Considerado um dos maiores advogados criminalistas do país, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, reagiu com ironia às novas revelações sobre a "Abin paralela", esquema de espionagem montado dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Bolsonaro, que vieram à tona com a nova operação da Polícia Federal (PF) contra investigados no inquérito.
Nesta quinta-feira (4), a PF saiu às ruas para deflagrar a 4ª fase da Operação Última Milha no âmbito da investigação da "Abin Paralela", estrutura supostamente liderada pelo ex-diretor da Abin, o atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que utilizava um software israelense para espionar desafetos políticos de Bolsonaro, autoridades públicas e até mesmo aliados do ex-presidente.
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No relatório sobre a investigação que baseou a operação desta quinta, a PF traz uma lista uma série de pessoas que foram espionadas pela "Abin paralela" bolsonarista, que inclui desde ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), passando por parlamentares e até mesmo jornalistas.
Em comentário enviado à Fórum, Kakay reagiu à revelação dos espionados pelo governo Bolsonaro "lamentando" o fato de não constar na lista.
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"O que a Polícia Federal tem que vir a público explicar é a ausência de alguns nomes , que historicamente combateram estes crápulas, na lista dos grampeados e perseguidos pela organização criminosa. Sinto que o fato do meu nome não estar nesta lista é um sinal grave de desprestígio e só posso imaginar que houve manipulação. Não estar nesta lista é uma mancha na minha vida contra o árbitro e o fascismo", brinca o criminalista.
"Terei que peticionar para ter acesso a todos os que foram investigados e , se meu nome não constar na lista, penso ser o caso de propor uma indenização por dano moral", prossegue Kakay em sua ironia.
Modus operandi
O advogado Kakay afirma que "não há nenhuma surpresa na revelação de que o gabinete do ódio, coordenado pela família do ex-presidente e por alguns asseclas, monitorava e perseguia adversários políticos, jornalistas e intelectuais".
"O uso de informações obtidas de maneira criminosa sempre foi o modus operandi desta organização criminosa que chegou ao poder, em boa parte exatamente por este uso inescrupuloso e pelas mentiras usadas sem nenhum pudor. O governo Bolsonaro sempre foi lastreado na estratégia deliberada das fake news", analisa o criminalista.
Entenda o caso da 'Abin paralela'
A Polícia Federal investiga a chamada "Abin Paralela", um esquema suspeito de utilizar a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para espionagem ilegal e monitoramento político durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. As investigações foram desencadeadas após denúncias de que a Abin teria sido instrumentalizada para fins políticos e de espionagem pessoal.
As investigações começaram em 2023, no âmbito das operações "Última Milha" e "Vigilância Aproximada". A PF descobriu que a Abin utilizou um software espião chamado First Mile, desenvolvido pela empresa israelense Cognyte, para monitorar ilegalmente diversas pessoas, incluindo políticos, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e outras figuras públicas.
A principal acusação é que a Abin foi utilizada para proteger aliados do governo Bolsonaro e monitorar adversários políticos. Entre os monitorados estavam o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, a ex-deputada Joice Hasselmann, e os ministros do STF, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes. Além disso, foi identificado que a promotora do caso Marielle Franco também foi alvo de monitoramento ilegal.
Até o momento, dois agentes da Abin foram presos e cinco dirigentes da agência foram afastados. Alexandre Ramagem, que foi diretor da Abin durante a gestão Bolsonaro e é próximo da família do ex-presidente, está entre os principais investigados. Ramagem teria coordenado a utilização do software espião para fins ilícitos e chegou a ser alvo de busca e apreensão da PF. Mandados de busca e apreensão também foram realizados em propriedades ligadas a Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente.
A investigação da PF revelou mais de 60 mil consultas feitas pelo software First Mile, muitas delas durante o período eleitoral de 2020. Essa quantidade significativa de consultas levanta suspeitas sobre o uso da Abin para influenciar processos políticos e eleitorais, intensificando as preocupações sobre a integridade das instituições democráticas durante o governo Bolsonaro.