“Dizer a esse ministro que ele tem tempo ainda para se redimir, tem tempo ainda para arquivar os seus inquéritos”, discursava o então presidente Jair Bolsonaro (PL), em plena Avenida Paulista, em 7 de setembro de 2021. Nesse momento, notou que o público reprovava a ideia do ministro “ter tempo para se redimir”, mudou o semblante e vociferou, para o delírio dos seguidores presentes: “Na verdade, acabou o tempo dele. Sai, Alexandre de Moraes, deixa de ser canalha!”.
Três anos depois, em 2024, Alexandre de Moraes segue sendo o principal alvo de Bolsonaro e de seus seguidores, sejam eles pessoas anônimas, famosos da internet ou parlamentares. Moraes teve um importante papel nas eleições de 2022 ao frear o abuso da máquina pública e da desinformação na tentativa de reeleição do então presidente. Depois disso, relatou com firmeza inquéritos sobre as milícias digitais e as tentativas de golpe de Estado.
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Ao longo desta semana, a Folha de S. Paulo entrou passou a publicar uma série de reportagens que denunciam supostas atividades ilícitas do ministro, que é do Supremo Tribunal Federal (STF) e, à época das eleições, também presidia o Tribunal Superior Eleitoral.
Logo após a primeira denúncia na última terça-feira (13), que nada de irregular mostrava para além da adjetivação de Glenn Greenwald e de Fábio Serapião, os autores das reportagens, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) anunciou que articularia um impeachment do ministro. Na quinta-feira (15), uma nova reportagem, também sem grandes descobertas, atiçou ainda mais os ânimos dos bolsonaristas, até que chegou nesta sexta-feira (16) e a publicação de uma terceira reportagem - que acusa o magistrado de usar o TSE em benefício próprio - ensejou um movimento mais concreto dos bolsonaristas.
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Amigo pessoal e aliado de Bolsonaro, o pastor Silas Malafaia anunciou à imprensa e às redes sociais que está organizando um novo protesto na Avenida Paulista, em sete de setembro de 2024, para cobrar o impeachment de Moraes. Para o pastor, a única coisa que o faria voltar atrás em relação à campanha seria o ministro arquivar os processos e inquéritos que pesam contra as lideranças de extrema direita.
Malafaia também anunciou que Jair Bolsonaro deverá ter uma participação discreta na manifestação, uma vez que é alvo de uma série de inquéritos e processos no Supremo, mas que os deputados Nikolas Ferreira (PL-MG) e Gustavo Gayer (PL-GO), e o senador Magno Malta (PL-ES) confirmaram presença e devem dar o tom de gritaria e histeria coletiva que caracteriza as manifestações bolsonaristas.
Como a possibilidade real de abertura de um processo de impeachment contra Alexandre de Moraes é considerada ainda longe da realidade, a aposta dos bolsonaristas é usar a manifestação para recolher assinaturas e apresentar o pedido apenas dois dias depois. Resta ver se essa nova tentativa de escapar dos olhos da Justiça será ou não bem sucedida.