Presidente do IBGE, o economista e professor Márcio Pochmann publicou um texto nas redes sociais neste sábado (20) em que compara o antigo coronelismo ao avanço do neofascismo, que se utiliza da ignorância digital para caçar "votos de cabresto" e eleger governos neoliberais pelo mundo.
"Mesmo com reformas eleitorais realizadas, a política sob a prevalência liberal permaneceu praticamente intacta, com fakes news e fraudes predominando, próprias da subordinação da esfera pública aos altos interesses privados", diz Pochmann.
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O presidente do IBGE, que gosta de usar as plataformas digitais para dar aulas sobre economia, lembra que "a experiência do liberalismo no Brasil, marcado pela estrutura econômica primária-exportadora e assentado na quase absoluta população analfabeta, foi muito bem descrita por Victor N. Leal em 1949 no clássico livro: Coronelismo, enxada e voto".
"No contexto daquela época, os eleitores exerciam, por sua dependência generalizada aos coronéis que lideravam a estrutura produtiva primário-exportadora, a fidelidade e ação subserviente materializada pelo denominado voto de cabresto", explica.
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Segundo ele, o voto soberano foi fortalecido com o avanço da alfabetização e das estruturas de representação, como sindicatos, durante a Era Industrial, que deixou o eleitorado "menos dependente da antiga fidelidade e subserviente vontade do coronelismo liberal-agrarista".
"Na atual passagem para a Era Digital, o já longevo domínio do neoliberalismo no Brasil patrocina o crescente descrédito democrático do sistema eleitoral", prossegue, relacionando o sistema neoliberal ao advento do neofascismo bolsonarista no Brasil, propagado por meio de fake News e discursos de ódio nas redes.
Segundo ele, o sucesso da ultradireita fascista nas redes "transcorre em plena população com imenso iletramento digital, submetida à crescente proliferação de fake news e fraudes de toda a espécie".
"Assim, a necessária profundidade dos debates sobre a realidade nacional e as alternativas de superação dos seus problemas cede lugar à superficialidade cada vez mais rebaixada pela ignorância do próprio iletramento digital", emenda.
Por fim, Pochmann afirma que a submissão dos governos frente aos "altos interesses privatistas", sobretudo no pagamento de juros ao sistema financeiro - o chamado "rentismo" - constrói uma nova realidade coronelista no país, que surfa na ignorância digital dos eleitores.
"Aos eleitores, constituídos por multidões de sobrantes sem destino, conferem desconfiança à retórica política desprovida de prática, enquanto o novo coronelismo se estrutura no lastro do iletramento digital", conclui.
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