Relatório da Polícia Federal (PF) sobre a "Abin paralela" do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que foi tornado público nesta quinta-feira (11), mostra que os senadores Randolfe Rodrigues (PSB-AP), Renan Calheiros (MDB-AL), Alessandro Vieira (MDB-ES) e Omar Aziz (PSD-AM) foram espionados pela Agência Brasileira de Inteligência sob o comando do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ).
Cabe destacar que a espionagem da Abin contra Renan Calheiros, Randolfe Rodrigues e Omar Aziz se deu quando os três senadores presidiam a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, que atingiu diretamente o governo do ex-presidente Bolsonaro.
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O senador Randolfe Rodrigues se manifestou por meio de uma nota e afirmou que a revelação de que ele e outros senadores foram espionados remete às páginas mais obscuras e autoritárias da história do Brasil. "A violação dos direitos fundamentais à vida privada, à honra e ao sigilo pessoal remete às páginas mais autoritárias e obscuras da história do Brasil e da humanidade. Quaisquer indícios de violações a tais direitos devem ser rigorosamente apurados e punidos", diz Rodrigues.
Em seguida, Randolfe afirmou que "tem significado de diagnóstico o fato de que, além do meu monitoramento pessoal, os demais colegas, Omar Aziz e Renan Calheiros, também foram monitorados. Juntos, dirigíamos a CPI da Covid, o que confere tons de tragédia ainda maior à situação. Enquanto brasileiros morriam, o governo anterior se preocupava em espionar a vida dos que investigavam as razões do genocídio em curso."
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"Por fim, as revelações do dia de hoje mostram o quanto perto a democracia brasileira esteve da ruptura por conta dos desatinos dos que, na época, ocupavam o poder da República", conclui Randolfe Rodrigues.
Para o senador Alessandro Vieira, "a operação de hoje da PF mostra que fui vítima de espionagem criminosa e ataques online praticados por bandidos alojados no poder no governo passado. Isso é típico de governos ditatoriais. O Brasil segue cheio de problemas, mas ao menos do risco de volta da ditadura nos livramos."
Renan Calheiros, por sua vez, afirmou que, "como democrata, lamento e repudio que estruturas do Estado tenham sido criminosamente capturadas para atuar como polícias políticas, com métodos da Gestapo, um pântano repugnante e sem fim. Sigo confiante nas instituições, na apuração, denúncia e julgamento dos culpados."
O senador Omar Aziz ainda não se pronunciou.
Carlos, Flávio e Renan Bolsonaro foram beneficiados por espionagem ilegal
Relatório da Polícia Federal (PF) enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) para desencadear a ação nesta quinta-feira (11) revela que a organização criminosa montada em uma estrutura paralela à Agência Brasileira de Informação - que ficou conhecida como Abin Paralela - atuou diretamente para beneficiar Flávio, Carlos e Jair Renan, filhos de Jair Bolsonaro (PL), em processos na Justiça contra eles.
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"A autoridade policial descortinou a existência de uma organização criminosa, responsável por utilizar, dentre outros, do sistema de inteligência First Mile da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) para monitorar ilegalmente pessoas e autoridades
públicas, que poderiam, em tese, ser opositores aos interesses do "NÚCLEO POLÍTICO" (núcleo que seria o destinatário e o beneficiário do produto ilícito materializado na desinformação produzida pelo "NÚCLEO ESTRUTURA PARALELA", inclusive por meio de difusões em redes sociais), bem como monitorar pessoas em procedimentos investigatórios instaurados contra membros da família do então Presidente da República JAIR MESSIAS BOLSONARO", diz a PF.
A investigação cita, então, que para essas ocasiões foram criados os dossiês "ação clandestina – investigação Renan Bolsonaro", "ação clandestina – investigação Flávio Bolsonaro" e "Senador Alessandro Vieira", referente ao requerimento feito pelo senador do MDB para convocar Carlos a prestar esclarecimentos na CPI da Covid.
Jair Renan
Segundo a PF, a Abin paralela, sob o comando de Alexandre Ramagem, realizou serviço de espionagem e "contrainteligência" para construir provas em favor de Jair Renan em processo sobre tráfico de influência investigado pela própria corporação em 2021.
O inquérito apurava o recebimento de um carro elétrico pelo filho "04" de Bolsonaro para atuar como lobista dentro do governo para empresários de exploração minerária.
Um dos presos nesta quinta-feira, o agente Marcelo de Araújo Bormevet teria atuado diretamente no monitoramento de Allan Lucena, ex-sócio de Jair Renan.
Bormevet deu ordens a Giancarlo Gomes Rodrigues, também preso, para usar o sistema de inteligência First Mile para monitorar Lucena.
Flávio Bolsonaro
Em relação a Flávio Bolsonaro, filho "01" do ex-presidente, a PF afirma que a Abin paralela teria realizado "monitoramento dos auditores da Receita Federal do Brasil, responsáveis pelo RIF – relatório de inteligência fiscal – que deu origem à investigação que apurava o desvio de parte dos salários dos funcionários da ALERJ (“caso da rachadinha”), com o objetivo, inclusive, de "encontrar podres" sobre os mencionados auditores".
A PF cita uma conversa gravada por Ramagem em que Bolsonaro, Augusto Heleno e Flávio falam sobre a ação contra os servidores da Receita.
"A premissa investigativa ainda é corroborada pelo áudio de 01:08 (uma hora e oito minutos) possivelmente gravado pelo Del. ALEXANDRE RAMAGEM no qual o então PRESIDENTE DA REPÚBLICA JAIR BOLSONARO, GSI
GENERAL HELENO e possivelmente advogada do Senador FLAVIO BOLSONARO tratam sobre as supostas irregularidades cometidas pelos auditores da receita federal na confecção do Relatório de Inteligência Fiscal que deu causa à investigação".
Carlos Bolsonaro
Na ação em benefício de Carlos Bolsonaro, a PF mostra a relação explícita entre a Abin Paralela e o Gabinete do Ódio, que teria atuado após Alessandro Vieira pedir a convocação do vereador na CPI da Covid e a quebra de sigilo telefônico, telemático, bancário e fiscal dele.
Após levantar informações sobre o senador, Giancarlo e Bormevet trocam mensagens: "Vamos difundir isto. Pede pra marcar o
CB", diz o policial federal lotado na Abin, com a sigla de Carlos Bolsonaro.
"O militar cedido à ABIN GIANCARLO por meio de seu perfil fake "Verdades Marcelo Augusto" executa uma de suas tarefas na ORCRIM e difundi o material com a devida precaução de registrar o destinatário final beneficiário do produto ilícito da ORCRIM", diz o relatório. "Acho que merece uma Thread marcando o Carlos Bolsonaro...", diz Giancarlo.
Leia a íntegra do relatório da PF enviado a Moraes