Ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Jair Bolsonaro (PL), o delegado Alexandre Ramagem, atual deputado federal pelo PL do Rio de Janeiro, criou um dossiê secreto para Flávio Bolsonaro (PL-RJ) usar em sua defesa no caso de corrupção das "rachadinhas".
O novo dossiê, encontrado em formato digital pela Polícia Federal, foi criado um mês antes de Ramagem ser indicado por Bolsonaro para substituir Maurício Valeixo para o comando da Polícia Federal em abril de 2020.
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A nomeação, no entanto, foi suspensa por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e Ramagem seguiu à frente da Abin, onde teria criado juntamente com Carlos Bolsonaro (PL) uma agência "paralela" para investigar desafetos e até aliados do ex-presidente.
O documento, revelado pela Folha de S.Paulo nesta quarta-feira (31), seria intitulado "Bom dia Presidente" e reunia informações sobre servidores da Receita Federal que teriam feito o relatório que revelou o esquema de corrupção montado por Flávio Bolsonaro quando atuava como deputado estadual em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
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Ramagem afirmava sem provas, na tese ainda hoje levada adiante pela defesa de Flávio, que os servidores teriam acessado os dados ilegalmente para elaborar o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras, o Coaf.
Segundo a PF, o documento foi criado em março de 2020 e alimentado até março de 2021.
"Os metadados [do arquivo apreendido com Ramagem] indicam a construção do documento com as respectivas alterações para informar ao presidente da República sobre os auditores da Receita responsáveis pelo RIF [relatório de inteligência financeira] que deu causa à investigação do senador Flávio Bolsonaro", diz relatório da PF sobre o depoimento de Ramagem.
Sem provas, o dossiê levanta suspeitas da Operação Armadeira, desencadeada em outubro de 2019, que prendeu o auditor da Receita Marco Aurélio da Silva Canal sob suspeita de extorsão contra investigados na Operação Lava Jato.
Segundo o dossiê de Ramagem, a operação seria para desviar o foco dos servidores que produziram o relatório com os dados de Flávio.
O documento diz, sem provas, que a operação foi armada para pegar alguns "fiscais ladrões", mas que se tratava de "operação de marketing" de servidores inimigos de Bolsonaro.
Entre os servidores citados estão os chefes do Escritório de Corregedoria da 7ª Região Fiscal (Escor07), Christiano Paes Leme Botelho, do Escritório de Pesquisa e Investigação da 7ª Região Fiscal (Espei07), Cleber Homen da Silva, além do então corregedor-geral da Receita, José Pereira de Barros Neto, e do secretário da Receita, José Barroso Tostes Neto.
A Receita abriu investigação, mas concluiu que a tese do clã Bolsonaro não tinha fundamento.
Além do novo dossiê, a PF encontrou ainda arquivos em que Ramagem faz pregações contra o sistema de urnas eletrônicas e um outro documento, com procuradores considerados inimigos pelo clã Bolsonaro.