DISTOPIA BRASILEIRA

PL do Estupro: autor diz que não vai recuar e chama opositoras ao projeto de "abortistas" no Fantástico

Programa da Globo vem sendo criticado por dar espaço a Sóstenes Cavalcante, deputado bolsonarista que encabeça o projeto absurdo que equipara aborto ao crime de homicídio

Sóstenes Cavalcante, autor do PL do Estupro, em entrevista ao.Créditos: Reprodução/TV Globo
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O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), bolsonarista fervoroso, membro da bancada evangélica e fundamentalista religioso que encabeça o Projeto de Lei 1904/2024, conhecido como "PL do Estupro", que equipara a interrupção de gestação acima de 22 semanas ao crime de homicídio, desafiou a pressão das ruas e afirmou que não vai recuar em sua proposição. 

Apesar do repúdio ao projeto ter motivado milhares de pessoas a saírem às ruas nos últimos dias em todo o país, Cavalcante disse em entrevista ao programa "Fantástico", da TV Globo, na noite deste domingo (17), que o texto da proposta é "light", omitindo o fato de que, caso aprovado, crianças, adolescentes e mulheres que tenham que se submeter a um aborto para interromper uma gravidez decorrente de estupro serão criminalizadas - com penas maiores que a do próprio estuprador. 

"O cerne do projeto, a defesa do bebê indefeso de 5 meses e meio, eu não vou abrir mão em nenhum ponto", declarou o deputado, que ainda se referiu a opositoras do projeto como "abortistas"

"Então, o projeto é muito light, o projeto não é radical como as abortistas e as feministas estão querendo colocá-lo."

Veja vídeo: 

Críticas ao "Fantástico"

O fato do programa "Fantástico", da TV Globo, ter concedido espaço a Sóstenes Cavalcante para expor seus posicionamentos reacionários e fundamentalistas sobre o PL do Estupro vem gerando críticas nas redes sociais. 

A vereadora Monica Benício (PSOL), do Rio de Janeiro, classificou a entrevista o membro da bancada evangélica como "revoltante". 

"É revoltante, mas não surpreendente, que Arthur Lira e Sóstenes Cavalcante tenham espaço no #Fantástico pra defenderem o PL do Estuprador. Enquanto isso, nas redes e nas ruas, as mulheres estão gritando para serem ouvidas em suas dores e demandas. Será que o jornalismo hegemônico e liberal vai, em algum momento, parar de dar palco pra extrema direita? Nenhuma mulher ou qualquer pessoa que gesta deveria ser punida por abortar. Até quando vamos ter que lutar por nossos corpos, nossa autonomia e nossa liberdade?". 

Confira abaixo outras reações: 

PL do Estupro é repudiado pela sociedade 

Conhecido como PL do Estupro, o Projeto de Lei 1904/2024, que equipara a interrupção de gestação acima de 22 semanas ao crime de homicídio, é rejeitado por 88% das pessoas que votaram na enquete publicada pelo site da Câmara dos Deputados até o início da tarde deste domingo (16). A consulta virtual já conta com mais de 1 milhão de participantes.

Às 14h15 do domingo, 925.157 pessoas haviam registrado "discordar totalmente" da proposta de autoria do deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ). O apoio ao projeto contava com 113.196 internautas. O resultado representa um crescimento na desaprovação em relação ao que era registrado na tarde da quinta-feira (13), quando o índice de rejeição era de 72%.

Além da enquete, o PL do Estupro tem enfrentado protestos nas principais cidades brasileiras. Neste sábado (15), milhares de pessoas ocuparam a Avenida Paulista. As manifestações começaram na quinta-feira e já há atos convocados para segunda-feira (17).

A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) celebrou nas redes sociais a reação popular em relação ao PL 1904/2024. "Pra quem achou que ia destruir o direito das mulheres, meninas e pessoas que gestam ao próprio corpo na surdina: Nós sempre estaremos aqui. Dos fandoms de divas pop aos movimentos feministas, nos agigantando pra que vocês não façam mais vítimas", afirmou a parlamentar. "E vocês continuarão minúsculos", postou, se referindo à extrema direita.

PL é "insanidade", aponta Lula

Neste sábado (15), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se manifestou a respeito do projeto. "Eu, Luiz Inácio, sou contra o aborto. Mas, como o aborto é uma realidade, precisamos tratar como uma questão de saúde pública", disse o presidente. "Eu acho uma insanidade querer punir uma mulher vítima de estupro com uma pena maior que um criminoso que comete o estupro. Tenho certeza que o que já existe na lei garante que a gente aja de forma civilizada nesses casos, tratando com rigor o estuprador e com respeito às vítimas."

Antes, a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, havia divulgado nota sobre o projeto na quinta-feira. “Não podemos revitimizar mais uma vez meninas e mulheres vítimas de um dos crimes mais cruéis contra as mulheres, que é o estupro, impondo ainda mais barreiras ao acesso ao aborto legal”, pontuou. “Hoje a pena para o estuprador é de 6 a 10 anos de prisão, ampliada para até 12 anos caso o crime envolva violência grave. Portanto, a mulher que optar pelo aborto legal em caso de estupro poderá passar na prisão até o dobro do tempo de seu estuprador.”

Depois, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou que o governo se posicionava contra o projeto. "Não conte com o governo para qualquer mudança na legislação atual de aborto no país. Ainda mais um projeto que estabelece, quero repetir, uma pena pra mulher que foi estuprada, pra menina que foi estuprada, que muitas vezes é estuprada sem nem saber o que é aquilo, descobre tardiamente que ficou grávida porque nem sabe o que é gravidez ou às vezes tem que esconder, às vezes do estuprador, que às vezes é um parente que está lá na própria casa", afirmou o ministro.

A socióloga e primeira-dama Janja da Silva também havia falado sobre o PL em postagem publicada na sexta-feira (14). "Os propositores do PL parecem desconhecer as batalhas que mulheres, meninas e suas famílias enfrentam para exercer seu direito ao aborto legal e seguro no Brasil", pontuou. “Isso ataca a dignidade das mulheres e meninas, garantida pela Constituição Cidadã. É um absurdo e retrocede em nossos direitos.”