Em nova revelação que envolve o caso Marielle Franco, o ex-PM Ronnie Lessa, assassino confesso da vereadora, abriu o jogo sobre sua relação com a família Andrade, uma das controladoras do Jogo do Bicho e da contravenção no Rio de Janeiro. O miliciano já era apontado pela polícia como sendo um possível segurança de Rogério Andrade, o patriarca, mas aparentemente o histórico das relações entre eles é outro.
As forças de segurança do Rio acreditavam que Ronnie Lessa fosse segurança de Rogério Andrade por conta do atentado a bomba que fez com que o ex-PM perdesse uma das pernas em 2009. De acordo com a polícia, a explosão teria a mesma assinatura de um outro ataque a bomba, ocorrido em 2010, que tinha Rogério como alvo mas vitimou Diogo Andrade, seu filho de 17 anos.
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Além disso, ambos foram denunciados em 2018, meses após os crimes contra Marielle, por organização criminosa, corrupção e lavagem de dinheiro durante a montagem de um bingo na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.
Lessa resistiu 6 meses em contar à Polícia Federal sobre Rogério Andrade. Seu primeiro depoimento após fechar um acordo de delação premiada ocorreu em 9 de agosto de 2023, mas ele só foi falar sobre o tema em 16 de fevereiro, após assinar o acordo final com a PF, a PGR e o Ministério Público do RJ. Entre os pré-requisitos para esse acordo, ele deveria revelar o que sabia sobre os bingos clandestinos operados no Rio, investigados pela Operação Calígula.
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O ex-PM então deu sua versão dos fatos, e aparentemente satisfez os investigadores com uma informação inédita: Lessa confirmou que pediu autorização para Rogério Andrade para abrir o bingo na Barra. Ele teria se associado com Gustavo Andrade, um dos filhos de Rogério, mas marcou reuniões com o patriarca para verificar sua aprovação.
Uma dessas reuniões, ocorrida em 12 de setembro, teria sido interrompida, segundo Lessa, por conta de uma visita da PF ao escritório de Rogério. A polícia confirmou a entrega de uma intimação na data. A conversa então teria sido finalizada só 6 dias depois, segundo mensagem de Lessa a interlocutor interceptada pela PF.
Lessa foi a primeira pessoa a confirmar ter pedido autorização a Andrade para abrir um bingo, o que deve ajudar as autoridades nas investigações sobre os bingos ilegais. Por outro lado, o ex-PM também minimizou sua relação com o bicheiro e ofereceu uma versão contraditória sobre a relação entre eles.
Ao contrário do que acreditava a polícia, Lessa revelou que só conheceu Rogério Andrade após os atentados a bomba. Seu objetivo com o novo contato seria identificar o autor dos ataques.
“Busquei essa aproximação em 2010. De perguntas a ele: ‘Por que tentaram te matar com bomba?’ Eu também tinha essa pergunta, e ele tinha essa dúvida: ‘Quem é esse cara que sofreu um atentado igual ao meu?’ Muita gente criou a mística de que eu estava no carro dele, que eu era segurança dele, uma confusão danada. Nunca trabalhei para ele, essa é a realidade”, explicou aos federais.