Em entrevista à rádio Verdinha, em Fortaleza (CE), na manhã desta quinta-feira (20), o presidente Luis Inácio Lula da Silva dobrou a aposta contra Roberto Campos Neto, economista alçado por Jair Bolsonaro (PL) à presidência do Banco Central, um dia após o Comitê de Política Monetária (Copom) manter a taxa Selic em 10,5%.
Indagado sobre a manutenção da taxa básica de juros, o presidente contestou a chamada "autonomia" da instituição monetária e acusou o conluio de Campos Neto com banqueiros da iniciativa privada, que lucram com a especulação por meio da alta de juros.
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Ao ser indagado sobre a decisão, Lula lembrou que Henrique Meirelles, que esteve à frente do BC em seus dois primeiros mandatos sempre atuou com autonomia, a mesma que ele tem dado a Campos Neto.
"Um presidente da República nunca se mete nas decisões do Copom e do Banco Central. O Meireles tinha autonomia comigo tanto quanto tem esse rapaz de hoje. Só que o Meirelles eu tinha o poder de tirar, como o Fernando Henrique [Cardoso] tirou tantos, como outros presidentes tiraram tantos", lembrou Lula.
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Em seguida, o presidente lembrou a medida de Paulo Guedes e Bolsonaro, que instituíram a chamada autonomia do Banco Central, e partiu para cima de Campos Neto - que também assinou a proposta, cinco dias após ser alçado à Presidência da instituição em 2019.
"Resolveram que era importante colocar alguém que tivesse um Banco Central independente, que tivesse autonomia. Ora, autonomia de quem? Autonomia para servir quem? Autonomia para atender quem?", indagou.
Lula, então, citou a reunião com Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento) em que foi deparado com a informação de que, somente em 2023, o Brasil pagou R$ 790 bilhões em juros da dívida aos banqueiros, além de registrar um rombo de R$ 536 bihões em desonerações fiscais, boa parte delas firmada por Paulo Guedes, no governo Bolsonaro, sem contrapartida dos setores beneficiados.
"E todo vez que a gente fica discutindo corte, a imprensa fala muito: vai aumentar o salário mínimo é gasto, vai aumentar o professor é gasto. E porque não se transforma em gasto a taxa de juros que pagamos?", indagou Lula, mostrando indignação.
Em seguida, Lula expôs quem Campos Neto beneficia com os juros altos.
"Se pegar os investimentos de crédito nesse país você vai perceber que os grandes créditos são feitos pela Caixa Econômica Federal, pelo Banco do Brasil, BNB [Banco do Nordeste] e BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]. Porque os bancos privados eles preferem, em vez de dar crédito, ganhar dinheiro com a alta taxa de juro de 10,5%", revelou o presidente.
Lula afirmou ainda que "foi uma pena" a manutenção da alta taxa de juros pelo Copom "porque quem está perdendo com isso é o Brasil, é o povo brasileiro".
"Porque quanto mais a gente pagar de juros, menos dinheiro se tem pra investir aqui dentro. E isso tem que ser tratado como gasto", disse, reiterando a posição sobre o rentismo do mercado financeiro.
"Não vejo o mercado falar de morador de rua, catador de papel, do desempregado, das pessoas que necessitam do Estado. Quem é que necessita do Estado? É o povo trabalhador, é a classe média, que é quem paga imposto nesse país", emendou.
O presidente ainda citou os R$ 45 bilhões pagos pela Petrobras, uma empresa de controle estatal, aos acionistas minoritários, em outra medida imposta pelo duo Bolsonaro/Guedes, e reiteirou a sua promessa de colocar o "rico no imposto de renda".
"Esses dias fiquei meio nervoso porque pagamos R$ 45 bilhões para acionistas minoritários da Petrobras, que não pagam 1 centavo de imposto de renda. E você, Jéssica [jornalista], depois de trabalhar um mês inteiro no microfone da Verdinha, vai receber seu salário e vem descontado 27,5% de imposto de renda. O trabalhador ganha uma miséria e tem que pagar imposto de renda. E nesse país quem ganha dividendo não paga imposto de renda", disse.
"O que estamos tentando fazer nesse momento histórico do país é elevar um pouco o padrão de vida das pessoas mais humildes para que se transforme num padrão de consumo da classe média, possa ter uma casinha, uma escola melhor, ir ao restaurante com sua família. É só isso que a gente quer. Mas, isso é muito difícil que os que estão em cima não querem que os que estão embaixo subam um degrau na escada", emendou o presidente.
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