O presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Décio Lima, fez coro, na noite desta quarta-feira (19), às críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Banco Central (BC) e ao presidente da instituição, Roberto Campos Neto, pela manutenção da taxa básica de juros (Selic) a elevados 10,5%.
A declaração de Décio Lima sobre o assunto veio logo após a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que definiu os mesmos 10,5% para a Selic, interrompendo uma série iniciada em agosto de 2023 com sete quedas seguidas do índice.
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Segundo o presidente do Sebrae, o BC, sob o comando de Campos Neto, "não serve aos interesses do povo brasileiro" e está "a serviço dos rentistas".
"Dá maneira como está sendo conduzido, o Banco Central não é independente, não serve aos interesses do povo brasileiro, porque está sendo utilizado a serviço dos rentistas ,daqueles que ganham dinheiro, tornando ainda mais difícil a vida do trabalhador e do micro e pequeno empresário", declarou Décio Lima em publicação nas redes sociais.
"A manutenção da Selic nessas bases prejudica não só o governo, que tenta recuperar a economia. Ao manter elevados os juros da dívida pública, o BC atinge também os consumidores e as empresas, principalmente os micro e pequenos negócios, porque o crédito fica mais caro”, acrescentou.
Antes, durante debate promovido pelo jornal Correio Braziliense sobre "A Força do Nordeste na transformação social do país", Décio Lima já havia disparado críticas contra a política de juros do BC.
"O que se espera de um Banco Central autônomo e independente é que ele sirva somente a um senhor, que é o povo brasileiro, e não meia dúzia de rentistas que acumulam riqueza apostando contra o país".
Manutenção da Selic
Em reunião desta quarta-feira (19), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central votou pela manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 10,5% e interrompeu uma série iniciada em agosto de 2023 com sete quedas seguidas do índice. A decisão favorece os interesses do mercado financeiro em detrimento da pressão contrária exercida ao longo da semana pelo Governo Lula, que vem fazendo duras críticas ao Roberto Campos Neto, o presidente da autarquia.
A decisão do Copom foi unânime, o que incluiu os diretores indicados pelo atual governo como Gabriel Galípolo, que é cotado para substituir Campos Neto. "O cenário global incerto e um cenário doméstico marcado pela resiliência na atividade econômica, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas [em relação à meta fiscal] demandando maior cautela", justificou.
A última redução da taxa básica de juros ocorreu em 9 de maio, quando a Selic caiu de 10,75% para 10,50%. A decisão já quebrava uma sequência de seis reduções seguidas em 0,50%.
Os quatro diretores indicados pelo presidente Lula votaram por uma redução maior, de 0,50 ponto percentual. Já os quatro diretores nomeados na gestão Bolsonaro votaram pela redução no ritmo de queda, com 0,25 ponto percentual. Campos Neto, também nomeado na gestão anterior, foi responsável pelo desempate.
Em nota, o Copom justificou a decisão afirmando que os indicadores da atividade econômica e de mercado de trabalho apresentaram "maior dinamismo que o esperado". A inflação também estaria em queda, o que para a receita ultraliberal de Campos Neto representaria uma oportunidade para segurar a taxa básica de juros, que estava em viés de queda.
Dessa vez, a narrativa de que o Brasil vive deflação e está com o setor produtivo aquecido foi hegemônica no Copom. E ainda que a Selic esteja no menor patamar desde fevereiro de 2022 (9,25%), o Brasil continua com a segunda maior taxa de juros reais do mundo, conforme a consultoria MoneYou. O país, com 6,54%, está atrás apenas da Rússia, que ostenta uma taxa de 7,79%.
O Copom é formado pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e outros 8 diretores da autarquia. Já a Selic é o parâmetro básico dos juros praticados no Brasil e influencia outras taxas praticadas, sejam empréstimos, financiamentos ou aplicações financeiras. As reuniões do Copom para revisar a taxa acontecem a cada 45 dias e não têm, necessariamente, a obrigação de aumentá-la ou reduzi-la.
Lula sobe o tom contra Campos Neto
Em entrevista à rádio CBN na última terça-feira (18), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva subiu o tom contra Roberto Campos Neto e disse que o presidente do Banco Central "trabalha muito mais para prejudicar o país que para ajudar", fazendo referência à astronômica taxa de juros (Selic) de 10,5%.
"Nós só temos uma coisa desajustada nesse momento: é o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. O presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar o país, porque não tem explicação a taxa de juros do jeito que está", disparou Lula.