RELIGIÃO E POLÍTICA

Religião do candidato decide o voto de um terço dos eleitores

23% dos entrevistados classificam a fé dos políticos como “importante”, enquanto 13% veem a manifestação religiosa como um indicador “muito importante” de confiança. Proporção aumenta entre evangélicos

Religião do candidato decide o voto de um terço dos eleitores.
Escrito en POLÍTICA el

Uma pesquisa nacional realizada pelo Ipespe revelou que um terço dos eleitores brasileiros considera a religião dos candidatos a prefeito um critério relevante na hora de decidir seu voto nas eleições de outubro. Segundo os dados, 23% dos entrevistados classificam a fé dos políticos como “importante”, enquanto 13% veem a manifestação religiosa como um indicador “muito importante” de confiança.

A pesquisa destaca que a comunidade evangélica, em expansão no Brasil, é o grupo que mais valoriza a religião dos candidatos. Entre os evangélicos, 43% avaliam a fé como um fator crucial na escolha do voto. Essa porcentagem se aproxima dos 46% que afirmam não se importar com a religião dos candidatos, dentro de uma margem de erro de 1,8 ponto percentual.

No cenário geral, 81% dos eleitores se dizem indiferentes à religião dos postulantes, enquanto 16% preferem que o candidato compartilhe da mesma crença que eles. Entre os evangélicos, essa exigência é mais acentuada, com 28% dos eleitores desse grupo esperando que o político siga a mesma fé.

Há tempos a Fórum tem mostrado as articulações estratégicas no meio evangélico para eleger candidatos alinhados com pastores em grandes cidades e capitais do país. As campanhas já reconhecem a importância desse eleitorado e têm buscado aproximação com as igrejas. No Rio de Janeiro, por exemplo, o prefeito Eduardo Paes (PSD) compareceu a eventos em igrejas no Centro e em Madureira. Em São Paulo, o atual prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), que é católico, participou da inauguração de um novo templo da Assembleia de Deus na Zona Leste.

O cientista político Antonio Lavareda, presidente do conselho científico do Ipespe, afirmou que o voto religioso sempre foi presente, mas acredita que, apesar do crescimento desse eleitorado, a religião não será o fator decisivo nas eleições. Ele ressalta que os evangélicos tendem a agir de forma mais coesa, influenciados pelos líderes religiosos.

A pesquisa foi encomendada pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e realizada entre os dias 4 e 10 de julho, com 3 mil eleitores entrevistados por telefone. A margem de erro do levantamento é de 1,8 ponto percentual.

Campanha contra o “voto de cajado”

Todos os anos eleitorais, grupos evangélicos, principalmente do campo progressista se unem em campanha contra o chamado “voto de cajado”, que seria uma versão evangélica do famoso “voto de cabresto”. Um dos movimentos mais atuantes na luta contra este tipo de voto é a Rede Fale, que se define como “uma rede de pessoas que oram e agem publicamente contra a injustiça em nosso país e no mundo”.

Na avaliação da Rede Fale, um dos perigos para o cristão que deseja atuar politicamente é achar que, por ser “crente”, está abençoado para a política. “Essa é a concepção que leva milhões de brasileiros a votar no ‘pastor’ ou no ‘irmão’ abençoado pelo pastor. Como consequência, muitos parlamentares são eleitos sem compromisso com a justiça ou a democracia, e sem coerência partidária, programática ou ideológica, e se tornam ‘despachantes de igrejas’ – gente que vota sempre para a expansão do poder de suas igrejas, associações, rádios e empresas”, o que caracterizaria o voto de cajado.