Um relatório elaborado pela Polícia Federal (PF) chegou à conclusão que houve, de fato, um esquema de desvio de verbas em creches administradas por organizações sociais (OS) em São Paulo.
Além disso, apontou que é preciso continuar investigações sobre Ricardo Nunes (MDB). A PF suspeita que o atual prefeito de São Paulo esteja envolvido com “lavagem de dinheiro”.
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Depois das primeiras investigações foram indiciadas 116 pessoas. Em relação a Ricardo Nunes, a PF indicou que sejam obtidos dados de outros processos e de sigilos bancários para que seja apurado sua relação com o esquema.
O relatório aponta ligações entre o prefeito, vereador à época, e a Associação Amiga da Criança e do Adolescente (Acria), entidade que gerencia, hoje, nove Centros de Educação Infantil (CEIs) em São Paulo.
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Conforme as investigações, reveladas pela Folha de S.Paulo e confirmadas pelo Globo, Elaine Targino da Silva, presidente da Acria, foi funcionária da Nikkey Serviços S/S, empresa de controle de pragas, que tem como sócias Regina Carnovale Nunes e Mayara Barbosa Nunes, esposa e filha do prefeito, respectivamente.
Além disso, há outros indícios: três funcionárias que faziam parte da direção da entidade já trabalharam como assessoras no gabinete de Nunes na Câmara Municipal.
E mais: Reinaldo Tacconi, também assessor de Nunes, quando ele era vereador, fazia parte de outra OS que gerencia creches na capital paulista: Sociedade Beneficente Equilíbrio de Interlagos - Sobei.
Recursos de OS na conta de Nunes
Conforme o documento da PF, foi encontrado, também, um repasse da empresa Francisca Jaqueline Oliveira Braz Eireli para a conta de Ricardo Nunes, por meio de dois cheques. O depósito foi feito em 27 de fevereiro de 2018, no valor de R$ 11.590,16.
A PF afirma que essa empresa é suspeita de emitir notas frias, ou seja, de serviços que nunca foram prestados, para as ONGs que integram o esquema de desvio de verbas.
Na mesma data em que os cheques foram compensados, houve uma remessa de R$ 20 mil da empresa Francisca Jaqueline Oliveira Braz Eireli para a Nikkey.
Em resumo: no total, houve repasse de R$ 31.590,16 no mesmo dia para Ricardo Nunes da conta da empresa, uma parte para sua conta pessoal e outra para sua empresa Nikkey.
‘É suspeita essa relação do então vereador Ricardo Luis Reis Nunes, atual prefeito de São Paulo, com uma das principais empresas atuante do esquema criminoso de desvio de verba pública do município de São Paulo, que movimentou a quantia de R$ 162.965.770,02 no período do afastamento bancário, como também a OSC ACRIA”, destaca a PF.
Elaine Targino, então presidente da entidade, diz que os valores recebidos da empresa Francisca Jacqueline Oliveira Braz, que totalizaram R$ 1,3 milhão, seriam “doações”. Ela prometeu apresentar comprovantes, mas não cumpriu.
Ricardo Nunes, por sua vez, declara que já coordenou a Nikkey, e que sua empresa prestou serviços de dedetização para a Acria no valor de R$ 50 mil. Entretanto, como foram em oito creches, por um ano, o valor foi baixo, cerca de R$ 500 por mês, “praticamente preço de custo”.
Ele afirma, ainda, que chegou a fazer o serviço sem cobrar em algumas ocasiões. Segundo a PF, Nunes “apresentou alguns documentos de 2019, porém as transferências questionadas são de 2018”.
Nunes nega envolvimento
O atual prefeito de São Paulo negou envolvimento com o esquema das creches e apontou intenções políticas.
“Estamos a dois meses da eleição, infelizmente sempre tem essa situação das pessoas criarem contexto. Esse processo tem mais de 20 mil folhas, em nenhum momento aparece a citação do meu nome, inclusive há mais de dois anos foi pedido para mim alguns esclarecimentos. Prestei todas as informações necessárias. Nunca tive nenhum indiciamento, não tenho nenhum processo, nenhuma condenação. Então, a gente tem uma pessoa que está indiciada, que tem uma questão muito forte com relação à prática de ilegalidades, querendo atuar num processo eleitoral de uma forma totalmente injusta”, alega Nunes.