Enquanto alimentam o jogo especulativo no mercado, banqueiros e executivos do sistema financeiro apostam todas as fichas no eleitorado evangélico para derrotar Lula e colocar no poder um governo à direita - excluindo totalmente o desgastado Jair Bolsonaro (PL) - em 2026.
O prognóstico, que colocou a Faria Lima em polvorosa, foi feito pela gestora de fundos Mar Asset, comandada por Bruno Coutinho (ex-BTG Pacutal, de Paulo Guedes), Philippe Perdigão (ex-Oportunitty, de Daniel Dantas) e Luis Moura (ex-3G Capital, do grupo Lemman).
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Moura ainda é "sócio investidor e membro do conselho de administração da Equatorial", grupo financeiro que arrematou, em uma privatização obscura e à toque de caixa, a Sabesp, entregue pelo governador paulista Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), principal aposta da terceira via - que une mídia liberal, sistema financeiro e Centrão - para as eleições de 2026.
Logo no prefácio, os autores dizem que "haverá um gatilho para estancar a piora macroeconômica e dos ativos financeiros brasileiros no futuro próximo" - mesmo com a taxa Selic batendo 13,25%, em viés de alta, com investimentos em renda fixa oferecendo até 16% de rendimento ao ano.
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"Nossa percepção é sustentada em dois pilares. Enxergamos uma inflexão conjuntural na economia, resultado de um ciclo econômico esgotado e com perspectiva de deterioração nos próximos anos. Ao mesmo tempo, identificamos uma alteração estrutural na sociedade brasileira, marcada pelo crescimento da população evangélica, que tem influenciado uma mudança no perfil do voto médio em direção ao conservadorismo e movimentado o pêndulo político brasileiro à direita", diz a análise.
Em seguida, os financistas admitem que, com Lula, "o crescimento do PIB surpreendeu os mercados de maneira expressiva, o desemprego alcançou os menores níveis históricos e a inflação se manteve em padrão historicamente baixo".
"A fotografia ao fim de 2024, bem resumida pelo famigerado índice de miséria - que é a soma da inflação com a taxa de desemprego - nos níveis mais baixos da nossa história, reflete exatamente o que o governo pretendia alcançar", emenda, ressaltando, no entanto, que o problema é estrutural "já que, apesar de o índice de miséria estar no nível mais baixo de sua história, seu efeito positivo sobre a popularidade presidencial decepcionou".
Cooptação pela ultradireita
A questão "estrutural", citada pelos financistas, se dá justamente sobre o nicho eleitoral evangélico.
Pesquisa Latam Pulse, realizada em parceria pela Atlas e Bloomberg e divulgada na semana passada, revela que a queda na aprovação de Lula está ligada diretamente à rejeição no eleitorado evangélico, que vem sendo cooptado pela ultradireita e soma atualmente 80,1% de desaprovação sobre o trabalho do presidente, segundo o estudo.
"Acreditamos que a ideia evangélica que melhor representa o momento social brasileiro é a Teologia da Prosperidade. Ela associa a fé em Deus com o sucesso material, saúde, bem-estar físico e emocional. Essa ideia enfatiza que o sucesso profissional faz parte da caminhada espiritual e seu avanço é uma benção de Deus ao bom fiel, enfraquecendo assim a conexão entre a melhora de vida pessoal com o governo corrente", diz a análise da Mar Asset.
Na prática, a tese pode ser vista na aliança Pablo Marçal (PRTB) e sua meritocracia "coaching" com o eleitorado evangélico e a Teologia da Prosperidade. O "ex-coach" liderou grande parte da disputa à prefeitura de São Paulo entre evangélicos e só perdeu apoio após entrada de Silas Malafaia, que comandou um batalhão de pastores para virar votos para Ricardo Nunes (MDB).
No estudo, a Mar Asset mostra uma deterioração do voto evangélico na esquerda tanto no âmbito municipal quanto nas eleições presidenciais, especialmente a partir de 2014, quando Dilma Rousseff (PT) venceu Aécio Neves (PSDB) "com cerca de 55% dos votos dos não evangélicos e 50% dos evangélicos".
"Nas eleições presidenciais de 2018, na vitória de Bolsonaro, o PT, através de Fernando Haddad, até obteve mais votos entre os não evangélicos, mas conquistou apenas 31% dos votos entre os evangélicos. Já nas eleições de 2022, que selou a vitória de Lula pela menor margem da nossa história, a conversão do eleitorado evangélico pelo candidato petista permaneceu nos mesmos 31% alcançados por Fernando Haddad em 2018. Contudo, entre os não evangélicos, Lula obteve impressionantes 60% dos votos, o que foi decisivo para assegurar sua apertada vitória", diz o texto.
"As eleições presidenciais de 2022 foram marcadas pela alta rejeição do presidente Bolsonaro. Ainda assim, pudemos ver o viés de direita do eleitorado se expressando nas eleições a governadores e nos mandatos legislativos como deputado federal e estadual. As recentes eleições municipais de 2024 aprofundaram o movimento à direita observado desde 2016, indicando novamente a tendência de vitória presidencial de um candidato conservador em 2026", emenda.
Na análise, os economistas afirmam que "o melhor momento econômico do atual mandato ficou para trás" e que o fator evangélico pesará a favor da direita no pêndulo eleitoral em 2026.
"Em resumo, a conjuntura econômica é um elemento significativo de dificuldade para as perspectivas políticas do atual governo. Paralelamente, o forte e contínuo crescimento da população evangélica vem produzindo uma direitização estrutural na sociedade brasileira. São dois poderosos vetores que convergem na mesma direção política: uma maior dificuldade para uma candidatura do PT em 2026", dizem os financistas.
"Essa combinação, ao nosso ver, torna minoritária a probabilidade de reeleição do Presidente Lula, algo que deve ser antecipado pelos mercados em algum momento de 2025", afirma o texto, convocando a guerra dos banqueiros contra Lula já para 2025.
Por fim, os FariaLimers sinalizam que as apostas em Tarcísio estão abertas, visto que já escantearam Bolsonaro e querem "sangrar" Lula ainda este ano.
"No cenário ideal, a antecipação da melhora viria por meio da indicação de que nem Lula nem Bolsonaro participariam do próximo pleito. Uma renovação geracional na política, com candidatos mais moderados em ambos os lados do espectro, teria enorme potencial para a evolução institucional do país", conclui o estudo oferecendo o sapatênis a Tarcísio de Freitas.