Não é só no Brasil que as revelações sobre a chamada 'Abin paralela' estampam os jornais e principais sites de notícias. O escândalo sobre o esquema montado na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Bolsonaro para espionar autoridades e desafetos do ex-presidente tem ganhado destaque em veículos de imprensa de todo o mundo.
Nesta quinta-feira (11), a Polícia Federal (PF) deflagrou a 4ª fase da Operação Última Milha, cumprindo mandados de prisão contra investigados no inquérito da Abin Paralela, e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), levantou o sigilo do relatório sobre a investigação, trazendo à tona detalhes dos supostos crimes cometidos no governo de Jair Bolsonaro com o esquema de arapongagem.
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O tradicional jornal britânico The Guardian utilizou uma foto do ex-presidente brasileiro para ilustrar uma contundente matéria intitulada "Agência de espionagem do Brasil é acusada de monitorar ilegalmente inimigos de Bolsonaro".
"A agência de inteligência do Brasil foi ilegalmente utilizada como arma durante o governo de extrema direita de Jair Bolsonaro para monitorar e assediar alguns dos mais importantes políticos, jornalistas, juízes e autoridades ambientais do país, alegou a Polícia Federal", introduz o periódico.
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O jornal destaca, ainda, o fato da Abin ter supostamente sido utilizada para articular o chamado "gabinete do ódio" comandado pelo vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) e para fomentar o movimento golpista observado no país entre o final de 2022 e início de 2023.
"Essa agência de inteligência 'paralela' supostamente usou uma série de técnicas clandestinas para coletar informações sobre pessoas ou grupos considerados adversários ou irritantes. Os frutos desse trabalho ilegal foram supostamente transformados em desinformação online projetada para prejudicar a reputação dos alvos da organização e as instituições democráticas do Brasil".
A também britânica Agência Reuters, por sua vez, destaca a seguinte manchete: "Agência de espionagem do Brasil tentou atrapalhar investigação do filho de Bolsonaro, dizem documentos judiciais".
A matéria faz um resumo das investigações que pesam contra o ex-presidente e chama atenção para o fato de que o inquérito sobre a 'Abin paralela' pode representar mais um de seus reveses judiciais.
"Os detalhes revelados na quinta-feira podem aumentar os crescentes problemas legais de Bolsonaro. O ex-presidente de extrema direita já foi considerado politicamente inelegível até 2030 por sua conduta durante a eleição presidencial de 2022. Até agora, ele foi formalmente acusado pela polícia em dois casos diferentes, um envolvendo apropriação indébita de joias que recebeu quando era chefe de Estado e o outro relacionado à falsificação de seus registros de vacinação contra a COVID-19".
"A Abin foi usada para espionar ilegalmente auditores fiscais que investigavam Flávio Bolsonaro com a intenção de descobrir alguma sujeira sobre eles que pudesse dificultar uma investigação de corrupção quando ele era vereador do Rio de Janeiro, de acordo com a decisão vista pela Reuters que aprovou as operações de quinta-feira", prossegue a agência.
A ABC News, dos Estados Unidos, por sua vez, reproduz uma matéria da agência Associated Press que diz: "Agência de inteligência do Brasil sob Bolsonaro espionou judiciário e parlamentares".
A reportagem informa que Bolsonaro "não é formalmente acusado de ordenar qualquer espionagem", mas destaca que a PF pontua, em seu relatório, que a "Abin foi instrumentalizada, com claro desvio institucional de ações clandestinas, para monitorar pessoas relacionadas a investigações envolvendo familiares” do ex-presidente.
O veículo ainda entrevistou o professor de Direito brasileiro Rodrigo Sánchez Rios, da PUC-PR. “É amplamente aceito que Bolsonaro tinha conhecimento sobre o esquema de espionagem ilegal na agência de inteligência. As autoridades que foram monitoradas tinham um futuro político que era politicamente importante para Bolsonaro", disse ele à ABC News.
O mexicano La Jornada, entre outros veículos de imprensa em todo o mundo, também destaca a arapongagem de Bolsonaro que vem repercutindo no Brasil. "Nova operação por escândalo de espionagem durante o governo Bolsonaro", diz o título da reportagem sobre o assunto.
Entenda o caso da "Abin Paralela"
A Polícia Federal investiga a chamada "Abin Paralela", um esquema suspeito de utilizar a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para espionagem ilegal e monitoramento político durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. As investigações foram desencadeadas após denúncias de que a Abin teria sido instrumentalizada para fins políticos e de espionagem pessoal.
As investigações começaram em 2023, no âmbito das operações "Última Milha" e "Vigilância Aproximada". A PF descobriu que a Abin utilizou um software espião chamado First Mile, desenvolvido pela empresa israelense Cognyte, para monitorar ilegalmente diversas pessoas, incluindo políticos, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e outras figuras públicas.
A principal acusação é que a Abin foi utilizada para proteger aliados do governo Bolsonaro e monitorar adversários políticos. Entre os monitorados estavam o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, a ex-deputada Joice Hasselmann, e os ministros do STF, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes. Além disso, foi identificado que a promotora do caso Marielle Franco também foi alvo de monitoramento ilegal.
Até o momento, dois agentes da Abin foram presos e cinco dirigentes da agência foram afastados. Alexandre Ramagem, que foi diretor da Abin durante a gestão Bolsonaro e é próximo da família do ex-presidente, está entre os principais investigados. Ramagem teria coordenado a utilização do software espião para fins ilícitos e chegou a ser alvo de busca e apreensão da PF. Mandados de busca e apreensão também foram realizados em propriedades ligadas a Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente.
A investigação da PF revelou mais de 60 mil consultas feitas pelo software First Mile, muitas delas durante o período eleitoral de 2020. Essa quantidade significativa de consultas levanta suspeitas sobre o uso da Abin para influenciar processos políticos e eleitorais, intensificando as preocupações sobre a integridade das instituições democráticas durante o governo Bolsonaro.