O ex-ministro e ex-secretário de Relações Institucionais do governo federal, Ricardo Berzoini, foi entrevistado no programa Fórum Onze e Meia, desta terça-feira (18), e avaliou questões relacionadas às críticas recebidas pelo executivo, até mesmo por setores ligados ao campo progressista.
Indagado sobre o tema, Berzoini revelou que observa um problema de coordenação do governo.
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“É óbvio que não podemos cobrar do Lula a solução para tudo, mas ele é o presidente. Há muita reclamação em relação ao funcionamento da chamada coordenação política. Não é uma crítica direta, mas é importante ver como às vezes as coisas podem ser melhor planejadas”, afirmou.
O ex-ministro citou um exemplo: “O governo chamou uma reunião para discutir o preço dos alimentos. Parece que havia cinco ministros. A expectativa que se criou é que dessa reunião sairia o anúncio de medidas concretas pra enfrentar uma questão que o governo não tem tanto poder assim, porque depende dos mercados local e internacional”, destacou.
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Porém, argumentou Berzoini, o governo gasta muito dinheiro com o Plano Safra. “Portanto, em tese, tem um poder de interlocução grande com o setor, tem o ministro da Agricultura que é do setor, além de ter o ministro do Desenvolvimento Agrário que é bem relacionado com a agricultura familiar”.
Berzoini ressaltou que, diante deste cenário, a expectativa que se criou é que, durante a reunião, seriam anunciadas medidas concretas. “Mas, na coletiva depois da reunião, em minha opinião, não foi preparado o que cada um ia dizer e só tinham, digamos, possibilidades de, talvez, quem sabe...”.
Na avaliação do ex-ministro, eventos como esse “desgastam o governo, tanto quanto o PIX. Isso pode estar ocorrendo por falta de coordenação política, planejamento do que vai ser dito. O governo não pode ser pautado, tem que pautar. Quando você tem um assunto como este, delicado, o preço dos alimentos, você tem que pensar o seguinte: ou eu tenho algo muito importante para dizer, ou vou tratar de outro assunto, vou criar outra pauta”.
Berzoini considera que o assunto não é de fácil solução. “O governo tem que agir no crédito, na questão fundiária, nos estoques. Isso revela uma falta de coordenação, que já apareceu na questão do PIX e já apareceu em outros assuntos que nós estamos torcendo para que o pessoal se acerte, para que não haja mais esse tipo de desgaste”, acrescentou.
“O que o PT cresceu na constituição, reduziu o trabalho de base”
Berzoini também analisou o avanço das igrejas neopentecostais nas periferias e como isso afeta, diretamente, a atuação e a aprovação do governo.
Ele destacou em, em pouco mais de duas décadas, mudou muito o cenário da periferia no Brasil.
“A presença dos evangélicos neopentecostais na periferia era muito menor do que hoje. O fato é que cresceu muito. A principal característica dessa atuação é que não é só religiosa. Aliás, não é nem majoritariamente religiosa, é comunitária. Há uma relação comunitária, de solidariedade, de busca de atendimento psicológico, de apoio a casais, apoio no desemprego”, disse.
“Eu creio que a esquerda fez menos isso do que no passado. A esquerda brasileira retrocedeu em capilaridade. O que o PT cresceu na constituição, reduziu o trabalho de base. Tenho insistido nisso desde a época do golpe. Há tempo de mudar essa percepção”, apontou Berzoini.
Veja entrevista completa com Ricardo Berzoini no Fórum Onze e Meia
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