O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) concedeu uma entrevista ao jornal norte-americano The New York Times, publicada nesta quinta-feira (16), na qual falou sobre vários assuntos relacionados à sua atual situação frente a Justiça brasileira, além de abordar aspectos relacionados às recentes mudanças no mundo das redes sociais e em relação ao futuro político do Brasil. Mas uma declaração em especial soou bastante incomum.
Jack Nikas, o repórter que é correspondente no Brasil do mais conhecido jornal dos EUA, perguntou sobre a recente insistência de Bolsonaro em ter de volta seu passaporte para que pudesse participar da festa de posse de Donald Trump, eleito pela segunda vez para ocupar a Casa Branca. O jornalista partiu do princípio de que o ex-ocupante do Palácio do Planalto de fato foi convidado e, para sua surpresa, ouviu do líder extremista brasileiro como se sentiu com o suposto convite.
Te podría interesar
“Me sinto como um menino novamente com o convite de Trump. Estou entusiasmado. Eu nem tomo mais Viagra”, respondeu Bolsonaro a Nikas, que interpretou suas palavras na matéria como “um humor adolescente". Bolsonaro disse ainda que não poderia se sentir de outra forma, num sinal de vassalagem e submissão inacreditável diante de um chefe de Estado de outra nação. “O gesto de Trump é motivo de orgulho, certo? Quem é Trump? O cara mais importante do mundo”, disse.
Sobre os dias que tem vivido no Brasil, com a Justiça o investigando em três inquéritos diferentes, depois de suas estrepolias no cargo, e de fazer de tudo para dar um golpe e permanecer com a faixa presidencial, Bolsonaro fez o que faz de costume: postou-se como vítima e entrou em teorias conspiratórias. Aliás, o próprio repórter diz no texto que o político brasileiro é afeito a essas teses mirabolantes.
Te podría interesar
“Eles me observam o tempo todo... Acho que o sistema não me quer preso, ele quer que eu seja eliminado”, falou o ex-presidente.
Ao ser questionado se esperava algo diretamente de Trump para aliviar sua situação, ele procurou não pressionar o futuro presidente dos EUA, mas outra vez sinalizou com um gesto de submissão vergonhoso ao rogar que um país estrangeiro influencie em assuntos internos do Brasil
“Não vou tentar dar conselhos a Trump, nunca... Mas espero que a política dele realmente tenha impacto no Brasil”, sonhou o extremista.
Quando o assunto foi os sucessivos planos apresentados para tentar reverter sua derrota nas urnas, Bolsonaro admitiu apena que teve conhecimento da ideia de se decretar estado de emergência para evitar a posse do presidente Lula (PT). “Não vou negar isso a você”, confessou. Só que na sequência ele fez algo que até agora não havia feito, assumir que foi derrotado pelo adversário que trata como um inimigo mortal. Ele fez a confissão falando sobre um suposto momento em que sua equipe partidária teria insistido para que a medida do estado de emergência fosse pautada no Congresso, para ser votada. “Esquece... Nós perdemos”, disse ele a Nikas.
Como já vinha fazendo em suas entrevistas e declarações no Brasil, Bolsonaro falou do sinistro plano descoberto pela PF em que Lula, seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), e o ministro Alexandre de Moraes, do STF, seriam assassinados por militares de seu círculo político. Por óbvio, o ex-presidente disse que a história poderia até ser real, mas que jamais soube dela e que não teve participação alguma.
“Quem quer que tenha elaborado este possível plano deve ser responsabilizado... Da minha parte, não houve tentativa de execução de três autoridades”, alegou na entrevista, ainda que tenha posteriormente tentado tirar a credibilidade dos investigadores. “Mesmo assim, acho que foi apenas mais uma fantasia, bravata. Nada. Este plano é inviável. Impossível”, acrescentou.
O jornalista do NYT abordou Bolsonaro ainda sobre os planos para o futuro, já que segue inelegível até 2030. Ao citar como opões para uma candidatura à Presidência da República seus dois filhos, o senador Flávio (PL) e o deputado federal Eduardo (PL), ele simplesmente negou qualquer apoio à ideia e insinuou que os dois não possuem bagagem para isso. “Para ser presidente aqui e fazer a coisa certa é preciso ter alguma experiência”, alegou.
É curioso notar que nesse ponto da entrevista, Nikas cita que um outro filho de Bolsonaro, o vereador carioca Carlos (PL), acompanha toda a conversa de perto, “olhando sem expressão para o pai”, algo que também não é tão revelador quando se trata de um sujeito com hábitos e atitudes tão confusas e esquisitas como o rebento 02.
No papo com o NYT, Bolsonaro teve tempo ainda de lançar suas frases de efeito que supostamente revelam uma coragem que nem sempre pode ser conferida na sua vida real, como na ocasião em que ele fugiu para a embaixada da Hungria, em 2024, para não ser preso. Ele respondeu sobre ter algum receio de ser julgado.
“Não estou preocupado em ser julgado... Minha preocupação é quem vai me julgar”, respondeu.