O primeiro e único membro do governo Lula a se pronunciar sobre os novos desdobramentos do caso "Abin paralela" foi o ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, nesta sexta-feira (12).
Na última quinta-feira (11), a Polícia Federal (PF) saiu às ruas e prendeu cinco pessoas envolvidas no esquema de espionagem de autoridades, desafetos políticos e até mesmo aliados montado dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo de Jair Bolsonaro. Logo após a operação, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), retirou o sigilo do relatório da investigação da PF sobre o caso e os detalhes da arapongagem vieram à tona, gerando repercussão imediata no meio político.
Te podría interesar
Ao participar de um evento na Fundação Fernando Henrique Cardoso em São Paulo (SP), Padilha quebrou o silêncio sobre o assunto, o mencionando já em sua fala de abertura. Segundo o ministro, a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva "salvou a democracia" no Brasil e os fatos do governo Bolsonaro que estão se tornando de conhecimento público demonstram como o país estava caminhando para uma ruptura.
"Eu não tenho dúvida nenhuma, cada vez mais as evidências reforçam isso, que a frente ampla liderada pelo presidente Lula, pelo vice-presidente Alckmin, que no segundo turno teve o apoio de várias forças democráticas, inclusive do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, salvou a democracia no nosso país. A cada semana a gente tem mais evidências do que significou. Nessa semana, as revelações, as evidências cada vez maiores do uso do aparato do Estado, da Abin, para espionar, perseguir, adversários políticos, jornalistas, advogados, e até aliados políticos, só reforçam isso", declarou.
Padilha ainda relembrou a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que se debruçou sobre os atos golpistas do 8 de janeiro e afirmou que havia uma "organização criminosa" no "terceiro andar do Palácio do Planalto", em referência ao gabinete de onde despachava o ex-presidente Jair Bolsonaro.
"O 8 de janeiro já reforçava isso [que a democracia no Brasil estava sob ameaça]. O conjunto de evidencias de crimes cometidos contra a democracia, o trabalho da CPMI no ano passado... Lembrando que a CPMI foi criadas por parlamentares que queriam dar outra narrativa ao que aconteceu em 8 de janeiro. E a CPMI mostrou o contrario: que havia uma organização criminosa contra a democracia instalada a partir do terceiro andar do planalto, no gabinete do presidente", disparou.
Assista a partir dos 43 minutos e 20 segundos do vídeo abaixo:
Entenda o caso da 'Abin paralela'
A Polícia Federal investiga a chamada "Abin Paralela", um esquema suspeito de utilizar a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para espionagem ilegal e monitoramento político durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. As investigações foram desencadeadas após denúncias de que a Abin teria sido instrumentalizada para fins políticos e de espionagem pessoal.
As investigações começaram em 2023, no âmbito das operações "Última Milha" e "Vigilância Aproximada". A PF descobriu que a Abin utilizou um software espião chamado First Mile, desenvolvido pela empresa israelense Cognyte, para monitorar ilegalmente diversas pessoas, incluindo políticos, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e outras figuras públicas.
A principal acusação é que a Abin foi utilizada para proteger aliados do governo Bolsonaro e monitorar adversários políticos. Entre os monitorados estavam o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, a ex-deputada Joice Hasselmann, e os ministros do STF, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes. Além disso, foi identificado que a promotora do caso Marielle Franco também foi alvo de monitoramento ilegal.
Até o momento, dois agentes da Abin foram presos e cinco dirigentes da agência foram afastados. Alexandre Ramagem, que foi diretor da Abin durante a gestão Bolsonaro e é próximo da família do ex-presidente, está entre os principais investigados. Ramagem teria coordenado a utilização do software espião para fins ilícitos e chegou a ser alvo de busca e apreensão da PF. Mandados de busca e apreensão também foram realizados em propriedades ligadas a Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente.
A investigação da PF revelou mais de 60 mil consultas feitas pelo software First Mile, muitas delas durante o período eleitoral de 2020. Essa quantidade significativa de consultas levanta suspeitas sobre o uso da Abin para influenciar processos políticos e eleitorais, intensificando as preocupações sobre a integridade das instituições democráticas durante o governo Bolsonaro.