O Editorial do Jornal O Globo de 8 de abril deste ano com o título “Lula promove retrocesso que pune os pobres” é uma verdadeira pérola de descaramento da direita midiática brasileira, que não admite fazer autocrítica do apoio que deu à farsa da Lava Jato, que redundou no governo fascista, golpista e negacionista do pior presidente da história. Esse apoio, através dos seus meios de comunicação, foi decisivo para o golpe militar de 1964, como já havia sido no cerco ao governo de Getúlio Vargas em 1954. Portanto, eles têm as mãos manchadas de sangue de várias vidas que foram ceifadas durante o golpe e outras centenas de milhares na pandemia.
O Governo Lula, ao suspender as privatizações de várias empresas brasileiras, está sendo fiel ao seu programa que foi amplamente debatido durante o processo eleitoral de 2022. Não suspender essas privatizações, danosas ao interesse nacional, seria estelionato eleitoral.
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Esse editorial, nada mais é do que uma defesa clara das grandes corporações empresariais que tentam se apropriar dos ativos do Estado brasileiro, em especial as empresas privadas de saneamento que podem até fazer investimentos, quando se apropriam de uma companhia de água, esgoto e saneamento, como a Cedae no Rio de Janeiro, mas a prestação de serviço é sempre onerada à população. Nenhuma empresa privada adquire um bem do Estado para fazer política social e bem-estar, mas sim na busca de obtenção do lucro para os seus acionistas. Quanto maior o lucro, melhor para eles.
Sobre os Correios, o editorial omite uma informação importantíssima: a empresa está presente em todos os municípios do país, operando em regiões deficitárias para assegurar o Serviço Postal e de logística de encomendas, com lucro operacional, mas sem a ganância das operadoras privadas. E que há um bom exemplo internacional, o da empresa dos correios na França que tem o controle total do governo francês. E a empresa dos correios francês é o controlador da CNP Assurances que tem mais de 170 anos na venda de seguros na França, com filiais espalhadas em cerca de 20 países na Europa e América Latina. No Brasil, comprou em 2000 por um valor irrisório de US$ 500 mil, o controle da Caixa Seguros, que pertencia à Fundação dos Economiários Federais - Funcef. Podemos citar outro exemplo da França, que está estatizando a companhia de energia. No Brasil, o governo Bolsonaro, Guedes e companhia venderam o controle da Eletrobrás. Isso, lógico, foi aplaudido pelos privatistas de plantão, inclusive os editorialistas da imprensa empresarial. A BR Distribuidora foi vendida e o poder público ficou privado (sem trocadilho) de exercer certos freios e contrapesos na distribuição de derivados de petróleo.
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O Governo Lula está corretíssimo ao suspender a privatização das suas empresas de processamentos de dados, como o Serpro e Dataprev. São empresas que detêm uma base de dados estratégica para que o governo possa potencializar as suas políticas sociais, fazendo com que os benefícios sociais cheguem com segurança à população mais desassistida.
A economia privada deve ser incentivada, inclusive em parcerias com o setor público, em inúmeras atividades que geram dinamismo econômico. Mas é patética a ladainha privatista que defende, na contramão do mundo desenvolvido, a privatização de tudo, como panaceia econômica. Há que se aprender com os fatos e cessar a estigmatização do papel do Estado.
O que realmente pune os pobres é a arrogância daqueles que detêm mais de 50% da riqueza nacional, sendo apenas 1% da população brasileira.
*Carlos Borges é economista e aposentado da Caixa e **Ricardo Berzoini é ex-deputado federal e aposentado do BB.
***Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.