ESPIONAGEM

VÍDEO: Preso no caso 'Abin paralela', bolsonarista ameaçou fundador do Sleeping Giants Brasil

Em desabafo, Leandro Leal revelou que Richards Pozzer chegou a se mudar para sua cidade com intuito de intimidá-lo; ativista foi espionado e teve os dados expostos

Richards Pozzer, influenciador bolsonarista preso no caso da 'Abin paralela'.Créditos: Reprodução
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Um dos fundadores do Sleeping Giants Brasil, grupo digital de ativistas que pressiona empresas a retirarem publicidades de sites e conteúdos que propagam fake news e discurso de ódio, fez um desabafo nesta sexta-feira (12) após a prisão de Richards Pozzer no âmbito da investigação da 'Abin paralela', estrutura clandestina montada na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Bolsonaro para espionar autoridades e pessoas consideradas desafetas do ex-presidente. 

Richards Dyer Pozzer, conhecido como Dedé Pozzer, é gestor de produção industrial e atuava como influenciador digital, propagando conteúdo do "gabinete do ódio" na horda bolsonarista. Ele foi preso junto a outras 4 pessoas nesta quinta-feira (11) a operação da PF deflagrada no contexto do inquérito da 'Abin paralela'. 

Pozzer foi investigado pela CPI da Covid em 2021 e, à época, o Sleeping Giants Brasil ganhou destaque denunciando as fake news bolsonaristas sobre a pandemia do coronavírus. O grupo, então, passou a ser perseguido por aliados de Jair Bolsonaro, entre eles Pozzer, que segundo a PF estaria envolvido com o esquema da 'Abin paralela'

No relatório sobre a investigação, a PF afirma que o Sleeping Giants foi alvo de "ação clandestina" da 'Abin paralela', que encaminhava as informações a Richards Pozzer para que ele fizesse publicações contra o grupo nas redes sociais. 

"A difusão de informações produzidas pela estrutura paralela da Abin por meio do perfil 'Richard Pozzer' (sic) era tarefa do núcleo de servidores responsáveis pelas ações clandestinas", diz trecho do documento da PF. 

Leandro Leal, um dos fundadores do Sleeping Giants Brasil, disse em desabafo publicado nas redes sociais estar "aliviado" com a prisão de Pozzer, revelando que ele e sua família foram ameaçados e tiveram os dados expostos pelo bolsonarista. Leal diz que Pozzer chegou até mesmo a se mudar para a mesma cidade que a sua com o intuito de ameaçá-lo. 

"Ele divulgou na internet todos os nosso dados pessoas, das nossas famílias, a foto da nossa casa, dos lugares que a gente circula, entraram em contato com nossas famílias, ameaçando elas (...) Três anos depois da gente ter apresentado uma denúncia no Ministério Público contra o Pozzer, hoje finalmente ele foi preso. Você pode não acreditar que ele chegou a se mudar para a minha cidade, e confesso que nem eu mesmo acreditava", diz o ativista. 

Assista ao relato: 

Entenda o caso da 'Abin paralela'

A Polícia Federal investiga a chamada "Abin Paralela", um esquema suspeito de utilizar a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para espionagem ilegal e monitoramento político durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. As investigações foram desencadeadas após denúncias de que a Abin teria sido instrumentalizada para fins políticos e de espionagem pessoal.

As investigações começaram em 2023, no âmbito das operações "Última Milha" e "Vigilância Aproximada". A PF descobriu que a Abin utilizou um software espião chamado First Mile, desenvolvido pela empresa israelense Cognyte, para monitorar ilegalmente diversas pessoas, incluindo políticos, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e outras figuras públicas.

A principal acusação é que a Abin foi utilizada para proteger aliados do governo Bolsonaro e monitorar adversários políticos. Entre os monitorados estavam o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, a ex-deputada Joice Hasselmann, e os ministros do STF, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes. Além disso, foi identificado que a promotora do caso Marielle Franco também foi alvo de monitoramento ilegal.

Até o momento, dois agentes da Abin foram presos e cinco dirigentes da agência foram afastados. Alexandre Ramagem, que foi diretor da Abin durante a gestão Bolsonaro e é próximo da família do ex-presidente, está entre os principais investigados. Ramagem teria coordenado a utilização do software espião para fins ilícitos e chegou a ser alvo de busca e apreensão da PF. Mandados de busca e apreensão também foram realizados em propriedades ligadas a Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente.

A investigação da PF revelou mais de 60 mil consultas feitas pelo software First Mile, muitas delas durante o período eleitoral de 2020. Essa quantidade significativa de consultas levanta suspeitas sobre o uso da Abin para influenciar processos políticos e eleitorais, intensificando as preocupações sobre a integridade das instituições democráticas durante o governo Bolsonaro.