Nessa semana, a Justiça Federal ordenou a remoção de postagens policiais que propagam discurso de ódio em quatro canais do YouTube. A decisão, que visa atender parcialmente aos pedidos do Ministério Público Federal (MPF) e da Defensoria Pública da União (DPU), pede ao Google a retirar esse conteúdo do ar.
Após denúncias do site independente Ponte Jornalismo sobre o conteúdo violento veiculado por policiais em programas de podcast e videocast, a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão do MPF no Rio de Janeiro iniciou uma investigação. As reportagens apontaram irregularidades nos canais do YouTube Copcast, Fala Glauber, Café com a Polícia e Danilsosnider, levando o MPF a abrir um inquérito civil para apurar o caso.
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Os programas envolvidos são:
- Jocimar dos Santos Ramos (“CopCast”);
- Glauber Cortes Mendonça (“FalaGlauberPoscast”);
- Danilo Martins Barboza da Silva (“Danilo Snider”);
- Kauam Pagliarini Felippe (“Kauam Pagliarini”).
Até o momento, o Google e os policiais não responderam às solicitações.
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Um trecho da sentença mostra um dos discursos dos policiais, que, conforme a Justiça, ferem os direitos humanos. "Aí o maluco tipo assim viu a cena, cresceu. Nisso que ele cresceu, aí eu descontrolei. Aí foi agressividade descontrolada. O maluco veio pra cima, eu peguei o maluco e já comecei ‘pau, pau, porrada’ (gesto de soco), o maluco tomando, caindo no chão, eu segurando a cara dele, dando, aí eu já fiquei cego. Aí eu sei que veio uma mulher, veio uma grávida, veio mais gente, eu peguei a mulher e joga a mulher pra lá, e a grávida foi pra lá (...) e a grávida voltou, eu enrolei ela pelo cabelo e tomou (gesto de tapa), voou longe", diz um deles em vídeo.
Em várias entrevistas, agentes proferiram conteúdos com disseminação de discursos de ódio. Entre os vídeos suspensos, encontram-se títulos como “Fiquei sem controle no Bope”, “Cachorro Louco conta como quebrou quatro na favela”, “Eu fui para o tático para matar ladrão”, “O Bope sobe assim para pegar vagabundo de surpresa” e “Matei o dono da favela no primeiro serviço”.
A magistrada Geraldine Vital avaliou essas declarações como desproporcionais em relação ao ideal informativo. “As declarações excedem os limites do regular exercício da liberdade de expressão", disse. Para o procurador regional adjunto dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal (MPF) no Rio de Janeiro, Júlio Araújo, a decisão é fundamental.
“O estímulo à violência policial contido nesses vídeos estigmatiza a população negra, pobre e periférica, merecendo resposta do Estado e atuação da empresa que hospeda os canais”, destaca.