura, tem uma visão, mas nós estamos falando de bolso, de economia, na veia.

"Essa percepção já existe no governo, mas ela precisa ser traduzida em iniciativas práticas para recuperar", declara Boulos. "Este governo precisa dar certo. Não tem plano B", completa. 

"Se o governo Lula dá errado, quem vai governar o Brasil é a extrema direita, e volta com uma força igual o Trump nos Estados Unidos, que em um mês tá fazendo que ele não teve força para fazer em 4 anos, porque quando alguém tenta dar um golpe, fracassa e depois volta pelo voto popular, volta muito legitimado", explica o deputado.

"Então, nós temos que ser parte da construção de uma atuação para que o governo possa recuperar essa base social, esse terreno perdido, e chegue também em 2026 com muita força e com mais satisfação, entrega e resposta para as demandas do povo brasileiro", afirma Boulos.

"No fim do dia, a questão é simplesmente a seguinte: o que hoje está colocado no Brasil é que se a gente não trabalha para fortalecer e não para enfraquecer publicamente o governo, o resultado é uma chance real de retorno da extrema direita em 2026, de maneira mais feroz, a exemplo do que o Trump está fazendo nos Estados Unidos", alerta o deputado.

"Então a gente tem que saber fazer análise, tem que saber fazer as críticas, tem que saber qual é o espaço de crítica. Eu já sentei com o presidente Lula inúmeras vezes e coloquei o que eu penso dos limites do governo. Agora eu não acho que quem tem responsabilidade histórica com o momento que o país está vivendo, deve cumprir o papel de chegar aqui e sair atacando a torto e a direito o governo, acreditando que isso pode levar a conjuntura mais à esquerda. Não leva. Deveriam ter aprendido com que o Brasil viveu nos últimos 10 anos", finaliza Boulos.

Três desafios de mobilização para 2026

Em relação à preparação do governo já visando as eleições de 2026, Boulos afirma que tem realizado um diálogo com o presidente Lula e com os ministros, e cita três principais desafios. O primeiro desafio é em relação à comunicação da esquerda nas redes sociais. O deputado defende que é preciso uma melhor organização. "Nós precisamos organizar melhor o ecossistema do nosso campo digital, de comunicação, porque nós estamos perdendo a batalha de narrativa", diz. 

O deputado cita, por exemplo, os casos da fiscalização do Pix e da "taxa das blusinhas". "A extrema direita está ganhando e aí não adianta só apontar o dedo e dizer que a culpa é da Secom. É lógico que a comunicação do governo pode melhorar e está melhorando. Mas, assim, nós temos uma responsabilidade", analisa.

"Às vezes eu vejo a militância de esquerda se divertir em fazer auto flagelo na rede social sem entender o buraco que nós estamos metido, o risco que está colocado. Quando a extrema direita ataca, todos eles unificam a narrativa. Enquanto nós, você vai ver as nossas lideranças e referências, cada um está falando uma coisa", completa o deputado. 

"Para mim esse é um desafio chave. A disputa de narrativa hoje se dá pelas redes e nós estamos perdendo", diz.

O segundo desafio, segundo Boulos, é o "tradicional": ir para as ruas conversar diretamente com a população. "Eu não abro mão e eu não acho que a digitalização da política substituiu o pé no barro e o trabalho de base. O olho no olho tem um papel chave, ele não acabou, porque ele constrói confiança, constrói relações de maneira mais sólida e permanente do que uma intervenção de rede", defende. Para o deputado, as duas atuações são complementares.

"Eu tenho dito que o nosso desafio é pé no barro e celular na mão. É fazer a disputa digital e ao mesmo tempo estar nas periferias e dialogando com a nossa militância", afirma. 

O próprio deputado conta que tem organizado, pelo menos três vezes na semana, para estar em diversos bairros fazendo assembleias com o povo para conversar sobre a situação do país e mobilizar a militância. "Eu acho que a nossa militância, muitas vezes, está sem ânimo, sem tesão, sem discurso e nós precisamos incidir nisso. Para mim isso é um desafio", diz. Boulos propõe, por exemplo, a criação de um Mutirão Nacional de Trabalho de Base.

O último desafio citado por Boulos é retomar protestos nas ruas. "Estamos conversando com várias lideranças para fazer uma grande mobilização no dia 30. Eles [extrema direita] vão para a rua no dia 16? Bom, precisa ter resposta", defende o deputado, que planeja um grande ato nacional pelo movimento "Sem Anistia".

"Não é possível que tenha tido uma denúncia tão robusta como a do Gonet e a gente fique na defensiva nesse debate", diz. Nós temos que ir para a ofensiva e colocá-los na defensiva. Colocar a extrema direita e o bolsonarista na defensiva. Eu acho que esse é um ponto importante", acrescenta.

Confira a entrevista completa do deputado federal Guilherme Boulos ao Fórum Onze e Meia abaixo: 

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