ATROPELOU O REGIMENTO

VÍDEO: Como Lira aprovou urgência de projeto que equipara aborto a homicídio em 24 segundos

Presidente da Câmara não anunciou qual item estava sendo votado e, em uma espécie de pegadinha, conseguiu aprovar urgência de proposta fundamentalista de forma relâmpago

Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados.Créditos: Mário Agra/Câmara dos Deputados
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O presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), conseguiu aprovar a urgência do PL 1904/2024, que prevê a equiparação do aborto a homicídio caso a gestação já esteja com mais de 22 semanas, em apenas 24 segundos.

Como? Com uma espécie de pegadinha. Segundo parlamentares, Lira atropelou o regimento da Câmara ao colocar o requerimento de urgência para ser votado sem anunciar formalmente qual era o item que estava na pauta. O requerimento, então, foi aprovado de forma simbólica, isto é, sem registro de votos no painel, e com velocidade relâmpago. 

Os fatos se deram da seguinte maneira: Lira convocou a deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ) para falar pela liderança do PSOL "antes de colocarmos o próximo item em votação", dando uma 'piscadela' em direção à bancada do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro e do relator do projeto,  Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), sem anunciar formalmente qual requerimento seria votado. 

Após intervenção da deputada do PSOL, o presidente da Câmara pediu as orientações das bancadas "pelo acordo feito" - mais uma vez sem dizer explicitamente o que estava sendo votado. Poucos segundos depois, então, Lira anunciou que o requerimento de urgência do projeto que criminaliza ainda mais as mulheres que precisam recorrer a um aborto estava aprovado. 

Veja vídeo 

Aborto equiparado a homicídio 

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), pautou e a casa legislativa aprovou nesta quarta-feira (12) o regime de urgência do PL 1904/2024, de autoria do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e outros deputados bolsonaristas, que prevê a equiparação de uma cirurgia de aborto a um homicídio caso a gestação já esteja com mais de 22 semanas. Agora o projeto deve ser votado nas próximas sessões plenárias sem que precise passar por qualquer comissão.

A expectativa é de que o texto seja aprovado com alguma facilidade por ser do interesse ideológico da oposição bolsonarista, que nada de braçada num Congresso Nacional completamente rebaixado pela presença da extrema direita. O projeto prevê penas maiores para a mulher que abortar nessas condições do que para o estuprador que eventualmente a tenha engravidado.

O deputado Eli Borges (PL-TO), autor do requerimento, alega que a Organização Mundial da Saúde teria estabelecido que após 22 semanas o feto teria condições de viver fora do útero da mãe. Logo, na sua opinião, trata-se de um “assassinato”.

O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, publicou em seu perfil no X um longo texto onde desmonta o PL e afirma que o projeto "é uma imoralidade, uma inversão dos valores civilizatórios mais básicos".

Além disso, o ministro também afirma que "é difícil acreditar que a sociedade brasileira, com os inúmeros problemas que tem, está neste momento discutindo se uma mulher estuprada e um estuprador têm o mesmo valor para o direito. Ou pior: se um estuprador pode ser considerado menos criminoso que uma mulher estuprada. Isso é um descalabro, um acinte".

"Em segundo lugar, é um PL vergonhosamente inconstitucional, pois fere o princípio da dignidade da pessoa humana e submete mulheres violentadas a uma indignidade inaceitável, a tratamento discriminatório, o que não é permitido por nenhum parâmetro normativo nacional ou internacional a que o Brasil tenha aderido", continua Almeida.

Em seguida, Silvio Almeida afirma que o PL "empurra a sociedade brasileira para um abismo de violência, de indiferença, de violação institucional dos direitos humanos de meninas e mulheres. Coloca em descrédito ainda maior as instituições de Estado. Que mulher vítima de violência sexual irá buscar apoio do Estado sabendo que pode ser mais penalizada do que quem a violentou? Que mulher irá confiar no sistema de justiça brasileiro quando for estuprada? Este PL acelera a falência moral e jurídica do Estado".

Por fim, Silvio Almeida afirma que a matéria que visa equiparar o aborto ao crime de homicídio é a "materialização jurídica do ódio que parte da sociedade sente em relação às mulheres; é uma lei que promove o ódio contra mulheres. Como pai, como filho, como cidadão, como jurista, como Ministro de Estado eu não posso jamais me conformar com uma proposta nefasta, violenta e que agride as mulheres e beneficia estupradores".

 

 

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