ASSASSINATO DE MARIELLE

Marielle: Carlos Bolsonaro teve sigilo quebrado em investigação por bate-boca com assessor

Após analisar 21 celulares e 11 números de telefone, polícia descartou envolvimento. Advogado disse que ex-deputada Joice Hasselmann teria provas de que Carlos Bolsonaro seria o mandante

Carlos Bolsonaro na Câmara do Rio.Créditos: Flávio Marroso/CMRJ
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Novas informações sobre a investigação da Polícia Civil do Rio de Janeiro sobre o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes jogam holofotes novamente na estreita relação do clã Bolsonaro com o caso.

Após a revelação de um prontuário, que mostra que Jair Bolsonaro (PL) agiu diretamente para tratamento do assassino confesso, Ronnie Lessa - avo de um atentado em 2009 -, Carlos Bolsonaro voltou à cena do crime.

O inquérito sobre o assassinato mostra que o filho "02" do ex-presidente teve os sigilos telefônico e telemático quebrados pela polícia civil por suspeita de envolvimento no crime.

O vereador carioca teve o sigilo quebrado em razão de um bate-boca protagonizado com um assessor de Marielle em maio de 2017, dez meses antes da execução levada a cabo por Lessa.

A quebra de sigilo foi pedida pelo delegado Daniel Rosa em dezembro de 2019, quando Bolsonaro já estava na Presidência. 

A decisão do juiz Gustavo Kalil também autorizou a interceptação telefônica de três números de telefones associados a Carlos.

No total, a ação rastreou 21 aparelhos celulares e 11 números de telefone que estavam em nome de Carlos, além de e-mails vinculados em contas da Apple e do Google.

Em um dos quatro correios eletrônicos analisados, a polícia encontrou login e senha de mais de 70 perfis de e-mails, YouTube, Twitter, Blogs e serviços de internet.

Ao final do inquérito, o delegado descartou envolvimento do filho "02" de Bolsonaro no crime. As informações foram divulgadas em reportagem da Folha de S.Paulo nesta sexta-feira (5).

Em live em janeiro deste ano, Carlos se pronunciou sobre a discussão na Câmara do Rio em 3 de maio de 2017 com um assessor de Marielle - assista ao vídeo.

"Alegaram em um determinado momento que eu tive uma discussão com ela no corredor. E, por um acaso, não foi com ela que foi a discussão. Foi com um assessor dela que estava estava dando uma entrevista, quando eu passei ele me cutucou me chamando de fascista. Ela saiu do gabinete dela, viu que estava havendo uma discussão porque eu não fiquei satisfeito com aquela qualificação, é óbvio. E quis ficar a par do que estava acontecendo. É lógico que os ânimos ali esquentaram. Mas, ela foi inclusive uma das pessoas que apartaram a discussão", disse Carlos.

Carlos ainda usou uma desculpa estapafúrdia para tentar afastar quaisquer envolvimentos do clã com o assassinato da vereadora.

"A ex-esposa dela ocupa o gabinete que é do lado da porta do meu gabinete. Então, por lógica, por bom senso... Alguém de bom senso acredita realmente que se um de nós, nossa família, tivesse feito alguma maldade com a Marielle, aceitaria a colocação do gabinete do lado do meu?", indagou. "Obviamente que não", respondeu.

 

Mandante?

As suspeitas da Polícia Civil sobre a participação de Carlos no assassinato, no entanto, convergem com informações reveladas pelo advogado Roberto Bertholdo, em março deste ano, ao Fórum onze e Meia.

Segundo ele, uma ex-deputada disse que teria provas de que Carlos Bolsonaro seria o mandante do assassinato de Marielle Franco.

Bertholdo afirma que a ex-parlamentar federal teria revelado a ele que recebeu informações do general Santos Cruz acerca do assassinato da vereadora em 14 de março de 2018.

"Ela me procurou algumas vezes dizendo que o mandante do crime da Marielle era o Carlos Bolsonaro. Foram várias vezes. Eu falava 'você tem provas?'. Ela falou: 'tenho'. 'Mas quais são as provas?' Ela falou: 'quem sabe dessas provas é o general Santos Cruz'", disse.

"'Me traz para eu ver até que ponto essas provas têm consistência', e ela me trouxe essa documentação, mas continuava muito incomodada e dizia, 'foi o Carlos, foi o Carlos, foi o Carlos quem mandou matar a Marielle'. Assim como ela dizia também, 'o Bolsonaro vai dar um golpe, o Bolsonaro quer dar um golpe'", continuou o advogado.

"O Moro era ministro da Justiça à época. Eu falei, 'porque você não vai conversar? Você é amiga dele'", afirma. "Ela foi, voltou no dia seguinte na minha casa: 'o que o Moro falou?' Ela falou: 'não vou falar mais nada, porque se eu não tenho apoio do ministro da Justiça para apresentar essas provas, eu não vou ter apoio de ninguém'.", teria dito a parlamentar.

"Eu falei, então: 'Se você tem medo, não faça. Muito embora eu penso que você deveria trazer o que você tem de informação a respeito disso'", disse. "Mas o medo dela de passar por todas as espécies de violência que ela reportava, que os Bolsonaro eram capazes de fazer, não deixaram com que ela falasse essa história", completou.

"Então, a história é essa. Eu acho que precisa ser investigada", disse Bertholdo. Ele reitera que ele não acusa Carlos Bolsonaro pelo crime, mas que recebeu tais informações.

A apuração da Fórum indica que tal parlamentar é a ex-deputada federal e jornalista Joice Hasselmann, que não se reelegeu para o cargo nas eleições de 2022.

Joice Hasselmann, Sergio Moro e Carlos Bolsonaro foram contatados pela Fórum para dar um posicionamento sobre o caso, mas não responderam nosso contato. O espaço está aberto para atualização com manifestação de todos os envolvidos.

Já o general Santos Cruz respondeu à reportagem afirmando que o relato é "totalmente dissociado da realidade e totalmente descabido". Adicionou que "isso é coisa fantasiosa e irresponsável".

Veja a entrevista completa de Roberto Bertholdo ao Fórum Onze e Meia