O Estado brasileiro se desculpou oficialmente neste domingo (28) com a comunidade japonesa, que foi perseguida no país durante o período da Segunda Guerra Mundial. O gesto foi viabilizado pela Comissão de Anistia do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, que aprovou por unanimidade o pedido de reparação coletiva.
“Quero pedir desculpas em nome do Estado brasileiro pela perseguição que os antepassados dos senhores e senhoras sofreram, pelas barbaridades, crueldades, torturas, preconceito, ignorância, xenofobia e racismo”, disse Eneá de Stutz e Almeida, a presidente da Comissão, diante de uma plateia repleta de nipo-brasileiros.
Te podría interesar
De acordo com as apurações da Comissão de Anistia, os imigrantes japoneses e suas famílias sofreram censura, perseguição, restrições legais e prisões arbitrárias em dois períodos: a ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas (1937-1945) e o mandato de Eurico Gaspar Dutra (1946-1951).
A perseguição já existia, mas escalou tão logo o Brasil declarou guerra ao Eixo, composto por Alemanha, Itália e Japão. À época, imigrantes tinham rádios, livros e documentos confiscados e precisavam de autorização para viajar dentro do país. Também não podiam formar associações ou sindicatos.
Te podría interesar
Essa situação colaborou com a formação da Shindo-Renmei, ou “Liga do Caminho dos Súditos”, uma organização de imigrantes japoneses que não acreditava na derrota do Japão na Guerra. Um setor radicalizado desse grupo teria matado compatriotas que não acreditavam na teoria.
Nas investigações, o Departamento de Ordem Política e Social (Dops) obrigou os imigrantes a pisar na bandeira do Japão ou no retrato do imperador. Quem não o fizesse era considerado membro do grupo e preso sumariamente. 171 japoneses foram levados para o presídio da Ilha Anchieta que, à época, recebia presos políticos no litoral norte de São Paulo. Torturas e maus-tratos eram lugar comum ali.
“O veredito dessas comissões tem um papel fundamental de dizer que nunca mais pode se repetir, no Brasil e no mundo, os episódios que são julgados aqui”, declarou o ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais.