BRASÍLIA

Anderson Torres tenta se desvincular do 8 de janeiro alegando desconhecimento de relatório chave

Defesa do ex-secretário de Segurança do DF se apoia na falta de provas de que ele recebeu documento, mas evidências mostram sua comunicação com subordinados que tinham acesso ao material

Bolsonaro revela missão inacreditável com Trump e Milei.Créditos: Lula Marques
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A apuração sobre a omissão das autoridades de segurança do Distrito Federal nos atos de 8 de janeiro ganhou novos contornos, com o Supremo Tribunal Federal (STF) aprofundando a investigação sobre possíveis falhas na circulação do chamado Relatório 6 de Inteligência. O documento continha alertas sobre os riscos de manifestações violentas e foi produzido pela Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP/DF). Agora, uma das linhas de investigação da PF busca entender se houve tentativa deliberada de ocultar ou minimizar as informações sensíveis contidas no relatório.

O ex-secretário de Segurança Pública, Anderson Torres, sempre negou ter recebido o documento antes dos ataques e sustentou que não houve falhas de sua parte. A defesa de Torres tem centrado sua estratégia em negar que ele tenha tido acesso ao Relatório 6, documento de inteligência produzido pela subsecretária Marília antes dos atos de 8 de janeiro. No entanto, transcrições e depoimentos sugerem que, ainda que não tenha lido o documento diretamente, Torres estava em comunicação com subordinados que o acessaram.

Em um dos trechos apurados, o tenente-coronel Rosivan Correia de Souza, assessor direto da então subsecretária de Operações Integradas, Cíntia Queiroz, teria declarado no Processo Administrativo Disciplinar (PAD) de Anderson Torres que o documento só foi aberto no dia 9 de janeiro, após os ataques. Entretanto, um depoimento no Inquérito Policial Militar (IPM) aponta que Rosivan recebeu e abriu o documento ainda no dia 6 de janeiro, pouco depois das 17h. Essa informação, segundo registros, poderia ser confirmada por imagens de câmeras de segurança. Caso essa evidência seja comprovada, desmontaria a tese de que nenhuma das autoridades da SSP/DF teve acesso prévio ao relatório.

Outra figura central na investigação é o então Secretário Executivo da SSP/DF, Fernando Oliveira, que, de acordo com as apurações, manteve contato constante com Torres e teria recebido o relatório antes dos ataques. A suspeita do STF é que houve uma tentativa de esvaziar a responsabilidade de determinadas autoridades na prevenção dos atos do dia 8. Além disso, conversas trocadas entre Fernando Oliveira e outros agentes de segurança indicam que o teor do relatório foi discutido internamente, o que reforça a hipótese de que o documento não foi ignorado por completo.

As investigações também analisam se houve uma cadeia de omissão dentro da SSP/DF, na qual informações de inteligência não foram devidamente compartilhadas com órgãos como a Polícia Militar e o STF, que poderiam ter reforçado as medidas de segurança. A falta de repasse dessas informações estratégicas levanta suspeitas de que houve uma decisão deliberada de minimizar a ameaça representada pelos manifestantes. Esse fator é considerado crucial para determinar a responsabilização das autoridades.

Outro ponto de atenção no inquérito conduzido pelo STF é a tentativa de reconstituir a cadeia de comando da SSP/DF nos dias que antecederam os atos. Registros indicam que a comunicação entre Torres e seus subordinados foi frequente até o dia 6 de janeiro, quando o ex-secretário embarcou para os Estados Unidos. No entanto, ainda não há clareza sobre quais ordens foram repassadas ou omitidas durante esse período. A defesa de Torres alega que sua ausência física o isenta de qualquer responsabilidade direta, mas os investigadores avaliam se houve negligência na delegação de funções e na resposta ao agravamento da crise.

O Supremo Tribunal Federal tem tratado a investigação com prioridade máxima, dada a gravidade dos eventos de 8 de janeiro. Caso fique comprovado que houve negligência ou omissão intencional, os responsáveis podem enfrentar penalidades severas, incluindo processos administrativos e criminais. A análise das provas, incluindo depoimentos contraditórios e registros de comunicação, será fundamental para definir os próximos passos da investigação.

Com esses novos elementos, o STF segue analisando a responsabilidade das autoridades envolvidas e avalia se as divergências nos depoimentos representam mera confusão ou uma estratégia de defesa para ocultar falhas na segurança do Distrito Federal antes dos ataques. O avanço das investigações pode trazer novos desdobramentos e impactar diretamente a responsabilização dos envolvidos.

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