O empresário e ex-deputado estadual Tony Garcia, que alega ter desempenhado o papel de "agente infiltrado" de Sergio Moro (União-PR) durante o período em que o senador era juiz em Curitiba (PR), acusou o ex-magistrado de ter utilizado a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para "serviços clandestinos" na época em que foi ministro da Justiça no governo de Jair Bolsonaro.
Garcia conhece "podres" de Moro e, em 2023, entregou ao Supremo Tribunal Federal (STF) um conjunto de documentos explosivos que revelam uma suposta tentativa de Moro de investigar ilegalmente desembargadores, juízes e ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ), incluindo o uso de grampos. Os documentos em questão fazem parte de um acordo de colaboração premiada firmado com Moro em 2004, logo após o empresário ser preso no âmbito de uma investigação contra o Consórcio Garibaldi.
Te podría interesar
Nesta sexta-feira (12), em meio à repercussão sobre o caso da 'Abin Paralela', estrutura montada na Abin durante o governo de Jair Bolsonaro para espionar autoridades e desafetos políticos do ex-presidente que é investigada pela Polícia Federal (PF), Tony Garcia decidiu expor novamente Sergio Moro, afirmando que o ex-juiz, em seu período de ministro da Justiça, mandou "investigar clandestinamente" o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) com o objetivo de chantagear Jair Bolsonaro caso ele não fosse, como queria, indicado pelo ex-presidente para uma vaga no STF.
"O ex-juiz criminoso Sergio Moro desde sempre usou a ABIN para serviços clandestinos, tanto na Lava Jato, quanto no meu caso e principalmente quando ocupou o cargo de ministro da justiça de Jair Bolsonaro. A primeira pessoa que ele mandou investigar clandestinamente, pasmem, foi o filho do presidente, Flávio Bolsonaro. Levantou a vida de Flávio na intenção de obter informações comprometedoras que garantiriam sua indicação ao STF. Ato contínuo, usou a mesma estrutura para investigar clandestinamente dois ministros do STF que combatiam a Lava Jato", disparou o empresário.
Te podría interesar
Tony Garcia afirma, ainda, que alertou um deputado federal próximo a Bolsonaro, à época, que Moro estaria utilizando a Abin para devassar a vida da família do ex-presidente e que foi justamente este parlamentar que levou essas informações ao então chefe do Executivo, o que teria dado início ao seu processo de demissão. Moro deixou o governo Bolsonaro em abril de 2020 justamente após dizer que o ex-presidente queria "interferir na Polícia Federal" após a tentativa do ex-presidente de nomear Alexandre Ramagem, apontado como o líder da "Abin paralela", como diretor da corporação.
"Eu alertei um amigo deputado federal próximo do ex-presidente, que Moro estava usando todo o aparato estatal para levantar a vida da família do presidente na intenção de chantageá-lo caso não o indicasse ao STF. Esse deputado levou ao conhecimento do ex-presidente o que denunciei, a partir daí, a relação com Moro azedou e Bolsonaro o pressionou até ele sair pela porta dos fundos. O próprio Bolsonaro em entrevista coletiva AFIRMOU que Moro saiu do governo atirando por saber que não seria indicado ao STF. O deputado que cito, e me reservo o direito de não declinar seu nome, continua deputado e é testemunha dos fatos que narro", escreve Tony Garcia.
"Moro não resistiria à uma investigação da PF no tempo em que foi ministro. Deve ter deixado rastros enormes de seus crimes como deixou por onde passou apostando na impunidade", finaliza o empresário.
Confira:
Até o momento da publicação desta matéria, Sergio Moro não havia feito qualquer comentário sobre o caso da "Abin Paralela" no governo Bolsonaro e nem mesmo sobre as acusações de Tony Garcia.
Entenda o caso da 'Abin paralela'
A Polícia Federal investiga a chamada "Abin Paralela", um esquema suspeito de utilizar a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para espionagem ilegal e monitoramento político durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. As investigações foram desencadeadas após denúncias de que a Abin teria sido instrumentalizada para fins políticos e de espionagem pessoal.
As investigações começaram em 2023, no âmbito das operações "Última Milha" e "Vigilância Aproximada". A PF descobriu que a Abin utilizou um software espião chamado First Mile, desenvolvido pela empresa israelense Cognyte, para monitorar ilegalmente diversas pessoas, incluindo políticos, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e outras figuras públicas.
A principal acusação é que a Abin foi utilizada para proteger aliados do governo Bolsonaro e monitorar adversários políticos. Entre os monitorados estavam o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, a ex-deputada Joice Hasselmann, e os ministros do STF, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes. Além disso, foi identificado que a promotora do caso Marielle Franco também foi alvo de monitoramento ilegal.
Até o momento, dois agentes da Abin foram presos e cinco dirigentes da agência foram afastados. Alexandre Ramagem, que foi diretor da Abin durante a gestão Bolsonaro e é próximo da família do ex-presidente, está entre os principais investigados. Ramagem teria coordenado a utilização do software espião para fins ilícitos e chegou a ser alvo de busca e apreensão da PF. Mandados de busca e apreensão também foram realizados em propriedades ligadas a Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente.
A investigação da PF revelou mais de 60 mil consultas feitas pelo software First Mile, muitas delas durante o período eleitoral de 2020. Essa quantidade significativa de consultas levanta suspeitas sobre o uso da Abin para influenciar processos políticos e eleitorais, intensificando as preocupações sobre a integridade das instituições democráticas durante o governo Bolsonaro.