A poucas horas do evento em memória dos ataques antidemocráticos de 8 de janeiro, o governo Lula demonstra apreensão quanto à adesão de militantes e movimentos sociais, além da participação popular no ato. Fontes ligadas à organização revelaram preocupações com o baixo número esperado de participantes. Internamente, circula a estimativa de 2 mil pessoas no evento, enquanto a expectativa inicial era lotar a Praça dos Três Poderes, que comporta até 50 mil pessoas.
Conforme já noticiado anteriormente por esta coluna, membros de movimentos sociais criticaram a falta de articulação com o governo, apontando dificuldades no alinhamento para a organização do ato. Essa ausência de diálogo gerou incertezas sobre o formato do evento e a participação dos movimentos, dificultando a mobilização em torno de um momento simbólico para a democracia.
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Essa incerteza resultou, inclusive, em mudanças na comunicação oficial do ato. O que inicialmente foi divulgado como um “abraço à Praça dos Três Poderes” passou, nos últimos dias, a ser chamado de “abraço à democracia”. A alteração de tom reflete uma tentativa de manter o foco na simbologia do evento diante da possibilidade de um público reduzido, além de ser uma estratégia para reforçar a mensagem do governo mesmo com a adesão limitada.
A baixa mobilização preocupa o governo e pode ter impactos políticos diretos. O ministro Márcio Macedo, da Secretaria-Geral da Presidência da República, responsável pela articulação do evento, já enfrenta críticas internas. No ano passado, durante o evento de 1º de maio, Macedo foi publicamente repreendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva por levar o chefe do Executivo a um ato esvaziado, com baixa participação de sindicalistas. Caso o ato de 8 de janeiro repita o cenário de baixa adesão, isso poderá reforçar os argumentos para sua substituição na iminente reforma ministerial.
Além disso, a organização enfrenta tensões em relação à segurança do presidente. Lula determinou que o evento ocorra sem grades, priorizando o contato direto com o público. A decisão contraria a recomendação do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que defende o uso de barreiras de proteção em eventos públicos, especialmente após a recente tentativa de atentado na Praça dos Três Poderes. A orientação do presidente gerou desconforto entre as autoridades responsáveis pela segurança, que consideram arriscada a ausência de barreiras em um evento dessa magnitude.
Com o tempo cada vez mais curto, a organização do evento segue marcada por incertezas. A falta de articulação consolidada com os movimentos sociais e a preocupação com a adesão popular deixam o governo em alerta. Para o presidente Lula, o evento é uma oportunidade de reforçar a defesa da democracia e demonstrar proximidade com a população, mas o descompasso entre planejamento e execução ameaça os resultados esperados.
A coluna já havia apontado anteriormente que o ato de 8 de janeiro representa não apenas um marco simbólico, mas também um teste para a capacidade do governo de mobilizar sua base e garantir a segurança do presidente em um contexto de alta exposição. As críticas dos movimentos sociais à falta de diálogo e as tensões internas apenas reforçam os desafios de um evento que deveria unificar forças, mas que, até agora, enfrenta dificuldades para atingir esse objetivo.
Em tempo
A assessoria de comunicação da Secretaria-Geral da Presidência da República entrou em contato com a coluna informando que não está responsável por qualquer interlocução ou ato dos movimentos sociais amanhã e que suas atribuições são apenas em relação ao evento nas dependências do Palácio do Planalto e que ainda está em discussão sobre a participação do presidente no ato com os movimentos sociais.