Na véspera da largada da campanha eleitoral, que começa nesta sexta-feira (16), Jair Bolsonaro (PL) largou a mão de Ricardo Nunes (MDB), oficialmente seu candidato à prefeitura de São Paulo, e lançou o "código", como define o próprio ex-coach, para que a horda de aliados apoiem Pablo Marçal (PRTB).
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Marçal: ex-seguidora desnuda método charlatão para enganar "fiéis" e ganhar dinheiro
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Em entrevista a uma rádio de Natal, no Rio Grande do Norte, nesta quinta-feira (15), Bolsonaro destilou toda sua insatisfação por ter sido forçado a apoiar Nunes.
A aliança do atual prefeito com o PL foi costurada ainda em 2022 por Valdemar da Costa Neto e Bolsonaro nunca escondeu a insatisfação. Coube ao ex-presidente apenas indicar o vice, o ex-comandante da Rota, coronel Mello Araújo, que tem sido escondido na campanha, assim como seu padrinho.
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"Olha, eu queria [como candidato] à prefeitura o Ricardo Salles [deputado e ex-ministro do Meio Ambiente]. Foi uma queda de braço, até o momento que o Valdemar ganhou. Ai, tudo bem. Eu não entro na campanha. Só vou passar por São Paulo usando [o aeroporto de] Congonhas por ocasião das eleições. Ai, ele me ofereceu a vice. Indiquei um coronel, o nome dele é Mello Araújo, ex-comandante da Rota que nos últimos dois anos de meu governo administrou a Ceagesp. A Ceagesp passa 50 mil pessoas por dia. Lá é uma bagunça, tudo que se pode de ruim, que se possa imaginar. E ele botou ordem naquilo lá. Botou uns 10 dele, da Rota, da reserva, e mostrou ser um baita de um gestor", disse ao ser indagado sobre a eleição na capital paulista.
Bolsonaro, então, rifa o apoio a Nunes. "Esse é meu vice que está lá. Fechei com o Ricardo Nunes. Não é meu candidato dos sonhos, mas eu tenho um compromisso e vou ajudá-lo onde for possível".
Em seguida, sem ser indagado, o ex-presidente rasga elogios a Marçal, que vem disputando o eleitorado da direita com Nunes.
"E lá tem uma figura nova, o Pablo Marçal, que fala muito bem, uma pessoa inteligente, tem suas virtudes. Não tem experiência, mas faz parte", emendou Bolsonaro.
A entrevista foi rapidamente capitalizado por Marçal, que fez uma edição do vídeo e soltou em suas redes sociais.
"Qual o código que o presidente Jair Messias Bolsonaro passou nesse vídeo?", indagou na publicação, usando a linguagem de coach.
"Traidora"
O desembarque definitivo do clã Bolsonaro da candidatura de Nunes na capital paulista aconteceu nesta semana, quando o atual prefeito, que disputa um novo mandato com o apoio do PL, lançou um vídeo em apoio à Joice Hasselmann (Podemos), que disputa uma cadeira na Câmara Municipal.
"É inacreditável como Nunes cava a própria sepultura. Como pode apoiar a maior traidora do bolsonarismo? Ele tem o apoio do PL, mas erra nos acenos, nesta coisa de se mostrar ao centro. É nesse vácuo que o Pablo Marçal (PRTB) tem crescido, por se alinhar com o eleitorado fiel aos nossos valores. Falta diálogo conosco. Como fazer vídeos com a Joice? Ele acha que ter um vice do PL traz, automaticamente, a direita?", questionou Eduardo Bolsonaro (PL-SP), em vídeo.
Filiada ao Podemos, Joice Hasselmann pretende retomar a carreira política. Após romper com Bolsonaro, de quem foi líder no Congresso, Hasselmann perdeu mais de 90% do seu eleitorado, não se reelegeu deputada federal e virou uma espécie de "coach" de emagrecimento nas redes.
Fogo no parquinho
A troca de tiros na direita paulistana rachou o eleitorado bolsonarista e provocou uma hecatombe no desempenho de Ricardo Nunes nas pesquisas.
Buscando incialmente fazer uma linha mais conciliadora, escondendo o apoio de Bolsonaro, Nunes foi tragado por Pablo Marçal, que cooptou o eleitorado carente do baixo nível do ex-presidente e de seus jargões para atacar "comunistas".
Segundo Bela Megale, no jornal O Globo, Nunes tem sofrido pressão de bolsonaristas que estão na campanha para radicalizar o discurso e usar mais a figura do ex-presidente para tentar estancar a sangria causada pelo ex-coach.
No entanto, a avaliação é que Nunes pode enterrar definitivamente sua candidatura ao forçar, neste momento, a aliança com Bolsonaro, rejeitado por mais de 60% do eleitorado paulistano, segundo pesquisa Datafolha.
A grande questão é que marqueteiros de Nunes não sabem o que fazer com o fator Marçal e o clima é de pessimismo logo na largada de uma campanha curta, em que o prefeito terá 45 dias para tentar anular o agora candidato de Bolsonaro e definir quem irá ao segundo turno, provavelmente contra Guilherme Boulos (PSOL).