As recentes pesquisas de opinião sobre o governo Lula apresentam um cenário contraditório à primeira vista. Enquanto o Datafolha registra uma queda na aprovação do governo, o Instituto Atlas aponta que Lula segue como favorito absoluto para a eleição de 2026. Já o Ipec, por sua vez, revela um aumento na resistência à sua possível reeleição. Os números, longe de indicar uma rejeição definitiva ao presidente, refletem um momento de transição política e econômica.
O escritor e historiador João Cezar de Castro Rocha, professor titular de Literatura Comparada na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), propôs uma reflexão sobre esse aparente paradoxo das pesquisas.
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Para ele, a pesquisa Datafolha expressa menos uma rejeição a Lula e mais uma insatisfação com a condução do governo, que tem feito concessões demais ao centro e à direita.
"O Datafolha cravou uma marca francamente negativa: a menor taxa de aprovação do presidente Lula em seus três mandatos. Contudo, 72 horas antes, o Instituto Atlas registrou um dado francamente positivo: o presidente Lula lidera todos os cenários da corrida presidencial em 2026. Como entender essa aparente contradição? Vamos conversar?", convoca em vídeo publicado em suas redes.
Rocha observa que a pesquisa do Datafolha, portanto, é um sinal de alerta, mas é, sobretudo, uma mensagem.
"O povo deseja que o governo Lula seja mais Lula e menos governo de concessões. O povo deseja que o governo Lula seja um governo à altura dos dois primeiros mandatos do presidente Lula entre 2002 e 2010. Se essa hipótese fizer sentido, a contradição se resolve".
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Datafolha: reprovação ao governo, mas não a Lula
A pesquisa Datafolha, divulgada em 14 de fevereiro de 2025, apontou que 24% dos entrevistados consideram o governo "ótimo" ou "bom", enquanto 41% o classificam como "ruim" ou "péssimo". A avaliação reflete um contexto de dificuldades econômicas, marcadas pela alta do câmbio, aumento dos preços dos alimentos e a elevação dos tributos estaduais sobre combustíveis.
Apesar do quadro, 32% dos brasileiros avaliaram a gestão como "regular", indicando que o cenário pode ser revertido com medidas eficazes na economia.
Atlas: Lula segue forte para 2026
Se a aprovação do governo caiu, Lula continua sendo o nome mais forte para as eleições presidenciais, segundo levantamento do Instituto Atlas, divulgado 72 horas antes do Datafolha. O presidente lidera todos os cenários eleitorais simulados, evidenciando que, mesmo com a insatisfação momentânea, a oposição ainda não construiu uma alternativa viável.
O favoritismo de Lula pode ser explicado por sua trajetória como um líder que trouxe crescimento econômico e inclusão social. Durante seus mandatos anteriores, o Brasil experimentou expansão do consumo, aumento do emprego e fortalecimento dos programas sociais, o que pesa na decisão do eleitorado quando se trata de definir o futuro.
Ipec: desejo por renovação, não rejeição
O Ipec, por sua vez, revelou que 62% dos entrevistados acreditam que Lula não deveria se candidatar à reeleição em 2026. Entre os eleitores que votaram no petista em 2022, 32% compartilham dessa opinião.
Isso, no entanto, não significa uma rejeição direta ao presidente, mas sim um desejo de renovação dentro do campo progressista. Muitos eleitores ainda preferem a continuidade do governo de esquerda, mas sem necessariamente defender um quarto mandato de Lula.
O desafio de Lula: mais identidade, menos concessões
O paradoxo das pesquisas indica que o governo precisa ajustar sua rota para fortalecer sua base eleitoral. Entre as medidas anunciadas para conter a insatisfação popular, destacam-se:
- Expansão do programa de distribuição de gás para famílias de baixa renda;
- Isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil;
- Criação de novas linhas de crédito acessíveis para pequenos empreendedores e famílias endividadas;
- Fortalecimento do programa Farmácia Popular, garantindo medicamentos gratuitos para doenças crônicas.
Além dessas iniciativas, há uma cobrança por um governo mais alinhado com os primeiros mandatos de Lula, que marcou sua gestão pela inclusão social e crescimento econômico.
Lula ainda domina o cenário, mas precisa dar respostas concretas
A combinação dos três levantamentos mostra que o lulismo segue como a principal força política do Brasil, mas enfrenta o desafio de recuperar a conexão com seu eleitorado tradicional.
Se Lula continuará ou não como candidato em 2026, o tempo dirá. Mas uma coisa é certa: o Brasil ainda não encontrou um nome capaz de desafiá-lo nas urnas. O desafio do governo, agora, é responder à expectativa popular e consolidar políticas que tragam resultados concretos. Afinal, como disse João Cezar de Castro Rocha, o que se espera não é um governo qualquer – é um governo Lula.