Um pai desembargador jura que não sabia sobre a sociedade do filho advogado com um juiz, mesmo com todos os personagens morando no mesmo estado. Essa história difícil de engolir aconteceu na República de Curitiba em plena Operação Lava Jato.
Em um depoimento prestado ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o desembargador Marcelo Malucelli, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), sediado nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, afirmou desconhecer uma sociedade mantida entre seu filho, o advogado João Malucelli, e Sergio Moro, ex-juiz da Operação Lava Jato.
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A informação é da coluna de Lauro Jardim, do jornal O Globo. Segundo a matéria, essa ligação veio à tona durante uma polêmica decisão tomada por Malucelli em um caso da Lava Jato, operação da qual ele era relator na 8ª Turma do TRF-4, colegiado do qual é presidente. O caso ganhou destaque, já que Moro atuou como juiz titular na primeira instância no Paraná.
As declarações de Malucelli sobre essa sociedade foram dadas à Corregedoria Nacional de Justiça há um ano, durante um depoimento em 1º de junho de 2023, no contexto de uma investigação realizada pela corregedoria na Lava-Jato. O depoimento, que durou cerca de 40 minutos, foi conduzido pelo juiz auxiliar Otávio Port.
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Estranhamente, a história só veio à tona agora. Segundo Malucelli, ele foi pego de surpresa pela revelação da sociedade entre seu filho e Moro. Ele relatou que sua esposa ficou nervosa ao ouvir os rumores sobre a sociedade e que seu filho confirmou a informação, o que gerou surpresa na família. No entanto, ele enfatizou que essa relação não interferiria em seus julgamentos.
A sociedade entre João Malucelli, que namora a filha mais velha de Moro, e o próprio Moro no escritório Wolff & Moro Sociedade de Advogados foi mencionada em representações movidas contra Malucelli por alvos da Lava-Jato, como Rodrigo Tacla Duran, e por Renan Calheiros. O CNJ está investigando se Malucelli agiu para restabelecer uma ordem de prisão contra Tacla Duran, que vive na Espanha.
Malucelli também explicou que seu afastamento dos casos da Lava-Jato ocorreu após a revelação da sociedade mantida pelo filho e o senador. Ele afirmou que fez isso por motivos pessoais relacionados à atuação do juiz Eduardo Appio, que substituiu Moro nos casos da operação.
Tacla Duran e outras polêmicas
Uma das decisões polêmicas tomadas por Marcelo Malucelli relacionou-se ao caso de Rodrigo Tacla Duran, advogado acusado de ser operador financeiro da Odebrecht.
Malucelli ordenou a prisão de Tacla Duran, mesmo este estando na Espanha, o que gerou controvérsia, pois havia uma ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) restringindo o caso ao tribunal superior.
A ordem de prisão emitida por Malucelli ocorreu em meio a uma série de questionamentos sobre a imparcialidade e conduta dos membros da Lava Jato, especialmente em relação aos métodos utilizados durante as investigações e o tratamento dado aos acusados.
Essa situação contribuiu para aumentar o debate público em torno da operação e levou o CNJ a iniciar uma investigação para apurar possíveis irregularidades nos procedimentos relacionados ao caso de Tacla Duran e às decisões judiciais tomadas no âmbito da Lava Jato.
Houve especulações sobre possíveis vínculos de Marcelo Malucelli com interesses políticos, especialmente devido à sua atuação em casos sensíveis, como os relacionados à Lava Jato. Essas suspeitas levantaram dúvidas sobre a imparcialidade do desembargador e a independência do Poder Judiciário.