A Polícia Federal (PF) deflagrou, nesta quinta-feira (11), a 4ª fase da Operação Última Milha no âmbito da investigação que apura a existência de uma "Abin Paralela" montada no governo de Jair Bolsonaro.
"Abin Paralela" é o apelido dado para uma estrutura, supostamente liderada pelo ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que utilizava um software israelense para espionar desafetos políticos de Bolsonaro, autoridades públicas e até mesmo aliados do ex-presidente.
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Nesta fase da operação, a PF mira policiais ligados a Ramagem e influenciadores digitais que trabalhariam no chamado "Gabinete do Ódio", estrutura para atacar opositores e disseminar notícias falsas na internet que seria comandado pelo vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-mandatário. Foram, ao todo, expedidos cinco mandados de prisão preventiva, além de mandados de busca e apreensão.
Tanto Ramagem quanto Carlos Bolsonaro negam envolvimento com a chamada "Abin Paralela".
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Entenda o caso da "Abin Paralela"
A Polícia Federal investiga a chamada "Abin Paralela", um esquema suspeito de utilizar a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para espionagem ilegal e monitoramento político durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. As investigações foram desencadeadas após denúncias de que a Abin teria sido instrumentalizada para fins políticos e de espionagem pessoal.
As investigações começaram em 2023, no âmbito das operações "Última Milha" e "Vigilância Aproximada". A PF descobriu que a Abin utilizou um software espião chamado First Mile, desenvolvido pela empresa israelense Cognyte, para monitorar ilegalmente diversas pessoas, incluindo políticos, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e outras figuras públicas.
A principal acusação é que a Abin foi utilizada para proteger aliados do governo Bolsonaro e monitorar adversários políticos. Entre os monitorados estavam o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, a ex-deputada Joice Hasselmann, e os ministros do STF, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes. Além disso, foi identificado que a promotora do caso Marielle Franco também foi alvo de monitoramento ilegal.
Até o momento, dois agentes da Abin foram presos e cinco dirigentes da agência foram afastados. Alexandre Ramagem, que foi diretor da Abin durante a gestão Bolsonaro e é próximo da família do ex-presidente, está entre os principais investigados. Ramagem teria coordenado a utilização do software espião para fins ilícitos e chegou a ser alvo de busca e apreensão da PF. Mandados de busca e apreensão também foram realizados em propriedades ligadas a Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente.
A investigação da PF revelou mais de 60 mil consultas feitas pelo software First Mile, muitas delas durante o período eleitoral de 2020. Essa quantidade significativa de consultas levanta suspeitas sobre o uso da Abin para influenciar processos políticos e eleitorais, intensificando as preocupações sobre a integridade das instituições democráticas durante o governo Bolsonaro.
Carlos Bolsonaro desesperado
Em junho deste ano, Carlos Bolsonaro demonstrou desespero diante da informação de que a Polícia Federal (PF) vai negociar acordos de delações premiadas com investigados no inquérito da "Abin Paralela".
Através das redes sociais, Carluxo, como é conhecido o filho de Jair Bolsonaro, publicou uma captura de tela de uma matéria da CNN Brasil sobre o assunto destacando a possibilidade de delações no inquérito, que se aproxima de sua conclusão.
"Vamos lá, Polícia Federal. A gente sabe como o setor de inteligência trabalha muito, a se ver pela conclusão da tentativa de assassinato do meu pai. Serviu pra alguma coisa as buscas e apreensões em todo meu universo ou foi só o computador da Daniella Lima que acharam na minha casa? Qualquer um sabe que vem mais maldade direcionada por aí. Vamo democracia inabalável", escreveu o vereador.
“Pegamos ele”, teria dito um dos investigadores da PF à coluna Radar, na revista Veja, em referência a Carlos Bolsonaro. De acordo com investigadores, "as coisas se conectam: Abin Paralela e milícias digitais”. Filho "02" de Bolsonaro e suposto comandante do chamada Gabinete do Ódio, Carlos Bolsonaro é investigado nos dois inquéritos.
Delações
Em junho, durante café da manhã com jornalistas na sede da Polícia Federal em Brasília, o diretor-geral da corporação, Andrei Rodrigues, informou que o inquérito sobre a "Abin Paralela" está caminhando para sua conclusão e que, neste momento, tenta negociar delações premiadas com investigados.
“Em julho, agosto, a gente conclui o inquérito. Tem diligências finais, tem a possibilidade de colaborações de investigados e que está em fase de discussão interna com os possíveis colaboradores, e análise de material”, revelou Rodrigues.