LONGA RELAÇÃO

Assassino de Marielle: Bolsonaro ajudou Ronnie Lessa após explosão de bomba, revela prontuário

Documento é mais uma prova de que Bolsonaro mentiu ao dizer que não se lembrava "desse cara". Lessa foi preso no Condomínio Vivendas da Barra, onde tem uma casa há cerca de 100 metros da residência do ex-presidente

Bolsonaro e Ronnie Lessa.Créditos: Créditos: Marcos Correa/PR/Reprodução de Vídeo/Montagem
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Um prontuário da Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR), divulgado nesta quinta-feira (4) pela Folha de S.Paulo, revela que Jair Bolsonaro (PL) realmente ajudou o ex-policial militar Ronnie Lessa, assassino confesso de Marielle Franco e Anderson Gomes, que perdeu parte da perna na explosão de uma bomba em 2009.

Em entrevista à Veja em 2022, Lessa confirmou que foi ajudado por Bolsonaro, que havia dito não lembrava "desse cara", quando o atirador foi preso, em março de 2019, no condomínio Vivendas da Barra. A casa de Lessa fica localizada a cerca de 100 metros da residência do ex-presidente.

"Não lembro dessa cara. Meu condomínio tem 150 casas", afirmou Bolsonaro na ocasião.

O relatório médico, no entanto, mostra que realmente Bolsonaro intercedeu para que Lessa fosse atendido após sofrer o atentado à bomba.

A explosão do artefato aponta relação de Lessa com o bicheiro Rogério Andrade, que foi alvo de um atentado semelhante um ano depois. Ele, no entanto, nega relação com o bicheiro.

Telefonema para Bolsonaro

Após o relatório final da Polícia Federal incriminando os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão como mandantes dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, uma entrevista do vice-presidente nacional do PT, deputado federal Washington Quaquá, reacendeu o assunto:

Numa entrevista à jornalista Hildegard Angel, o deputado federal pelo Rio de Janeiro Washington Luiz Cardoso Siqueira, conhecido como Quaquá, fez uma revelação sobre os assassinatos que coloca em xeque as conclusões da PF sobre o caso.

Segundo o parlamentar, que tem trânsito em um amplo espectro político no Rio, Lessa teria telefonado para Bolsonaro um dia depois de assassinar Marielle e Anderson.

Na entrevista, Quaquá diz que Domingos Brazão não foi o mandante do assassinato.

"Por incrível que pareça, um dia depois do assassinato de Marielle, o assassino Ronnie Lessa, que entregou o Brazão, ligou para a casa do Bolsonaro e se encontrou com o filho de Bolsonaro", disse Quaquá.

Longa relação

Lessa morava na mesma rua do mesmo condomínio que Bolsonaro, o Vivendas da Barrra, no Rio de Janeiro, e foi preso no local em março de 2019. O vizinho dos Bolsonaros guardava na ocasião "um verdadeiro arsenal, o que só demonstra que ele não é uma pessoa voltada à paz, uma pessoa que tem personalidade violenta", disse na época a promotora de Justiça, Simone Sibílio, que liderou as investigações, em entrevista a jornalistas.

"Não lembro dessa cara. Meu condomínio tem 150 casas", afirmou Bolsonaro na ocasião.

A relação dele com Lessa, no entanto, – que ele disse não conhecer – vem de longe. Quando ainda era candidato à presidente, em 2018, ele contou de um assalto que sofreu numa entrevista para o "Roda Viva", programa da TV Cultura.

"Eu fui assaltado, sim. Eu estava numa motocicleta, fui rendido. Os dois caras, um desceu e pegou por trás o registro. Dois dias depois, juntamente com o nono batalhão da Polícia Militar, nós recuperamos a arma e a motocicleta e, por coincidência, o dono da favela de Acari, onde foi pega, foi pego lá. Lá estava lá. Ele apareceu morto um tempo depois, rápido. Eu não matei ninguém, nem fui atrás de ninguém. Mas aconteceu", afirmou.

O ativista de direitos humanos Wanderley Cunha, o "Deley de Acari", afirma que quem foi devolver a moto e a pistola a Bolsonaro foi o então cabo do Bope, Ronnie Lessa.

"Vários jornais da época saíram que o capitão Bolsonaro teria pego a moto no pátio do 9º batalhão, em Rocha Miranda. Eu vi algumas matérias antigas de jornal nessa época. A informação que eu tenho é diferente dessa. É que o cabo Lessa teria levado a moto na casa do capitão Bolsonaro na Vila Isabel."

De acordo com dados da Polícia Militar, Lessa era soldado do Bope em 1995, mas Deley afirma que o coronel Alves relatou assim a presença dele naquela época. "A informação dada por ele é que o cabo Lessa teria levado a moto, entregue a moto na casa de Bolsonaro na rua Torres Homem. O que contrasta com a informação que li no jornal de que o capitão Bolsonaro teria recuperado a moto, teria pego a moto no pátio do nono batalhão", informou.

O namoro entre os filhos

Outras evidências ainda pontam para a relação entre Bolsonaro e Lessa. Uma delas seria o namoro entre o caçula do ex-presidente e a filha do ex-PM. O jornalista Bruno Paes Manso, pesquisador no Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo e autor do livro “A república das milícias: Dos esquadrões da morte à era Bolsonaro”, apontou uma inconsistência grave nas investigações do assassinato de Marielle Franco, em 14 de março de 2018.

Na época do crime, foram apontados vários registros de telefonemas entre as casas do então deputado federal Jair Bolsonaro e o sargento da reserva da Polícia Militar, Ronnie Lessa, acusado de matar Marielle. Os dois moravam no mesmo condomínio no Rio de Janeiro, o Vivendas da Barra.

A história de um suposto namoro entre a filha de Lessa e Jair Renan, filho de Bolsonaro teria surgido para justificar esses telefonemas.

“Essa história surgiu porque se identificou uma série de trocas de telefonemas entre a casa da família Bolsonaro com o Ronnie Lessa, que é o autor do caso da morte da Marielle. O álibi disso foi por causa do Jair Renan ter namorado a filha do Ronnie Lessa. Esse seria um dos motivos para haver ligação”, disse Bruno Paes Manso em entrevista ao Brasil 247, em 2022.